Os desembarques
Mauro Santayana
O presidente Barack
Obama, com outros chefes de Estado, participou, ontem, na França, do
septuagésimo aniversário do Desembarque da Normandia, realizado em 6 de
junho de 1944.
Antes disso, na terça-feira, ele visitou a
Polônia, onde fez profissão de fé do compromisso dos EUA com a
“segurança” do Leste europeu, que considerou “sagrada”.
Em
Varsóvia, foi recebido pelo presidente Bronis?aw Komorowski e por
líderes da República Tcheca, Alemanha, Eslováquia, Hungria, Lituânia e
Letônia, com os quais comemorou os 25 anos das primeiras eleições
polonesas, após a queda da URSS.
E se reuniu, também, com o novo
“presidente” da Ucrânia, Petro Poroshenko, escolhido em uma eleição que
não se pode considerar legítima, pelo fato de ter sido boicotada por
milhões de ucranianos do Leste, de origem russa, que não reconhecem o
novo regime instaurado após a queda do presidente Viktor Ianukovich.
Em
1944, os Estados Unidos eram um dos principais países do mundo, e,
talvez, por terem conseguido manter seu território a salvo de ataques —
com a notável exceção de Pearl Harbor — a nação mais poderosa da Terra.
A
sua força, mesmo do ponto de vista econômico, era incontestável, e eles
estavam se preparando para, no mês seguinte, em julho de 1944,
estabelecer, na Conferência de Bretton Woods, as bases para o sistema
financeiro internacional atual, com a fundação do FMI e do Banco
Mundial.
Hoje, principalmente depois da queda do comunismo
na Europa, muita coisa mudou. Os Estados Unidos ainda são a principal
potência militar do planeta. Mas, em uma situação impensável há alguns
anos, sua dívida é a maior do mundo, e a China, prestes a ultrapassá-los
como a principal economia, é o seu maior credor financeiro.
A dívida dos Estados Unidos é a maior do mundo
Para
piorar, os russos abriram mão do comunismo, mas não de seu lugar no
mundo, e continuam seu principal rival militar, com uma força de mísseis
balísticos intercontinentais — que está em processo de modernização —
capaz de destruir o mundo.
Ao desembarcar nas praias da Europa,
com os ingleses e canadenses, há setenta anos, os norte-americanos
estavam movidos por duas razões: impedir que os russos, que já estavam
às portas da Alemanha, conquistassem, sozinhos, toda a Europa, e, junto
com eles, derrotar o nazismo, para preservar a liberdade.
Ao
promover nesta semana o simbólico desembarque no leste da Europa,
posando de líder antirrusso nas fronteiras do país de Putin, o que move
Obama não é a defesa da democracia ou da liberdade mas o desejo de
provocar e enfraquecer uma das poucas nações que podem fazer frente,
junto com a China, aos EUA. E isso em defesa de um sistema decadente,
anacrônico e imperial.
Com a economia estagnada, e afundados em
dívidas cada vez maiores, decorrentes de guerras frustradas, e inúteis,
como as do Afeganistão e a do Iraque — que lhes custaram bilhões de
dólares por semana — os Estados Unidos precisam continuar encenando,
para o mundo, sua liturgia de poder no plano internacional. Mas devem
tomar cuidado para não criar problemas — ou tomar decisões — das quais
possam, como já ocorreu outras vezes, se arrepender mais tarde.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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