As melhores redes públicas
Estudo identifica as cidades com gestão do ensino mais eficiente. Entre capitais, Palmas e Teresina se destacam. São Paulo fica entre as pioresPor Antônio Gois*
Ao fim do ensino fundamental, a média das escolas municipais e estaduais no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2011 foi de 4,2 na cidade de São Paulo e de 3,9 em Teresina. A simples comparação desses números do principal indicador de qualidade do MEC pode nos levar a crer que os alunos paulistanos estudam, em geral, em colégios um pouco melhores. Já é um feito digno de nota a capital do Piauí estar tão perto de São Paulo em termos de qualidade do ensino. Porém, um olhar mais sofisticado sobre os dados revela que, na realidade, o que há é uma enorme distância entre as duas redes públicas em favor de Teresina.
Essa conclusão é possível a partir de um estudo dos pesquisadores José Francisco Soares (hoje presidente do Inep, mas na época da pesquisa ainda na UFMG) e Maria Teresa Gonzaga Alves (UFMG). Eles analisaram a eficiência das redes de ensino públicas dentro dos municípios brasileiros. O trabalho parte de um princípio já consagrado na avaliação educacional: o principal fator determinante do desempenho escolar é o nível socioeconômico dos alunos. Em outras palavras, escolas que atendem filhos de pais de maior renda e escolaridade têm uma grande vantagem, que nada têm a ver com a qualidade do trabalho dentro da escola, em relação às demais.
Diante desta evidência tão robusta, os dois pesquisadores confrontaram os dados de aprendizado dos estudantes com um indicador do nível socioeconômico de suas famílias para calcular qual o efeito das escolas no desempenho final. Ao fazer essa comparação, foi possível identificar se as redes públicas apresentavam resultados melhores ou piores do que se esperaria caso o desempenho médio dos seus alunos refletisse perfeitamente somente o nível socioeconômico das famílias.
Nessa comparação, que capta com mais precisão a eficiência da gestão e a qualidade do ensino, as capitais com melhores resultados no ensino fundamental são, pela ordem, Palmas, Teresina, Campo Grande, Fortaleza e Rio de Janeiro, todas com médias finais na Prova Brasil acima do que se esperaria a partir do perfil dos alunos que atendem. No outro extremo, aparecem Recife, Florianópolis, Cuiabá, São Paulo e, por último, Macapá.
Soares e Maria Teresa Alves fizeram esse cálculo também para os demais municípios do país. O melhor é um já bastante conhecido pelo desempenho nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática: Cocal dos Alves (PI). No conjunto, no entanto, as redes públicas mais eficientes estão em cidades mineiras de pequeno porte, que ocupam 91 das 100 melhores posições.
Das cidades de médio porte com bom desempenho, os pesquisadores citam Sobral (CE), Patos de Minas (MG), Conselheiro Lafaiete (MG), Ubá (MG), Muriaé (MG), Sertãozinho (SP), Rio das Ostras (RJ), Nova Friburgo (RJ), Toledo (PR) e Foz do Iguaçu (PR).
Os dados da pesquisa são interessantes também para comparar cidades de perfil semelhante. Teresina e São Luís, por exemplo, têm um número de escolas parecido e são ambas capitais de estados nordestinos de indicadores sociais baixos. No entanto, Teresina consegue fazer seus estudantes mais pobres avançarem mais do que se esperaria apenas pelo nível de renda deles, enquanto em São Luís acontece o oposto.
Os efeitos da pobreza não podem ser minimizados e ela é responsável, em boa parte, pelo mau desempenho de algumas redes. Mas não explica tudo, como provam Soares e Maria Teresa Alves ao identificar gestões mais e menos eficientes no setor público.
*Antônio Gois é jornalista e colunista do GLOBO, especilizado em educação.
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