Opinião


Cai fora, vítima!

E, já que falamos em loucuras, aqui está mais uma. Lembra do caso do ciclista que foi atropelado e teve o braço arrancado? O motorista do carro que o atropelou foi até um riacho próximo e jogou fora o braço - anulando qualquer possibilidade de que houvesse uma tentativa de reimplante.

Bom, o caso está sendo julgado. E a vítima compareceu ao tribunal para assistir ao depoimento do rapaz que o atropelou. Pois não é que o juiz determinou que a vítima deixasse a sala, por estar coagindo o réu com sua presença?

Está mais do que na hora de a imprensa se dedicar à cobertura intensa do que ocorre na Justiça. Quais os salários, quais os horários de trabalho, por que as coisas demoram tanto. Por que a penhora de uma conta bancária é feita online, enquanto a devolução é feita por guia, obrigando advogado e cliente a comparecer ao Fórum - e comparecer mais de uma vez, enquanto semanas e meses decorrem até que a sentença de devolução seja obedecida? Há absurdos como o caso do rapaz que perdeu o braço. E não se discute se foi ou não correta sua expulsão da sala, já que, se o juiz assim o determinou, é porque esta é a lei; mas isso tem de ser tratado como absurdo, de tal modo que se abra caminho para a mudança da lei. E há casos que acabam sendo abafados. Por exemplo, um ministro do Supremo, hoje aposentado, modificou uma sentença de instância inferior e fez duras críticas ao juiz original do caso. Pois não é que o juiz criticado era sua filha?

Ou seja, o ministro não leu o processo; se o lesse, certamente se daria por impedido, pela relação de parentesco com o juiz original. Mas tudo passou batido. Será impossível retomar o velho e bom hábito de ter repórteres setoristas vendo tudo o que mereça ser coberto? Sai caro, claro; mas de que adianta reduzir custos se ao mesmo tempo, se abandona a função básica dos meios de comunicação, que é informar?

Carlos Brickmann (é jornalista)

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