A Europa e a ascensão conservadora
Mauro Santayana
Com
uma plataforma radical de direita, Marine Le Pen, a filha do líder
francês Jean Marie Le Pen, da Frente Nacional, foi a grande vitoriosa
francesa nas eleições europeias, ficando com um de cada quatro votos
válidos. O conservador Grupo do Partido Popular Europeu (PPE) firmou-se
como a maior força das eleições europeias.
O bloco reunindo os
partidos europeus de centro-direita conquistou mais de 200 assentos no
Parlamento Europeu. Os eurocéticos conservadores caíram dos atuais 54
para 44 mandatos, enquanto os eurocéticos radicais, liderados pelo
britânico Ukip, subiram de 31 para 36 representantes, e o bloco de
deputados sem bancada, entre os quais estão também integrantes da
ultra-direita, como da Frente Nacional francesa, cresceu para 38
deputados.
Na Dinamarca, os populistas de direita do Partido do
Povo Dinamarquês (DF) venceram as eleições com 26,7%; no Reino Unido, o
UK Independence Party (Ukip), liderado pelo carismático Nigel Farage,
que defende a saída de seu país da Europa e limitações para a entrada de
imigrantes, obteve quase 30% dos votos; e na Aústria a extrema-direita
do Partido da Liberdade ficou com mais de 20% da preferência dos
eleitores.
Tendo sido forjada pelo encontro, promíscuo e fecundo,
de dezenas de povos e milhões de seres humanos, de diferentes etnias,
culturas e cores, árabes e visigodos, bretões e romanos, celtas e
saxões, gregos e eslavos, a Europa se recusa a nova miscigenação, da
qual poderia sair, talvez, mais forte e renovada para o futuro.
A Europa se recusa a nova miscigenação, da qual poderia sair, talvez, mais forte e renovada
Enfraquecido
e em crise, o continente se deixa contaminar pelo medo do outro, dos
diferentes, daqueles que vivem em outras regiões do mundo. E, como a
cada vez que permitiu que o medo suplantasse a razão, a Europa se
entrega ao ódio, à xenofobia, e ao populismo. Acossada pelo fantasma da
decadência, e vivendo em um mundo no qual sua importância decresce a
olhos vistos, a Europa tenta sair da crise pela via do fascismo.
Em
outros tempos, não tão distantes, em termos históricos, esse caminho só
levou à barbárie, ao genocídio, à destruição e à morte. Hitler – nunca é
demais lembrar – chegou ao poder por meio do voto. Pela escolha
consciente de milhões de pessoas que odiavam, tanto como Marine Le Pen e
seu pai, os judeus, os ciganos, os excluídos, os estrangeiros.
No
pós-guerra, os alemães votaram em Hitler na Alemanha de Weimar, e que o
apoiaram esmagadoramente, até a primeira grande derrota em Stalingrado,
queriam dar a entender que não o haviam feito voluntariamente, como se
todos pudessem, ao mesmo tempo, ter sido enganados e manipulados por um
só homem. Hoje, milhões de europeus estão trilhando o mesmo caminho
daqueles que, com seus braços estendidos para o Fascio e a Suástica,
pavimentaram a rota dos campos de extermínio.
Esperemos que as
consequências de seus votos — em uma Europa na qual a Ucrânia já caiu em
mãos neonazistas — não sejam, para o mundo, tão terríveis quanto o
foram as de Hitler, e que a extrema-direita europeia não venha depois a
negar, no futuro, nem a sua responsabilidade nem as suas escolhas
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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