Time do RS perde 5 mandos e leva multa de R$ 30 mil por racismo contra juiz
Jeremias Wernek
Do UOL, em Porto Alegre
Do UOL, em Porto Alegre
- Beto Barata/FolhapressMárcio Chagas (e) se encontrou com Dilma Rousseff, em Brasília, ao mesmo tempo que ocorria julgamento
Dois auditores chegaram a votar pela exclusão do clube de Bento Gonçalves, mas com o empate o artigo do Código Brasileiro de Justiça Desportiva que prevê pena mais branda para o réu foi empregado. O auditor presidente Marcelo de Freitas e Castro votou contra as penas máximas.
Segundo ele, uma decisão extrema poderia abrir um precedente perigoso para eventuais casos futuros. Onde clubes poderiam maquiar atos racistas para retirar pontos e excluir adversários diretos.
A decisão não altera em nada a classificação do Campeonato Gaúcho. Em determinado momento do julgamento, o Esportivo chegou a ser ameaçado com a perda de nove pontos. O que acarretaria em um rebaixamento matemático, com uma rodada de antecedência.
O julgamento ocorreu mesmo sem a presença de Márcio Chagas, que foi até Brasília se encontrar com a presidenta Dilma Rousseff. Mas os auxiliares Marcelo Barison e Antônio Padilha participaram como testemunhas da procuradoria.
A procuradoria pediu perda de nove pontos, três mandos de campo e mais uma multa de R$ 30 mil. E declinou da ideia de solicitar a exclusão do clube do Campeonato Gaúcho, cogitada fortemente logo após os episódios na Serra Gaúcha. Deixando esta punição a cargo da mesa.
A procuradoria usou a súmula, o Boletim de Ocorrência e entrevistas do árbitro para pedir punição "severa e modelo" ao clube mandante. A defesa apresentou vídeos produzidos pelo Esportivo para alegar que não houve registro de injúria racial. E questionou o acesso ao estacionamento onde estava o veículo do árbitro.
O julgamento
Com plenário lotado, a sessão teve uma avalanche de provas. Que foram desde fotos do veículo do árbitro até a súmula da partida, boletim de ocorrência e reprodução de entrevistas em emissoras de rádio e matérias em jornais e sites.
O procurador do TJD, Alberto Franco, reproduziu uma entrevista onde Márcio Chagas chegou a chorar ao relatar os insultos raciais. A defesa, representada por Alexandre Borba, exibiu vídeos produzidos pelo clube para argumentar que não houve registro fonográfico de injúria racial.
A dupla de auxiliares que trabalhou ao lado de Márcio Chagas na partida, Marcelo Barison e Antônio Padilha, confirmou a versão apresentada pela procuradoria. Barison, inclusive, descreveu as reações do árbitro na viagem de volta a Porto Alegre.
"Quando a gente descia para Porto Alegre ele estava extremamente fechado, parecia que estava refletindo sobre o ocorrido. A gente parou para jantar e ele falou que não estava com fome, pediu só uma torrada", completou.
A defesa tentou isolar os autores das injúrias raciais e também contestar o acesso do estacionamento privado da arbitragem. A primeira testemunha a favor do Esportivo foi um funcionário da FGF, apresentado como Alberto, e que era substituto do delegado da partida.
Em seu depoimento ele relatou que não ouviu gritos racistas contra Márcio Chagas. Os auditores do TJD questionaram a relevância do depoimento, já que que o funcionário não consta na súmula da partida. Mas consideraram as palavras.
Depois o advogado do Esportivo chamou o sargento da Brigada Militar, Luís Ricardo, responsável pelo policiamento no gramado do estádio. E ele confirmou os insultos racistas.
"Ouvi os insultos normais do futebol e as palavras macaco e negro ladrão. Ouvi duas vozes diferentes pelo menos", afirmou o sargento. "Falei com o árbitro e ele disse que não daria muita atenção a isto, iria citar em súmula. Mas ali, na hora, não quis registrar queixa", completou.
Na sequência foi chamado o supervisor do Esportivo, Eduardo Schio. Segundo ele, Márcio Chagas não demonstrou abalo pelos gritos antes, durante e depois do jogo. Mas ao chegar no estacionamento e encontrar o carro com avarias chamou testemunhas.
A votação
O relator Paulo Abreu votou pelas penas máximas ao Esportivo. Perda de seis pontos, seis mandos de campo, exclusão do campeonato e mais uma multa de R$ 35 mil. O auditor Paulo Nagesltein baseou seu voto na 'forma técnica e racional' e propôs perda de cinco mandos de campo e mais multa de R$ 30 mil, sem exclusão e nem perda de pontos.
Em seguida o auditor Álvaro Paganotto acompanhou o voto do relator. De acordo com ele, os atos ocorridos em Bento Gonçalves foram um crime contra a humanidade.
"De nada adianta notas oficiais vazias e cínicas. Esta chaga tem que terminar. Esta erva daninha se combate com a lei, que inibe a repetição odiosa", afirmou antes de votar pela exclusão do clube, perda de seis mandos de campo e mais multa de R$ 30 mil.
Por fim, o auditor presidente Marcelo Castro pediu parcimônia e empatou a votação ao não acatar a denúncia com perda de pontos.
"Estamos aqui a julgar a responsabilidade da agremiação. E a meu juízo seria um precedente perigoso, sem identificação dos ofensores, punirmos com a perda de pontos ou ainda mais com a exclusão do clube da competição", determinou.
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