Tragédia palestina e a vitória dos "anões diplomáticos" sobre Israel na ONU
Mauro Santayana
O
porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal
Palmor, deve estar achando o máximo ter sido repentinamente elevado,
pela rançosa e entreguista direita latino-americana - como o Sr. Andrés
Oppenheimer - à condição de “superstar”, depois de ter chamado o Brasil
de “anão diplomático” e de ter nos lembrado, com a autoridade moral de
um lagarto, que “desproporcional é perder de 7 x 1”, referindo-se à Copa
do Mundo, e não, matar e ferir mais de 3.000 pessoas e desalojar quase
200.000, para “vingar” um número de vítimas civis que não chegam a
cinco.
Com acesso a drones e a sofisticados satélites de
vigilância norte-americanos, e a compra de espiões em território
“controlado” pelo Hamas – traidores e mercenários existem em todos os
lugares - Israel poderia, se quisesse, capturar ou eliminar, com
facilidade, em poucos meses, os responsáveis pelo lançamento de foguetes
contra seu território, assim como alega contar com eficaz escudo que o
protege da maioria deles.
O governo de Telaviv - e o Mossad - não
o faz porque não quer. Prefere transformar sua resposta em expedições
punitivas não contra os responsáveis pelos projéteis, mas contra todo o
povo palestino, matando e mutilando - como fizeram os nazistas com os
próprios judeus na Segunda Guerra Mundial- milhares de pessoas, apenas
pelo fato de serem palestinos.
Essa atitude, no entanto,
não impediria que surgissem novos militantes dispostos a encarar a
morte, para continuar afirmando – pelo único meio que bélico lhes restou
- que a resistência palestina continua viva.
Do meu ponto de
vista, nesse contexto de cruel surrealismo e interminável violência do
confronto, para chamar a atenção do mundo, os palestinos, principalmente
os que não estão ligados a grupos de inspiração islâmica, deveriam não
comprar mais pólvora, mas tecido.
Milhares e milhares de metros
de pano listrado, como aqueles que eram fabricados por ordem do
KonzentrationslagerInspetorate, e das SS, na Alemanha Nazista, para
vestir entre outros, os prisioneiros judeus dos campos de extermínio.
Os
milhões de palestinos que vivem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza
poderiam - como fez Ghandi na Índia - adotar a não violência, raspar as
suas cabeças, as de suas mulheres e filhos, como raspadas foram as
cabeças dos milhões de judeus que pereceram na Segunda Guerra Mundial,
tatuar em seus braços, com números e caracteres hebraicos, a sua
condição de prisioneiros do Estado de Israel, costurar, no peito de seus
uniformes,o triângulo vermelho e as três faixas da bandeira palestina,
para ser bombardeados ou morrer envoltos na mesma indumentária das
milhões de vítimas que pereceram em lugares como Auschwitz, Treblinka e
Birkenau.
Quem sabe, assim, eles poderiam assumir sua real
condição de prisioneiros, que vivem cercados dentro de campos e de
guetos, por tropas de um governo que não é o seu, e que, em última
instância, controla totalmente o seu destino.
Quem sabe,
despindo-se de suas vestimentas árabes, das barbas e bigodes de seus
homens, dos véus e longos cabelos de suas mulheres,
despersonalizando-se, como os nazistas faziam com seus prisioneiros,
anulando os últimos resquícios de sua individualidade, os palestinos não
poderiam se aproximar mais dos judeus, mostrando-lhes, aos que estão do
outro lado do muro e aos povos do resto do mundo - com imagens
semelhantes às do holocausto – que pertencem à mesma humanidade, que
são, da mesma forma, tão vulneráveis à doença, aos cassetetes, às balas,
ao desespero, à tristeza e à fome, quanto aqueles que agora os estão
bombardeando.
As razões da repentina e grosseira resposta
israelense contra o Brasil - que ressaltou, desde o início, o direito de
Israel a defender-se - devem ser buscadas não no “nanismo” diplomático
brasileiro, mas no do próprio governo sionista.
É óbvio, como disse Yigal Palmor, que no esporte bretão 7 a 1 é um número desproporcional e acachapante.
Já
no seu campo de trabalho - a diplomacia –como mostrou o resultado da
votação do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que aprovou, há três
dias, a investigação das ações israelenses em Gaza, os “anões”
diplomáticos -entre eles o Brasil,que também votou contra a posição
israelense - ganharam por 29 a 1, com maioria de países do BRICS e
latino-americanos. Só houve um voto a favor de Telaviv, justamente o dos
EUA.
Concluindo, se Palmor – que parece falar em nome do governo
israelense, já que até agora sequer foi admoestado - quiser exemplo
matemático ainda mais contundente, bastaria lembrar-lhe que, no covarde
“esporte” de matar seres humanos indefesos – entre eles velhos, mulheres
e crianças – disputado pelo Hamas e a direita sionista israelense, seu
governo está ganhando de goleada, desde o início da crise, pelo brutal -
e desproporcional placar - de quase 300 vítimas palestinas para cada
civil israelense.
Mauro Santayana é jornalista e meu amigo.
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