“Pesquisa não projeta resultados futuros”, diz CEO do Ibope
No comando do instituto há 32 anos, Márcia está acostumada com questionamentos sobre o desempenho de pesquisas no pós eleição. Por isso, gosta sempre de lembrar que o Ibope, com seus números, conta histórias sobre as candidaturasSob questionamento, institutos defendem pesquisas
CEO de um dos principais institutos de pesquisa do Brasil, o Ibope, Márcia Cavallari sai em defesa dos resultados apresentados durante a eleição. “O objetivo da pesquisa não é projetar resultados futuros. Portanto, não há que se falar em disparidades”, afirma categoricamente.
No comando do instituto há 32 anos, Márcia está acostumada com questionamentos sobre o desempenho de pesquisas no pós eleição. Por isso, gosta sempre de lembrar que o Ibope, com seus números, conta histórias sobre as candidaturas, acompanha o comportamento do eleitorado, detecta tendências – como mais uma vez aconteceu neste ano, após a entrada de Marina Silva na campanha.
“A pesquisa não é um oráculo, não dita a última palavra, não substitui a eleição. Ao longo das campanhas do primeiro turno, as pesquisas contaram a história de cada uma das campanhas, mostrando o crescimento, queda e viradas das candidaturas”, ressalva.
Veja abaixo a entrevista que ela concedeu ao site.
Congresso em Foco – O chamado “nível de confiança” induz a uma ideia de extrema eficiência, legitimidade. Mas, fixado em 95%, esse percentual não está muito alto, considerados os erros recorrentes?
Márcia Cavallari – O coeficiente de confiança é a probabilidade de que um intervalo, referente a uma amostra, inclua o parâmetro da população. O intervalo de confiança é construído a partir do erro amostral e do coeficiente de confiança. Toda pesquisa realizada através de amostragem faz estimativas dos resultados e o nível de confiança é a probabilidade de que o parâmetro esteja dentro do intervalo de confiança. Sempre há uma probabilidade de que o intervalo de confiança não contenha o verdadeiro parâmetro da população. Esta é uma matéria técnica. O usual é trabalhar com nível de confiança de 95%.
As disparidades entre projeções e resultados abalam a credibilidade do instituto junto ao eleitorado?
O objetivo da pesquisa não é projetar resultados futuros. Portanto, não há que se falar em disparidades. A pesquisa mostra as curvas de tendências das candidaturas. A pesquisa não é um oráculo, não dita a última palavra, não substitui a eleição. Ao longo das campanhas do primeiro turno, as pesquisas contaram a história de cada uma das campanhas, mostrando o crescimento, queda e viradas das candidaturas. Se não fossem as pesquisas, ninguém saberia o que aconteceu ao longo do processo eleitoral.
Há hipótese de adoção de nova metodologia de pesquisas, ou algum trabalho em curso para aperfeiçoar a atual?
Toda eleição é um
O Ibope considera que, com a quantidade e a frequência na divulgação das pesquisas, pode influenciar o resultado dos pleitos?
Não existem estudos conclusivos sobre a influência das pesquisas na decisão do eleitor, mas se sabe que elas são mais uma fonte de informação para o eleitor decidir seu voto. Fica muito difícil saber qual o efeito isolado que as pesquisas têm na decisão de voto do eleitor, uma vez que estão expostos a muitas outras fontes de informação: horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, campanha de rua, matérias que a imprensa faz sobre os candidatos, debates, conversas com familiares, amigos, colegas de trabalho, etc. Além disso, o eleitor pode tomar várias atitudes com base na informação da pesquisa: pode votar em quem está na frente, pode votar em quem está em segundo colocado porque não gosta do primeiro colocado, pode votar branco/nulo, pode escolher aquele que, entre os que estão na frente, mais defende as idéias que o eleitor acredita etc. Não se pode dizer que o efeito, se existir, seja apenas em uma única direção, caso contrário, não aconteceriam as viradas que frequentemente ocorrem nas eleições.
Como o Ibope responde às insinuações de que manipula percentuais, a exemplo de outros institutos?
Todas as pesquisas realizadas pelo Ibope em mais de 72 anos de existência são pautadas em critérios técnicos da ciência estatística. Elas representam a população em estudo, pois todos os grupos sociais e as várias regiões geográficas aparecem na amostra em proporção muito próxima à da população pesquisada. Os resultados das nossas pesquisas refletem fielmente o que encontramos na interlocução com as pessoas que entrevistamos e independem totalmente dos interesses de quem nos contrata. Além do rigor estatístico, a empresa segue as normas ABNT NBR ISO 9001 e ABNT NBR ISO 20252 (esta última é específica para serviços de pesquisas de mercado, opinião e social), tem seus processos certificados pela ABNT e cumpre rigorosamente os códigos de autorregulação e ética da Esomar (associação mundial de profissionais de pesquisa).
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