Ou a Polícia reage com "seriedade" ou...vai levar dedada


Mais de um milhão de pessoas prejudicadas
Dia de caos, protestos e comoção na capital cearense. Após o assassinato do motorista de ônibus, Francisco Erivaldo Matias Marinho, 55 anos, esfaqueado na noite de quarta-feira (28), cerca de mil funcionários do transporte público de Fortaleza paralisaram suas atividades em protesto por falta de segurança nos coletivos. Os sete terminais amanheceram fechados. No Siqueira, população se revoltou contra assaltante. Além do congestionamento provocado no trânsito, muitas pessoas não conseguiram ou tiveram problemas para ir e vir do trabalho.
Na avaliação do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), Dimas Humberto Silva Pereira, o número de usuários que usa os transportes coletivos diariamente é de um milhão e cinquenta pessoas. “No entanto, praticamente toda a cidade foi afetada pela paralisação, tanto quem usa os coletivos como quem utiliza os transportes individuais”, comentou Pereira.
INSEGURANÇA
Em menos de 15 dias, um motorista e três trocadores foram vítimas de crimes dentro dos coletivos. O motorista da linha Parque Santa Maria/ Siqueira, Francisco Erivaldo, mais conhecido como Matias, foi esfaqueado e faleceu após tentativa de assalto na Avenida Osório de Paiva. O cobrador Francisco Valderir Carneiro também foi atingido com dois golpes nas costas e um no braço e segue internado no Instituto José Frota (IJF), sob o risco de ficar paraplégico.
Um motorista, não identificado, amigo do colega falecido, conta que os casos de assaltos são cada vez mais frequentes. Segundo ele, o medo tem prejudicado a realização do seu trabalho e, há alguns dias, foi ameaçado. “A gente convive com esse medo e não pode trabalhar seguro”, relatou.
De acordo com informações do Sindiônibus, somente de janeiro a março deste ano, já foram contabilizados 581 assaltos a ônibus em Fortaleza.
80% DA FROTA PARALISADA
De acordo com informações do vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários no Estado do Ceará (Sintro), Sérgio Barbosa, aproximadamente 80% da frota de ônibus da Capital ficou parada. Motoristas e cobradores da Região Metropolitana, Caucaia e Maracanaú também aderiram à parada por precaução contra represálias.
“Fizemos uma assembleia e votamos que, toda vez que acontecer um ataque a ônibus, a gente vai paralisar a linha e, talvez, todas as linhas. Hoje foi um dia de protesto em pesar ao trabalhador. Nós queremos mais segurança, queremos providências enérgicas. Vamos todos para as garagens e só sairemos quando o último trabalhador sair. A partir de meia-noite, voltamos a circular normalmente”, ressaltou.
CAOS PARA A POPULAÇÃO
Com os sete terminais fechados e as vias interditadas pelos ônibus estacionados, o trânsito ficou complicado para quem trafegava no entorno dos equipamentos. As paradas ficaram lotadas e as vans foram a alternativa. No Terminal da Lagoa, a Cavalaria da Polícia Militar controlou o movimento durante a manhã. Já no do Siqueira, os ânimos foram mais exaltados em virtude de um assalto dentro do estabelecimento. Houve confusão e tumulto após dois assaltantes roubarem o celular de uma mulher. A população, indignada, reagiu e espancou o assaltante. Na Messejana, dez ônibus foram depredados e quatro pessoas detidas. No início da noite de ontem (29), a situação era tranquila nos terminais.
MAIS PROTESTOS
Em virtude à comoção dos trabalhadores de coletivos, outras classes aderiram ao protesto. Entre elas, o Sindicato dos Vigilantes, Sindiodonto, Construção Civil e Sindijustiça, que interditaram a frente da Rodoviária Engenheiro São Tomé, de 9h às 10h. Conforme informações de Luciano Fernandes, diretor de comunicação do Sindicato dos Vigilantes, as paralisações serão constantes até que se consiga um objetivo em comum. “Primeiro, estamos dando atenção à questão da segurança nos transportes e aos trabalhadores rodoviários em campanha salarial. Todos os trabalhadores vêm sofrendo com essa questão da violência e já chegamos ao limite de ficar parados”, enfatizou.
REUNIÃO
O presidente do sindicato patronal, Dimas Humberto Silva Pereira, participou de reunião no início da tarde de ontem, juntamente com representantes do Sintro e o secretário de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Servilho Paiva. Segundo Pereira, na reunião, foi criado um grupo de trabalho para intensificar a inteligência do grupo que já existe para tratar da situação de insegurança nos coletivos, sobretudo, nas áreas identificadas como mais violentas.
MENOR APREENDIDO
No início da tarde de ontem (29), um jovem de treze anos de idade, suspeito de praticar o crime que vitimou o motorista e lesionou o cobrador, foi apreendido no bairro Bom Sucesso e encaminhado para a Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). De acordo com informações do delegado Rudson Rocha, titular do 32º Distrito Policial, no Bom Jardim, ainda existem mais dois suspeitos.
“Já temos a confirmação da participação de mais duas pessoas no crime, um maior de idade e outro menor, mas ainda não podemos oferecer mais detalhes para não atrapalhar a investigação. Ambos são moradores de rua, o que dificulta o trabalho de captura. Mas estamos com nossas equipes empenhadas no sentido de prendê-los”, declarou.
SECRETÁRIO DE SEGURANÇA  AMENIZA A SITUAÇÃO
Sobre a insegurança nos transportes coletivos, Servilho Paiva amenizou a situação, afirmando que já vem definindo as rotas mais perigosas.  O secretário pontuou, ainda, que os ataques aos motoristas e cobradores são fatos mais recentes. “A gente vem trabalhando essa questão da segurança dos coletivos há muito tempo e definindo as rotas mais conflituosas. Esse caso (do motorista assassinado) foi um ponto alto, mas agressões a motoristas e cobradores são mais recentes; e a gente tem feito o dever de casa no sentido de prender, se não, ter tempo para prevenir”.
Para o secretário, é preciso mais tempo para reverter o quadro de insegurança. Na análise de Paiva, o Estado amarga um passivo significativo, necessitando desenvolver ainda mais o trabalho para colher os resultados.  “Essas coisas não acontecem como um passe de mágica. Hoje, está bom e, amanhã, está ruim ou vice-versa. Isso faz parte de uma construção, porque temos uma história, um passivo que precisa ser resolvido. Estamos resolvendo isso em termos de estrutura, de pessoal, de equipamentos, enfim. Toda uma lógica aliada ao trabalho que tem que trazer celeridade aos julgamentos. O papel da polícia vem sendo feito e desenvolvidos os trabalhos que são necessários para se obter resultados mais rápidos”, argumentou.
ANATÁLIA BATISTA E
JÉSSICA FORTES
Da Redação

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