O polêmico programa desafinou já no começo e continuou atravessando o ritmo, com desculpas sempre mal ajambradas quando flagrado nos seus desatinos.
Lançado às pressas para atender à campanha do ex-ministro Alexandre Padilha, candidato de Lula ao governo de São Paulo, logo de cara perdeu o tom. Era para ser rumba pura, mas, chacoalhado por críticas dos médicos brasileiros, teve de ser aberto, ainda que pro forma, para adesão local e de estrangeiros de outras partes do mundo.
Já na primeira leva de importação, a máscara caiu: descobriu-se que, havia meses, os cubanos estavam sendo treinados por agentes brasileiros. O molde do programa sempre foi para cubanos, ou melhor, para a ilha dos irmãos Castro, que fica com 75% do dinheiro que deveria ser pago aos profissionais exportados para o Brasil.
Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde. Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil
Se o salário de R$ 940, as condições de vigilância e o cerceamento das liberdades individuais dos cubanos já eram um escândalo, permitindo traçar paralelos com trabalho escravo, as revelações feitas pelo Jornal Nacional na quinta-feira, ampliaram as suspeitas sobre o Mais Médicos. Ao contrário do que o Ministério da Saúde dizia – inclusive o ministro, no Congresso Nacional –, nenhum país do mundo tem programa similar.
Quem confirmou isso foi a própria Organização Panamericana de Saúde (Opas), intermediadora do contrato com Cuba. Ou seja, para manter o acerto que avilta os médicos cubanos e enriquece os donos da ilha caribenha, o governo Dilma Rousseff mentiu aos brasileiros.
França e Chile têm médicos cubanos, sem qualquer intermediação e sem a cota castrista. A Itália nem mesmo importa cubanos. E Portugal, o único país a usar a Opas, contratou 40 médicos em 2009; hoje tem 12. O Brasil já abriga mais de cinco mil e outros quatro mil devem chegar em breve, com as mesmas tratativas sui-generis.
Um dia depois de o procurador-geral da União, Paulo Henrique Kuhn, afirmar ao JN que o governo brasileiro não podia mexer no salário dos médicos cubanos porque eles assinaram contrato com Cuba, e que isso seria “ingerência”, o ministro Arthur Chioro anunciou aumento para os cubanos. E atribuiu a decisão – “ingerência”- à presidente Dilma.
Não bastassem as mentiras, ao conceder salário de R$ 3 mil aos cubanos enquanto os demais médicos do programa recebem R$ 10 mil, Dilma manteve e avalizou a injustiça.
A população que carece, e muito, de atendimento à saúde, não merece um enredo de tamanho embuste.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas. Atualmente trabalha na agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa'. Escreve aqui aos domingos. Twitter: @maryzaidan, e-mail: maryzaidan@me.com
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