Dilemas e temores do PT
Ruy FabianoEm abril de 2010, quando as pesquisas apontavam José Serra como favorito à Presidência da República, com cerca de 60% das intenções dos votos, o ex-deputado Saulo Queiroz (DEM), especialista na matéria, sentenciou: “Ele não ganha de jeito nenhum”.
Lembre-se que, na mesma ocasião, o presidente do Ibope, Carlos Montenegro, diante dos mesmos números, antevia a derrota de Dilma e a vitória de Serra. “Ela não chega ao segundo turno”, disse ele. Como profeta, perdeu de goleada para Saulo Queiroz.
Mas não se tratava de profecia, expediente que não costuma funcionar em política, mas da “lógica implacável dos números”, conforme explicava Saulo, que maneja suas prospecções com o engenho da estatística e a arte da política.
E é justamente o faro político, a capacidade de perceber o rumo dos ventos, que dá sentindo e consistência aos números. Serra, ainda farto em números, enfrentava um adversário poderoso, que não tardaria a depená-lo: a tendência pela continuidade.
O governo Lula surfava na bonança da economia mundial, o que levava o eleitorado, mesmo ciente de escândalos como o do Mensalão, a minimizá-los. O bolso, sempre o bolso, falava mais alto.
Os analistas, é bem verdade, já anteviam problemas futuros decorrentes da conduta perdulária do governo Lula, que preparava a herança maldita a ser entregue a Dilma. Mas o eleitor vota com a memória e percepção dos últimos seis meses.
O comando de campanha de Serra concebeu, então, uma estratégia desesperada: elogiar Lula e esconder FHC. “Continuidade sem continuísmo”, era a frase-síntese, que não colou. Se era para continuar, o melhor era seguir com a candidata de Lula. Tão logo o eleitorado inteirou-se de quem representava a continuidade, os números não tardaram a inverter-se, como previra Saulo.
Há dias, ele debruçou-se sobre as últimas pesquisas. E avaliou: “Dilma ainda está no páreo, mas já não é a favorita”. E ainda: “Não pode perder mais nenhum ponto”.
Pois é: mas perdeu – e não foi pouco. Em abril, em que Saulo fez suas prospecções, Dilma vencia Aécio por 50% a 31% - 19 pontos de diferença. Na pesquisa do Datafolha desta semana, o placar mudou: Dilma baixou para 47%, enquanto Aécio subiu para 36%. A diferença caiu oito pontos em um mês. Pior: mantém-se a tendência do eleitorado por mudança.
E é aí que está o grande desafio dos petistas: reverter uma tendência que, em período de crise econômica, realimenta-se a si própria. A perspectiva de derrota gera divisões, o que desmotiva a militância. O PT procura reunificar-se no “volta, Lula”, que serve apenas para enfraquecer Dilma e desgastar ainda mais seu governo.
Lula é ainda uma esfinge. Há quem garanta que se prepara para voltar e que tudo o que ocorre está rigorosamente dentro dos seus planos. De fato, há dois anos, ele declarou que só seria candidato se, na época da campanha, Dilma não estivesse competitiva. “Para evitar que um tucano volte a ocupar a Presidência da República, irei para o sacrifício”, proclamou.
Mas há quem diga, dentro do próprio PT, que Lula teme a volta e os desafios nela embutidos: gerir a crise econômica que decorre da própria imprevidência de sua gestão. Nessa hipótese, comprometeria sua biografia presidencial, concluída com um índice de aprovação acima da média. Faz sentido.
Neste momento, os petistas vão jogar todas as fichas em Dilma. Não funcionando e não havendo o “volta Lula”, não se sabe o que ocorrerá. O partido não tem alternativas – e muito menos prazo para construí-las. Terá que se valer do que já dispôs.
Em meio a isso, a oposição terá que mostrar que está à altura do sentimento de mudança do eleitor. A pesquisa do Datafolha indica que algum avanço foi conquistado, mas é preciso bem mais.
Ruy Fabiano é jornalista.
Do blog do Noblat
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