Veteranos preparam-se para deixar sucessores
Herdeiros
na política. Parlamentares da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará
(AL-CE) que deverão deixar a vida pública ou disputar cargos federais
nestas eleições trabalham para deixar sucessores, de olho na manutenção
das cadeiras estaduais e nos espaços de influência e poder que elas
asseguram. Na Assembleia Legislativa, pelo menos sete deputados buscam
segurar as vagas. Para os cientistas políticos, a manutenção de ideias e
poder impede a inserção de novas lideranças, prejudicando a democracia.
Já os parlamentares Eliane Novais (PSB), Ronaldo Martins (PRB), Dedé Texeira (PT), Paulo Facó (PTdoB) e Vanderley Pedrosa (PTB), que disputarão uma vaga na Câmara Federal pelas suas legendas, para assegurar seus votos, também deverão apoiar candidatos em prol da conservação dos espaços no parlamento estadual.
O deputado Augustinho Moreira do PV, que tem dito que não será candidato à reeleição, ao em vez de encarar as urnas, apoiará o correligionário Adail Carneiro (PV) para o cargo de deputado federal.
PREJUÍZO
A tradição de perpetuar os cargos políticos para os indivíduos da mesma família consanguínea, parentes ou mesmo da família política, não é vista de bom grado pelos cientistas políticos. Para a socióloga, professora universitária e cientista política, Carla Michele Quaresma, a transição de cargo é um problema sério no Brasil, haja vista que impede a oxigenação do poder. “A inserção de novas ideias e projetos acabam não tendo espaço, sobretudo, na casa legislativa, que deve ser um lugar privilegiado da discussão política e alternância do poder”, pondera.
De acordo com a estudiosa, os processos eleitorais são marcados pelo clientelismo político. “Via de regra, a gente convive, no Brasil, com os currais eleitorais, fenômeno que não acontecem apenas em cidades pequenas como nos interiores e nos estados nordestinos, mas isso também acontece em grandes cidades brasileiras”, frisa, dando conta de que a perpetuação de uma mesma força política acaba concentrando a hegemonia de um determinado território, tendo como capital simbólico a troca de favores, prestação de algum serviço ou cargos públicos.
Na mesma linha, reverbera o cientista político e professor de sociologia da Universidade de Fortaleza (Unifor), Francisco Moreira, ressalta que as novas lideranças que nascem nos bairros, elas têm uma imensa dificuldade de aflorar e concorrer de maneira igual no processo político, em virtude de não dominarem esse processo de mapeamento dos votos. “A democracia fica prejudicada, porque novos atores políticos ficam quase que impedidos de participar do processo. Isso não quer dizer que surja novas lideranças. Surge, mas dentro de uma grande dificuldade”, realça.
PARLAMENTARES AVALIAM
Atualmente, na Assembleia Legislativa cearense, há vários parlamentares advindos de uma família política, como os deputados Júlio César Filho (PTN), Teo Menezes (sem partido), Mauro Filho (Pros), Fernanda Pessoa (PR) e Ivo Gomes (Pros).
O deputado Júlio César Costa, natural de Maracanaú e mais novo deputado desta legislatura, eleito com cerca de 26 mil votos, afirma que a escolha pela política surgiu, tendo em vista, desde pequeno, ter acompanhado seus pais na política. Júlio César Costa Lima (o pai) foi, por três vezes, prefeito de Maracanaú, e sua mãe, Meire Costa Lima, também passou pelo legislativo. “Concordo, de uma certa forma que, a sucessão na política atrapalha a política, quando ela não tem vocação, quando isto é imposto, sendo a pessoa obrigada a entrar na vida pública por uma relação familiar, o que não se torna saudável para a população e nem para o político”, opinou frisando que, para ele, a significância de uma mandato é uma ferramenta enérgica para tentar amenizar o sofrimento dos cearenses. “Sou pré-candidato a deputado estadual, e agora, a nova disputa falará se o meu trabalho foi eficiente ou não”, pontuou.
Credibilidade
O advogado e empresário Tomás Antônio Albuquerque Filho, atual presidente municipal do PSDB de Fortaleza, é filho do ex-prefeito de Santa Quitéria e da ex-deputada estadual Cândida Figueiredo, e foi deputado estadual em 2006. Já em 2010, pelo PSDB, não se elegeu como deputado federal apesar dos 53.918 votos, ficando assim, na primeira suplência. Ele avalia que a eleição de um sucessor de uma família política demostra a credibilidade de uma vivência na política.
“Tem todo um preconceito em torno disso, mas, na verdade, ao longo dos anos, as pessoas vão vendo a credibilidade e o grau de confiabilidade da família”, diz, avaliando ser um grande preconceito achar que um candidato advindo de uma família política vai estar ocupando um espaço e tirando a oportunidade de outros que vêm do seio de algum movimento social ou segmento profissional, em virtude de que as urnas são ferramentas que regulam tal questão.
Rochana Lyvian
rochana@oestadoce.com.br
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