Fidúcia: Justiça já liberou nove acusados
Dois
dias após a Operação Fidúcia, da Polícia Federal, prender 17 pessoas e
desmontar um esquema que fraudava contratos de financiamentos em
agências bancárias da Caixa Econômica Federal (CEF), nove acusados já
foram liberados entre os dias 25 e 26 de março. O advogado Leandro
Vasques, que defende 11 pessoas supostamente envolvidas na fraude,
afirmou que não há provas contundentes de participação de seus clientes.
Entre eles, o superintendente nacional da Caixa para o Nordeste, Odilon
Pires Soares, e o superintendente da CEF no Ceará, Antônio Carlos
Franci. “Na verdade, o que há é um fogo cruzado de alegações entre
denunciantes e denunciados. Dois funcionários demitidos, o Israel
Batista Ribeiro Júnior e o David Athilla Andrade, foram impulsionados
por vingança. Eles partiram para retaliação e escolheram aquelas pessoas
que abalariam as estruturas da Caixa”, comentou.Segundo o advogado, o gerente geral de agência, Jaime Dias Frota Filho, enviou um e-mail, em julho de 2013, a chefia da Caixa comunicando supostas irregularidades praticadas pelos gerentes Israel Batista e David Athilla. O alerta, informou Vasques, deu início a auditoria interna e culminou na demissão dos dois denunciados. “Temos provas de que o Jaime enviou o e-mail e por causa disso foram instauradas auditorias internas no banco e os gerentes demitidos. A partir daí, o Israel e o David passaram a agir como metralhadoras giratórias, acusando um elenco de pessoas. Agora, não há provas que indiquem o Jaime no esquema, além das alegações e o fato dele ter assinado os documentos que autorizavam os empréstimos. Contudo, ele assinava documentos que já vinham analisados por vários departamentos, o que não impõe a ele a responsabilidade pelos documentos falsos apresentados. Não era função dele a checagem”, argumentou Vasques.
Inexplicável
Na análise do advogado, a acusação contra Odilon Pires Soares é o caso mais inexplicável do inquérito. Para Vasques, o superintendente foi alvo dos funcionários demitidos. “O Odilon não é citado em nenhum tipo de irregularidade. No momento, ele está afastado do banco, mas devido às férias. Assim como Jaime, que está de licença-saúde, devido aos seus problemas de cardiopatia. Os demitidos acusaram os demais servidores sem quaisquer provas ou documento comprovador de suas alegativas, apenas semeando deduções precipitadas. Outro ponto importante é que nem Jaime e nem Odilon tinham qualquer relacionamento com os destinatários dos empréstimos”, apontou o advogado.
Vasques destacou, ainda, que nenhum de seus clientes servidores da Caixa possuía veículos de luxo ou mantinha um padrão de vida mais alto do que o proporcionado pela renda mensal como funcionário da CEF. “A radiografia financeira do Odilon e do Jaime é compatível pela renda recebida mensalmente. Não há qualquer sinal exterior de riqueza. Eles vivem absolutamente compatíveis com seus vencimentos”, assegurou o advogado.
Foragido
Com um mandado de prisão temporário, o superintendente da Caixa no Ceará, Antônio Carlos Franci, não foi localizado no dia da Operação Fidúcia, sendo considerado pela PF como foragido. Franci, conforme Vasques, está no exterior e já constituiu defesa, formada pelo próprio Vasques e o advogado Waldir Xavier. “Ele está no exterior. Contudo, na nossa interpretação ele não pode ser considerado um foragido, pois ele já estava fora do País quando a operação foi deflagrada. Já entramos com um pedido para liberá-lo da prisão”, revelou o advogado.
Empresários
Com relação aos empresários liberados na noite de quarta-feira, André Luís Bastos Praxedes, Flávio Benevides Bomfim e Egberto Bossardi Frota Carneiro, o advogado ressaltou que eles foram vítimas no âmbito dos empréstimos realizados pela Caixa. “Os empresários foram surpreendidos ao descobrirem que os nomes de suas empresas estavam envolvidos em empréstimos que eles desconheciam. O Flávio e o Egberto apresentaram, em agosto de 2014, um pedido de abertura de inquérito para apurar as fraudes, das quais estavam sendo vítimas”.
A reportagem teve acesso ao Requerimento de Instauração de Procedimento Investigativo feito no Ministério Público Federal (MPF) por William Bezerra Segundo, Egberto Bossardi e Flávio Benevides contra Ricardo Carneiro Filho, Ricardo Alves Carneiro, Fernando Hélio Alves Carneiro, Israel Batista e David Athilla. A denúncia indicava possíveis crimes de fraude contra Caixa Econômica Federal, com documentos em nome da empresa Conde Construções Ltda., porém, sem conhecimento dos sócios.
Investigações
As investigações da Operação Fidúcia começaram em março do ano passado, após auditoria interna da CEF constatar fraudes na obtenção de financiamentos e empréstimos bancários. De acordo com Wellington Santiago, delegado chefe da Delegacia de Combate ao Crime Organizado, as medidas judiciais objetivam colher mais indícios sobre a participação de cada um dos membros da organização criminosa, bem como rastrear e recuperar o dano causado à CEF. Nesse sentido, a Justiça Federal determinou o bloqueio e indisponibilidade dos bens dos investigados. “Pelo volume de dinheiro desviado, há possibilidade de envolvimento de outras pessoas”.
Conforme Santiago, o grupo, formado por “empresários bem posicionados no Estado”, criou diversas empresas de fachadas, a maioria no setor da construção civil. Na sequência, o grupo falsificava a documentação para viabilizar a concessão de financiamentos. Os servidores aliciados manipulavam o processo de concessão de financiamentos e empréstimos, ignorando normas básicas de segurança e o dever de verificar a documentação necessária para a concessão deles. Leandro Vasques sustenta que seus clientes permanecerão solícitos para quaisquer esclarecimentos. “O objetivo é reunir mais provas que comprovam suas não participações nos eventos elencados no inquérito.”
Em tempo
Ontem, os gerentes Ana Márcia Cavalcante Nunes e Francisco Evandro Cavalcante Marinho foram liberados. Ana Márcia estava na Delegacia Geral e Evandro na Delegacia de Capturas.
Ainda na noite de ontem, foram liberados Joacy Nogueira de Oliveira e Geovane Silva Oliveira Filho. Na saída, Geovane declarou que é inocente. O advogado dos irmãos Ricardo Alves Carneiro e Fernando Hélio Carneiro deu entrada no pedido de soltura dos suspeitos de liderar o grupo que fraudava a Caixa. Eles estão em prisão preventiva.
A Polícia Federal estimou o prejuízo inicial em R$ 20 milhões, porém, a PF calcula que pode passar de R$ 100 milhões. Durante a operação, foram apreendidos 14 veículos, uma aeronave de pequeno porte, 44 mídias (computadores, pendrives, celulares), R$ 119.300,00 e U$ 10.216,00. Além disso, a operação apreendeu joias e vários pássaros da fauna brasileira, dentre elas uma arara. Entre os carros de luxo, estariam BMWs do modelo X6, avaliado em mais de R$ 300 mil.
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