A gentalha assombra o mundo com um racismo nazi-brasileiro


Suspeita de ebola em africano gera comentários racistas nas redes sociais

Muitos internautas pediram medidas enérgicas nas fronteiras para proibir a entrada de estrangeiros

Marcio Allemand
Rio - O africano Souleymane Bah, de 47 anos, primeiro caso de paciente com suspeita de ebola no Brasil, chegou ao Rio de Janeiro da manhã desta sexta-feira, vindo de Cascavel, no Paraná, onde estava internado numa Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e ficará internado no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que é referência em doenças infecciosas. Com ele, além da suspeita da doença, chegaram vários comentários racistas nas redes sociais.
Na tarde desta sexta-feira, na página do Ministério da Saúde no Facebook, enquanto o ministro Arthur Chioro respondia on-line as dúvidas dos internautas, centenas de comentários eram publicados, muitos deles pedindo que sejam adotadas medidas enérgicas nas fronteiras para proibir a entrada de estrangeiros vindos de países africanos.
Nas redes sociais, muitos casos de racismo foram registrados
Foto:  Reprodução
Foram vários os pedidos para que as autoridades brasileiras fechassem as fronteiras, na tentativa de barrar a doença antes que ela se transforme numa epidemia no país. A resposta do ministro era de que a Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomenda quaisquer medidas que restrinjam o comércio ou o fluxo de pessoas com os países afetados, já que a transmissão de pessoa a pessoa só se dá com o contato direto com os fluidos corporais ou secreções de um paciente infectado.
Já nos perfis das redes sociais, os comentários eram os piores, expondo um racismo latente. Na página Brasileiríssimos, um participante publicou um comentário em que afirmava não ser racista, mas que achava que “este NEGRO que está com Ebola no Rio de Janeiro deveria ser sacrificado”. Numa outra publicação num perfil particular, uma jovem dizia que todos os africanos deveriam morrer porque eles só trazem doenças. No Twitter, um usuário pedia que fossem jogadas três bombas no continente africano, já que fora da África há poucos casos de infectados e que tinha como controlar a doença. Um outro post pedia que matassem logo o africano, pois “melhor morrer um do que morrerem mil”.
Foto:  Arte: O Dia
Suspeito de ebola no Brasil não apresenta sintomas, diz ministro
O ministro da saúde Arthur Chioro disse em coletiva na manhã desta sexta-feira, em Brasília, que o africano de 47 anos, o primeiro suspeito de estar infectado pelo vírus ebola no Brasil, não apresenta sintomas da doença. De acordo com Arthur Chioro, Souleymane Bah chegou a Unidade de Pronto Atendimento de Cascavel, no Paraná, dizendo que havia tido febre no dia anterior, porém quando foi atendido ainda no Sul do país ele não apresentava nenhum dos sintomas da doença.
Segundo o ministro a situação está sob controle, e todos os procedimentos foram realizados no tempo previsto. Porém, a situação tomou esta proporção pelo histórico do paciente que chegou da Guiné, um dos países mais afetados pela doença na África, e por ele ter apresentado febre no 20º dia que saiu da África, limite máximo para o período de incubação da doença.
"[Ele não teve] nem hemorragia, nem diarreia, nem febre, nem vômito. A informação que ele reporta ao médico é que, na quarta-feira, teve febre, tosse e dor de garganta. O médico trabalha com as informações e sintomas que ele consegue detectar na consulta clínica", complementou.
Suspeito de estar contaminado com o ebola, o africano Souleymane Bah, de 47 anos, foi levado na manhã desta sexta para a Fiocruz
Foto:  Severino Silva / Agência O Dia
Arthur Chioro relatou que o africano disse ao médico no Paraná que ele apresentou alguns sintomas do ebola como febre, tosse e dor de garganta. O Ministério da Saúde informou a situação a Organização Mundial da Saúde por volta das 1h11 desta quinta-feira.
"Todos os procedimentos indicados no nosso protocolo foram efetivamente aplicados com muito êxito", explicou.
Na coletiva, o ministro informou ainda que ao todo 64 pessoas tiveram contato com o paciente, sendo três de forma direta — funcionários da UPA — e quatro pessoas que vivem na mesma residência do africano. Arthur disse acreditar que essas pessoas são consideradas "de baixo risco" para a doença, mas farão monitoramento da temperatura uma vez por dia ao longo de 21 dias, à exceção dos profissionais de saúde, que farão duas vezes.
Africano chegou da Guiné ao Brasil no dia 19 de setembro
Foto:  Divulgação / Polícia Federal
O ministro relatou ainda que já foi realizado um exame de malária no africano, onde o resultado deu negativo. E um outro teste para o caso do ebola também já foi coletado no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em Manguinhos, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e está sendo analisado no estado do Pará. O resultado deverá sair em até 24h. Mesmo que este exame dê negativo, o africano passará por outro teste para a confirmação do caso, que será coletado em até 48h.
A unidade no Rio é um centro de referência escolhido pelo Ministério da Saúde para o tratamento de suspeitos da doença no Brasil.
O contágio não ocorre durante o período de incubação, informou o ministério. O vírus só é transmitido por meio do contato com o sangue, tecidos ou fluidos corporais de doentes, ou pelo contato com superfícies e objetos contaminados. Arthur Chioro informou que as pessoas que viajaram com esse caso suspeito ou que entraram em contato com o africano no período que antecede o dia 8, quando os sintomas surgiram, não correm risco de manifestar a doença.
Souleymane Bah, que é comerciante, nasceu no dia 1º de janeiro de 1967, tem o 1º grau completo e, de acordo com documento do Ministério da Justiça, fez o pedido de entrada no Brasil no dia 23 de setembro deste ano. Ele saiu da Guiné, passou pelo Marrocos, pela Argentina e de lá entrou no Brasil com destino a Cascavel.

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