O presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, divulgou neste sábado (11) uma carta aberta
em que apoia a reeleição de Dilma Rousseff (PT) e afirma que seu
partido "traiu a luta" do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos ao
se aliar a Aécio Neves (PSDB). A declaração foi dada pelo pessebista em
seu site pessoal.
O PSB apoiou a candidatura à Presidência de
Marina Silva, que até a morte de Campos era vice, e nesta semana
declarou que apoiaria o tucano no segundo turno após a candidata ficar
em terceiro lugar nas urnas. Neste sábado, Aécio recebeu o apoio formal da família do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente aéreo em agosto deste ano.
A carta
"Mensagem aos militantes do PSB e ao povo brasileiro
A
luta interna no PSB, latente há algum tempo e agora aberta, tem como
cerne a definição do país que queremos e, por consequência, do Partido
que queremos. A querela em torno da nova Executiva e o método patriarcal
de escolha de seu próximo presidente são pretextos para sombrear as
questões essenciais. Tampouco estão em jogo nossas críticas, seja ao
governo Dilma, seja ao PT, seja à atrasada dicotomia PT-PSDB –
denunciada, na campanha, por Eduardo e Marina como do puro e exclusivo
interesse das forças que de fato dominam o país e decidem o poder.
Ao
aliar-se acriticamente à candidatura Aécio Neves, o bloco que hoje
controla o partido, porém, renega compromissos programáticos e
estatutários, suspende o debate sobre o futuro do Brasil, joga no lixo o
legado de seus fundadores – entre os quais me incluo – e menospreza o
árduo esforço de construção de uma resistência de esquerda, socialista e
democrática.
Esse caminhar tortuoso contradiz a
oposição que o Partido sustentou ao longo do período de políticas
neoliberais e desconhece sua própria contribuição nos últimos anos,
quando, sob os governos Lula dirigiu de forma renovadora a política de
ciência e tecnologia do Brasil e, na administração Dilma Rousseff,
ocupou o Ministério da Integração Nacional.
Ao
aliar-se à candidatura Aécio Neves, o PSB traiu a luta de Eduardo
Campos, encampada após sua morte por Marina Silva, no sentido de
enriquecer o debate programático pondo em xeque a nociva e artificial
polarização entre PT e PSDB. A sociedade brasileira, ampla e
multifacetada, não cabe nestas duas agremiações. Por isso mesmo e,
coerentemente, votei, na companhia honrosa de Luiza Erundina, Lídice da
Mata, Antonio Carlos Valadares, Glauber Braga, Joilson Cardoso, Kátia
Born e Bruno da Mata, a favor da liberação dos militantes.
Como
honrar o legado do PSB optando pelo polo mais atrasado? Em momento
crucial para o futuro do país, o debate interno do PSB restringiu-se à
disputa rastaquera dos que buscam sinecuras e recompensas nos desvãos do
Estado. Nas ante-salas de nossa sede em Brasília já se escolhem os
ministros que o PSB ocuparia num eventual governo tucano. A tragédia do
PT e de outros partidos a caminho da descaracterização ideológica não
serviu de lição: nenhuma agremiação política pode prescindir da primazia
do debate programático sério e aprofundado. Quem não aprende com a
História condena-se a errar seguidamente.
Estamos
em face de uma das fontes da crise brasileira: a visão pobre, míope,
curta, dos processos históricos, visão na qual o acessório toma a vez do
principal, o episódico substitui o estrutural, as miragens tomam o
lugar da realidade. Diante da floresta, o medíocre contempla uma ou
outra árvore. Perde a noção do rumo histórico.
Ao
menosprezar seu próprio trajeto, ao ignorar as lições de seus
fundadores – entre eles João Mangabeira, Antônio Houaiss, Jamil Haddad e
Miguel Arraes –, o PSB renunciou à posição que lhe cabia na construção
do socialismo do século XXI, o socialismo democrático, optando pela
covarde rendição ao statu quo. Renunciou à luta pelas reformas que podem
conduzir a sociedade a um patamar condizente com suas legítimas
aspirações.
Qual o papel de um partido socialista no
Brasil de hoje? Não será o de promover a conciliação com o capital em
detrimento do trabalho; não será o de aceitar a pobreza e a exploração
do homem pelo homem como fenômeno natural e irrecorrível; não será o de
desaparelhar o Estado em favor do grande capital, nem renunciar à
soberania e subordinar-se ao capital financeiro que construiu a crise de
2008 e construirá tantas outras quantas sejam necessárias à expansão do
seu domínio, movendo mesmo guerras odientas para atender aos
insaciáveis interesses monopolísticos.
O papel
de um partido socialista no Brasil de hoje é o de impulsionar a
redistribuição da riqueza, alargando as políticas sociais e promovendo a
reforma agrária em larga escala; é o de proteger o patrimônio natural e
cultural; é o de combater todas as formas de atentado à dignidade
humana; é o de extinguir as desigualdades espaciais do desenvolvimento; é
o de alargar as chances para uma juventude prenhe de aspirações; é o de
garantir a segurança do cidadão, em particular aquele em situação de
risco; é o de assegurar, através de tecnologias avançadas, a defesa
militar contra a ganância estrangeira; é o de promover a aproximação com
nossos vizinhos latino-americanos e africanos; é o de prover as
possibilidades de escolher soberanamente suas parcerias internacionais. É
o de aprofundar a democracia.
Como presidente do
PSB, procurei manter-me equidistante das disputas, embora minha opção
fosse publicamente conhecida. Assumi a Presidência do Partido no grave
momento que se sucedeu à tragédia que nos levou Eduardo Campos; conduzi o
Partido durante a honrada campanha de Marina Silva. Anunciados os
números do primeiro turno, ouvi, como magistrado, todas as correntes e
dirigi até o final a reunião da Comissão Executiva que escolheu o
suicídio político-ideológico.
Recebi com bons modos a
visita do candidato escolhido pela nova maioria. Cumprido o papel a que
as circunstâncias me constrangeram, sinto-me livre para lutar pelo
Brasil com o qual os brasileiros sonhamos, convencido de que o apoio à
reeleição da presidente Dilma Rousseff é, neste momento, a única
alternativa para a esquerda socialista e democrática. Sem declinar das
nossas diferenças, que nos colocaram em campanhas distintas no primeiro
turno, o apoio a Dilma representa mais avanços e menos retrocessos, ou
seja, é, nas atuais circunstâncias, a que mais contribui na direção do
resgate de dívidas históricas com seu próprio povo, como também de sua
inserção tão autônoma quanto possível no cenário global.
Denunciamos
a estreiteza do maniqueísmo PT-PSBD, oferecemos nossa alternativa e
fomos derrotados: prevaleceu a dicotomia, e diante dela cumpre optar. E a
opção é clara para quem se mantém fiel aos princípios e à trajetória do
PSB.
O Brasil não pode retroagir.
Convido todos,
dentro e fora do PSB, a atuar comigo em defesa da sociedade brasileira,
para integrar esse histórico movimento em defesa de um país
desenvolvido, democrático e soberano.
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2014.
Roberto Amaral"
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