Opinião

Lula será preso, juízes em greve, professores apanham: é o “novo normal”

Até Lula já admite que será preso, embora seus advogados ainda briguem nos tribunais superiores.
“Eu estou pronto para ser preso”, declara o ex-presidente, favorito absoluto nas pesquisas para 2018, no livro “A Verdade vencerá: O Povo Sabe Por Que me Condenam”, que será lançado nesta sexta-feira em São Paulo.
A prisão de Lula já é dada como fato consumado no país em que tudo agora virou “o novo normal”.
Da mesma forma, juízes federais entram tranquilamente em greve, enquanto professores municipais em São Paulo, também em greve, apanham da polícia na Câmara Municipal, e uma vereadora do PSOL é assassinada na Guerra do Rio.
À medida em que os dias passam, o que antes era considerado absurdo, inverosímel, quase  impossível de acontecer, nem vira mais manchete, torna-se parte da paisagem com a maior naturalidade.
Ninguém mais se choca com nada, ninguém fica indignado: é assim porque assim é, e acabou.
No mesmo livro sobre a sua condenação, Lula fala diante do fato consumado:
“Eu não vou sair do Brasil, eu não vou me esconder em embaixada, eu não vou fugir (…) Vou fazer a sociedade brasileira discutir os meus processos aqui dentro”>
Quem ainda está disposto entre nós a discutir com seriedade qualquer tema, entrar no mérito das questões, examinar provas?
Servem-nos o prato feito, da intervenção militar no Rio ao encontro secreto do investigado Temer com a intocável Cármen Lúcia, a que não aceita pressões, num sábado à tarde na casa dela.
Ministro do governo pede impeachment de ministro do Supremo como se estivesse fazendo um jogo na mega-sena.
Presidente rejeitado pela quase totalidade do eleitorado entra em campanha pela reeleição, candidatos enrolados na Lava Jato posam de vestais, prefeito larga o cargo com apenas 15 meses de mandato para disputar o governo estadual.
São raros os exemplos de quem ainda reage ao “novo normal” para denunciar a anormalidade institucional que estamos vivendo.
No editorial “Greve imoral”, a Folha afirma que “chega a ser difícil acreditar que juízes federais tenham levado adiante a ideia de cruzar os braços nesta quinta-feira (15)”.
Os marajás do serviço público entram em greve porque querem ganhar ainda mais, mesmo fazendo parte do Judiciário mais caro do mundo, como mostram gráficos do editorial: o custo médio mensal de um juiz federal é de R$ 50,9 mil num país em que o salário mínimo não chega a R$ 1 mil e o teto do serviço público é de R$ 33,8 mil.
O Judiciário brasileiro consome 1,3% do PIB, enquanto o da Alemanha gasta a quarta parte disso, apenas 0,32%.
Será por isso a Justiça brasileira mais eficiente e justa do que a da Alemanha?
Por aí se vê que nem tudo depende dos recursos disponíveis, mas do uso que é feito do dinheiro público.
Para fazer o ajuste fiscal, perpretam reformas que tiram direitos dos trabalhadores, mas não se taxam fortunas, lucros e dividendos do 1% mais rico que fica com 50% da renda nacional.
Temer pode dizer que está fazendo o melhor governo da nossa história, e fica por isso mesmo, no máximo o pessoal acha graça e pergunta se ele pirou.
Não tem graça nenhuma o “novo normal”, mas é o que temos para o momento.
Vida que segue.

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