Em decisão, Moraes cita argumentos de Mello sobre "limitações" à liberdade
O ministro Alexandre de Moraes, que havia determinado a suspensão de reportagens veiculadas pelos sites Crusoé e O Antagonista Imagem: Lucio Tavora/Estadão Conteúdo
Celso de Mello, ministro do STF Imagem: Rosinei Coutinho-21.fev.2019/STFMesmo sem mencionar diretamente a ordem do ministro Moraes, Mello criticou a prática da censura, classificada por ele como "perversão da ética do direito".Na
decisão de hoje, Moraes recorre a análise feita pelo próprio Mello
sobre a necessidade de limites à liberdade de expressão. O trecho foi
retirado de um voto proferido por Mello em uma sessão do STF do dia 14
de março. "Trata-se de inquérito (...) para o qual fui designado
para condução, considerando a existência de notícias fraudulentas (fake
news), denunciações caluniosas, ameaças e infrações (...) que atingem a
honorabilidade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus
membros e familiares, extrapolando a liberdade de expressão, como
ressaltado pelo Decano desta CORTE, Ministro CELSO DE MELLO", escreveu
Moraes. No trecho incluído por Moraes em sua decisão, o decano
afirma que a liberdade de expressão "não se reveste de caráter
absoluto", pois sofre "limitações" que, baseadas na Constituição e em
pactos internacionais de que o Brasil é signatário, "deslegitimam o
discurso insultuoso, moralmente ofensivo ou impregnado de ódio". "O
abuso da liberdade de expressão constitui perversão moral e jurídica da
própria ideia que, no regime democrático, consagra o direito do cidadão
ao exercício das prerrogativas fundamentais de criticar, ainda que
duramente, e de externar, mesmo que acerbamente e com contundência, suas
convicções e sentimentos!", continua o decano no trecho transcrito por
Moraes.
O presidente do STF, Dias Toffoli Imagem: Estadão Conteúdo (17.abr.2019)Na
mensagem divulgada hoje mais cedo, no entanto, Mello defendeu que
eventuais abusos da liberdade de expressão sejam responsabilizados por
meio de processos judiciais "regularmente instaurados", em que o
jornalista ou o órgão de imprensa tenham acesso "sem restrições" ao
direito de defesa."A censura, qualquer tipo de censura, mesmo
aquela ordenada pelo Poder Judiciário, mostra-se prática ilegítima,
autocrática e essencialmente incompatível com o regime das liberdades
fundamentais consagrado pela Constituição da República", afirmou o
decano.
Advogado vê decisão como "vitória da liberdade"
André Marsiglia Santos, advogado da revista Crusoé e do site O Antagonista, disse ao UOL considerar a decisão de Moraes uma "importante vitória da liberdade de imprensa e de expressão". "Creio
que tenha sido uma atitude de bom senso do ministro e que devolve ao
Supremo a sua vocação de guardião da Constituição", afirmou. Segundo
ele, a defesa espera que o inquérito seja arquivado. "Ao nosso ver, o
que houve foi de fato uma censura --e, como toda censura, ela não
deveria ter acontecido", pontuou. Do UOL.com.br
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