Opinião
NOS CORAÇÕES, SAUDADES E CINZAS
COLUNA CARLOS BRICKMANN
Nosso
panorama de hoje está descrito na esplêndida Marcha da 4ª Feira de
Cinzas, de Carlos Lyra e Vinícius: “pelas ruas o que se vê/ é uma gente
que nem se vê”. Que nem se sorri, nem se beija e se abraça (...) ” O
país do Carnaval ficou triste, ficou chato, só gente querendo tristeza e
prisões.
Lula
preso ou Lula solto? O raciocínio não é político: é de vitória ou
vingança. Lula preso será a alegria de parte da população, feliz de ver
seus desejos atendidos; será a tristeza mortal de outra parte. E as
consequências? Lula preso é um mártir pronto. Se ficar na cadeia,
mártir, com reportagens de jornais internacionais todos os dias; se sair
logo, mártir, e um mártir que com seu exemplo terá vencido tudo e
todos. E que, por favor, nada lhe aconteça na prisão, ou o candidato
dele decola.
Lula
solto é a prova de que vale a pena desafiar juízes, insultá-los, tentar
desmoralizá-los – e esta será a crença não apenas dos adversários, dos
que só se contentariam em vê-lo atrás das grades, algemado e comendo de
marmita; vale também para seus aliados, pois a tese é de que decisão da
Justiça se combate politicamente.
Lei
é lei, acabou-se? O balê de juízes existe, avaliação política existe.
Mas, hoje, pensar é arriscado. É só lembrar que a Marcha citada diz, com
esperança, “porque são tantas coisas azuis”... Haverá quem acuse os
comunistas Lyra e Vinícius de ser coxinhas tucanos hostis ao vermelho.
Tudo certo
O
presidente Michel Temer, num discurso irrepreensível, disse no Fórum
Mundial da Água que o crescimento sustentável está “intimamente ligado”
ao acesso à água. Temer tocou no ponto mais importante de toda essa
questão: sem acesso livre à água, como molhar as mãos necessárias?
O milagre brasileiro
Faz
tempo que não chove em Brasília. Há uns três anos chove abaixo da
média, esvaziando os reservatórios e provocando duro racionamento (ou
melhor, "rodízio” – em toda a área do Distrito Federal. O racionamento
(ou “rodízio”) começou em janeiro do ano passado. Mas a ação do Governo
provocou um milagre: nas áreas onde se realizam as reuniões do Fórum,
foi possível suspender o racionamento, veja só, evitando submeter os
técnicos estrangeiros aos mesmos sofrimentos impostos aos cidadãos
brasilienses. Em resumo, há racionamento a Leste, Oeste, Sul e Norte da
metrópole, mas onde se reúnem as equipes do Fórum Mundial da Água, ali
já não há seca.
Os de sempre
O
prefeito João Dória é o grande vencedor das disputas internas do PSDB:
aconteça o que acontecer, está livre da incômoda atividade de ser
“gestor” de São Paulo.
Vença
ou não as eleições para o Governo paulista, livrou-se da Prefeitura e
daqueles cidadãos chatos que querem ruas limpas, trânsito decente e
serviços mais ou menos aceitáveis. O governador Geraldo Alckmin pensa
ser o novo dono do partido, mas seu trabalho é outro: conduzir o grupo
de intelectuais amigos que se odeiam uns aos outros até uma nova
derrota. Alckmin já desempenhou o mesmo trabalho em 2006, quando
escondeu na campanha o principal nome do PSDB, Fernando Henrique, e
terminou vestindo uma estranha jaqueta com os símbolos de estatais que
prometia não privatizar.
Levou de Lula uma surra de criar bicho: se é para estatizar, Lula é mais confiável que Alckmin.
Cumprindo o ritual
Alckmin
se coloca como pré-candidato no momento em que o seu sobrinho Othon
César Ribeiro é investigado, por ordem do promotor Sílvio Marques, por
suspeita de ter-se beneficiado da concessão de cinco aeroportos no
Interior paulista. O pai de Othon, Adhemar Ribeiro, cunhado de Alckmin,
foi acusado por delatores da Odebrecht de ter obtido R$ 2 milhões
irregulares para a campanha governamental de 2014.
Os novidadeiros
O
caro leitor se lembra do estojo de primeiros socorros no carro? E do
extintor cheio de dispositivos? Tudo pela segurança: como seria possível
guiar seu próprio carro de passeio sem ter tudo bem à mão? Todos esses
produtos essenciais foram dispensados e esquecidos assim que os donos de
automóveis gastou com eles uma barbaridade de tempo e dinheiro.
A
novidade de agora é a troca de placas de todos os veículos do país,
obsoletas, claro, pelas essenciais chapas desenhadas para o Mercosul,
mais feias e sem nenhuma nova função – a não ser custar R$ 260,00 por
carro. As autoridades podem não se preocupar com o cidadão, mas jamais
irão deixar de se preocupar com aquilo que o cidadão carrega no bolso.
Sem exceção
E
não se queixe ao bispo: d. Ronaldo Ribeiro, 61, foi preso pela Polícia
por suspeita de corrupção na diocese de Formosa, Goiás, a 80 km de
Brasília. Até na Igreja Católica!
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