Padre Vieira O padre Antônio Vieira (1608-1697), Missionário da Companhia de Jesus,
dividiu seu coração com Portugal e o Brasil, sendo reconhecido por
muitos como o maior filósofo, teólogo, intelectual e orador
luso-brasileiro de todos os tempos. Além de 200 sermões e mais de 500
cartas, produção reunida em 16 e 3 volumes, respectivamente, na edição
de Coimbra (1925 -1928), redigiu o "Clavis Prophetarum", livro de
profecias inconcluso. O Sermão da Sexagésima, ou do Evangelho, dentre
alguns que tivemos oportunidade de ler, evidencia a forma barroca de sua
linguagem, consubstanciando conceitos religiosos baseados na
escolástica, como também uma consciência pós-renascentista. A
contribuição literária e as atividades do padre Antônio Vieira levaram
em consideração temas relevantes para Portugal e o Brasil, tais como: a
defesa dos cristãos novos (judeus que não eram aceitos pela Inquisição);
oposição rigorosa à Inquisição; a luta diplomática e efetiva contra os
holandeses, visando manter a integridade do território brasileiro,
notadamente, de Pernambuco e Bahia, regiões produtoras de açúcar;
proteção aos índios do Maranhão, que o chamavam de "Paiaçu" (Grande Pai,
em tupi), e aos escravos africanos mantidos, de forma desumana, na
Bahia. Vale destacar que sua crença, típica do sebastianismo, influiu
sobremaneira no seu pensamento filosófico. Ao ler o Sermão da
Sexagésima, lembramo-nos dos Evangelhos de São Lucas, 8, 11, e de São
Mateus, 13, 3: Semen est verbum Dei (A semente é a palavra de Deus) e
Ecce exiit qui seminati seminare (Eis que o semeador saiu a semear). O
mundo está carente de semeadores.
Gonzaga Mota
Professor, ex-governador do Ceará e meu amigo.
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