Jaguar: Tchau, Carvana
Como todo malandro carioca que se preza, Carvana era um tremendo enganador
Rio - Neste ano a Parca exagerou na poda de
grandes cariocas, nascidos ou não no Rio de Janeiro. A maledeta não deu
descanso à foice. Ainda atordoado pela perda de João Ubaldo — sem a sua
crônica, meus domingos nunca mais serão os mesmos —, foi-se agora o
Carvana. Se, numa dessas entrevistas vapt-vupt em moda, me pedissem um
nome que sintetizasse o malandro carioca, não pensaria duas vezes: Hugo
Carvana.
Como todo malandro carioca que se preza, Carvana era um tremendo enganador. Me ocorre logo o verso do samba de Zé Kéti: “Dou duro no baralho pra sobreviver.” Hugo, o cara de ‘Se Segura, Malandro’ e ‘Vai trabalhar, vagabundo’, procurava esconder que, no fundo, era um tremendo trabalhador, estava sempre fazendo projetos, escrevendo roteiros e bolando filmes, enquanto atuava em filmes e no teatro. O espírito carioca, que anda — para usar a palavra da moda — “se desidratando”, tinha nele uma figura emblemática. E não há ninguém no banco para substituí-lo. A rapaziada local já adotou a “balada” dos paulistas, e — sem querer parecer catastrófico — não será surpresa se começarem a falar “ôrra, meu”. Carvana e eu nos conhecemos há mais de 50 anos, se não me falha a memória, nas noitadas no Gôndola, na Aires Saldanha.
Porres homéricos, regados a Cuba Libre. A moda era calça boca de sino, todo mundo cabeludo, menos eu, que já era careca. A gente era feliz e sabia. Tolos, mil vezes tolos, como dizia Ivan Lessa, achávamos que o Brasil ia ter jeito. Os bares foram fechando, o pessoal morreu ou sumiu. Os que sobraram viram que plus ça change, plus c’est la même merde (quanto mais a coisa muda, mais continua a mesma... — em francês fica mais chique). Mas pelo menos a gente se divertiu à beça. A turma da Banda de Ipanema, da qual Carvana foi um dos fundadores, comparecia empeso às filmagens do ‘Bar
Esperança, o último que fecha’. A gente levava bebida e gelo no isopor e
ficava horas no bar cenográfico. Depois que o filme acabou, conseguimos
protelar algumas semanas o desmanche do cenário. Sempre nos encontramos
em bares. O próximo encontro vai ser no Bar Esperança, no novo
endereço.
Como todo malandro carioca que se preza, Carvana era um tremendo enganador. Me ocorre logo o verso do samba de Zé Kéti: “Dou duro no baralho pra sobreviver.” Hugo, o cara de ‘Se Segura, Malandro’ e ‘Vai trabalhar, vagabundo’, procurava esconder que, no fundo, era um tremendo trabalhador, estava sempre fazendo projetos, escrevendo roteiros e bolando filmes, enquanto atuava em filmes e no teatro. O espírito carioca, que anda — para usar a palavra da moda — “se desidratando”, tinha nele uma figura emblemática. E não há ninguém no banco para substituí-lo. A rapaziada local já adotou a “balada” dos paulistas, e — sem querer parecer catastrófico — não será surpresa se começarem a falar “ôrra, meu”. Carvana e eu nos conhecemos há mais de 50 anos, se não me falha a memória, nas noitadas no Gôndola, na Aires Saldanha.
Porres homéricos, regados a Cuba Libre. A moda era calça boca de sino, todo mundo cabeludo, menos eu, que já era careca. A gente era feliz e sabia. Tolos, mil vezes tolos, como dizia Ivan Lessa, achávamos que o Brasil ia ter jeito. Os bares foram fechando, o pessoal morreu ou sumiu. Os que sobraram viram que plus ça change, plus c’est la même merde (quanto mais a coisa muda, mais continua a mesma... — em francês fica mais chique). Mas pelo menos a gente se divertiu à beça. A turma da Banda de Ipanema, da qual Carvana foi um dos fundadores, comparecia em
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