A
Polícia Federal deflagrou, ontem, a Operação Fidúcia, com o objetivo de
desarticular a organização criminosa que fraudava contratos de
financiamentos em agências bancárias da Caixa Econômica Federal (CEF),
no Ceará. Segundo o delegado chefe da Delegacia de Combate ao Crime
Organizado, Wellington Santiago, o esquema era comandado por empresários
e servidores da CEF, que engendraram um elaborado plano de fraudes e
desvios de dinheiro. O prejuízo inicial foi estimado em R$ 20 milhões,
porém, a PF calcula que pode passar de R$ 100 milhões. “Apenas numa
conta de um dos envolvidos, circulou R$ 99 milhões”, revelou Santiago.
Uma
equipe com 150 policiais federais cumpriram 56 mandados judiciais,
sendo cinco mandados de prisão preventiva, 12 de prisão temporária, 14
de condução coercitiva e 25 de busca e apreensão. Ao todo, 17 pessoas
foram presas e 14 foram conduzidas para prestar depoimentos na
superintendência da Polícia Federal no Ceará. Os envolvidos responderão,
na medida de suas participações, por associação criminosa, uso de
documento falso, corrupção ativa e passiva, estelionato e evasão de
divisa. “Há indícios de que os suspeitos mandaram parte do numerário desviado para o exterior”, informou o delegado.
Construção civil
Conforme
Santiago, o grupo, formado por “empresários bem posicionados no
Estado”, criou diversas empresas de fachadas, a maioria no setor da
construção civil. Na sequência, o grupo falsificava a documentação para
viabilizar a concessão de financiamentos. Os servidores aliciados
manipulavam o processo de concessão de financiamentos e empréstimos,
ignorando normas básicas de segurança e o dever de verificar a
documentação necessária para a concessão deles.
“Para
pedir um empréstimo, tem que apresentar garantias ao banco. Contudo, os
suspeitos apresentavam documentos falsos e conseguiam o financiamento
em diversas linhas de crédito. Dependendo do patamar que era financiado,
havia a necessidade da aprovação de escalões superiores da CEF. Então,
tem envolvimento de gerentes e de servidores com poder maior dentro da
Caixa”, relatou Santiago.
As
investigações também apontaram a existência de um líder da organização
criminosa. Para a PF, a articulação do esquema era comandada por um
empresário, com o apoio de funcionários da CEF. “No grupo, tem pessoas
bem posicionadas no Estado. Mas, essa posição econômica decorre das
fraudes: elas são ricas com dinheiro de corrupção. Entretanto, o
principal beneficiado com o esquema foi preso preventivamente”, afirmou o
delegado.
Investigações
As
investigações começaram em março do ano passado, após auditoria interna
da CEF constatar fraudes na obtenção de financiamentos e empréstimos
bancários. “A própria auditoria da Caixa detectou a fraude, baseada em
documentos falsos e empresas de fachadas e informou à Polícia Federal”,
contou o delegado.
De
acordo com Wellington Santiago, as medidas judiciais objetivam colher
mais indícios sobre a participação de cada um dos membros da organização
criminosa, bem como rastrear e recuperar o dano causado à CEF. Nesse
sentido, a Justiça Federal determinou o bloqueio e indisponibilidade dos
bens dos investigados. “Pelo volume de dinheiro desviado, há
possibilidade de envolvimento de outras pessoas”.
Em tempo
O
nome “Fidúcia” faz referência à modalidade de financiamento utilizado
pela organização criminosa. No entanto, os bens dados fiduciariamente
em garantia aos empréstimos não existiam.
Foram
apreendidos 14 veículos, uma aeronave de pequeno porte, 44 mídias
(computadores, pendrives, celulares), R$ 119.300,00 e US$ 10.216,00.
Além disso, a operação apreendeu joias e vários pássaros da fauna
brasileira, dentre elas uma arara. Entre os carros de luxo, estariam
BMWs do modelo X6, avaliado em mais de R$ 300 mil.
Segundo
o delegado Wellington Santiago, um esquema fraudulento semelhante foi
desmontado no Rio de Janeiro pela Polícia Federal, recentemente.
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