Ceará à Mesa | Fartes de Sobral
Os fartes foram os primeiros doces oferecidos pelos portugueses aos índios nesta Terra de Vera Cruz. Pero Vaz Caminha relatou o fato ao rei dom Manoel em sua famosa carta. “Deram-lhe de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer quase nada; e, se alguma coisa provaram, logo a lançavam fora”, diz o texto.
O Professor Gilmar de Carvalho(meu amigo), da Universidade Federal do Ceará, em sua incansável atenção às tradições cearenses, apontou os fartes entre os variados sinais do patrimônio da nossa cearensidade. Também Caloca Fernandes, em uma das suas viagens de pesquisa para o seu livro “Viagem Gastronômica através do Brasil”, descobriu a riqueza dos “mimos” trazidos ao Brasil pela frota de Pedro Álvares Cabral.
Esse doce, que conta um pouquinho da história do Brasil, pode hoje ser apreciado em Sobral, através da singela receita da Dona Rita. Ela relata que a receita foi passada por sua madrinha, Semíramis Nascimento. No melhor estilo das narrativas culinárias passadas oralmente de mães para filhas, Dona Rita tenta conservar ainda um certo segredo no preparo dos fartes, embora deixando-nos algumas pistas.
A massa fina e elegante e o recheio de gengibre e castanha de caju credenciam os fartes a assumirem simbolicamente um papel de relevo na gastronomia cearense: a de serem o nosso “petit four”, aqueles mimos presentes em praticamente todas as culturas, servidos para acompanhar o café ou chá, durante as visitas.
Na biblioteca de Nápoles, Itália, a receita é datada de 1600 descreve o doce como uma massa dobrada com amêndoas, canela e cravo, unida pelo miolo de pão. As transformações e substituições ocorreram, em nosso estado, com a entrada das castanhas de caju no lugar das amêndoas, e da farinha de mandioca em substituição ao miolo de pão, além da introdução do coco e do gengibre (de origem moura), e do toque final do contemporâneo açúcar, polvilhado ao final do preparo, que há cinco séculos era a grande vedete nas cortes europeias.
Ingredientes e utensílios:
3 xícaras de farinha de mandioca
2 colheres (sopa) de manteiga
1 pitada de sal
1/2 xícara de água morna
1/2 kg de açúcar
2 xícaras de água
leite grosso de 1 coco
1/2 kg de farinha de mandioca
250 g de castanha de caju moída
1 colher (sopa) de manteiga
gengibre ralado a gosto
leite de 1 coco grande
2 gemas batidas para pincelar
açúcar cristal para polvilhar
Preparo: Para fazer a massa, colocar a farinha numa tigela. Juntar a manteiga, o sal e acrescentar a água, aos poucos, até obter uma massa que se solte das mãos. Embrulhar em filme plástico e reservar.
Numa panela média, adicionar o açúcar, a água e levar ao fogo, mexer sempre até o açúcar se dissolver. Parar de mexer e deixar ferver até obter uma calda.
Tirar a panela do fogo e adicionar o leite dos dois cocos, a farinha, as castanhas de caju, a manteiga e o gengibre ralado. Levar de volta ao fogo brando, mexer sempre até a colher, ao abrir caminho pelo creme, deixar um rastro no fundo da panela. Deixar esfriar.
Abrir a massa com um rolo e recorta-la em círculos com cerca de 10 cm de diâmetro (use um pires de café). Adicionar uma pequena porção do creme sobre cada círculo, feche a massa e cole as beiradas com uma pincelada de gemas. Distribuir os pasteizinhos na assadeira untada e polvilhada.
Levar ao forno pré-aquecido, 200o C, até dourar levemente, 15 minutos aproximadamente.
Tirar do forno e polvilhar com açúcar. Servir depois de frios.
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