Caminhão desembestado: Nestes últimos dias, o
presidente assinou, anunciou e tuitou uma grande lista de retrocessos. Como
escreveu Vinícius
Torres Freire, “Jair Bolsonaro faz fama de que é um
caminhão desembestado, que se move por caprichos, pinimbas e impulsos na
estrada da demagogia”. A seguir o que de mais importante foi publicado na
mídia no que se refere a questões ambientais e climáticas.
Multas ambientais: Ao decretar uma mudança na regra
das multas ambientais, o governo sinalizou que, na prática, estas correm
sério risco de desaparecimento. Quando autuada, a empresa ou pessoa terá a
possibilidade de recorrer a uma comissão de conciliação que, da maneira como
vem sendo anunciada, dificilmente terá agenda disponível. Os autuados também
poderão se comprometer a investir o dinheiro da multa, com um belo desconto,
em projetos ambientais da sua escolha. O decreto não define como isto será
monitorado ou se será necessária a comprovação dos gastos. E ainda será
possível recorrer junto ao Ibama. Segundo Mônica
Bergamo, um levantamento feito no ministério do meio ambiente dá conta
que apenas 0,06% das multas aplicadas desde 2012 foram pagas. O Observatório
do Clima, o Estadão, o Greenpeace e o canal
do Senado trazem
mais informações.
Revogaço: Foram extintos por decreto mais de 1.000
comitês, comissões e colegiados criados por decretos ou peças regulatórias
menores. Entre eles, o Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima. O decreto não
inclui o Conama, por este ter sido criado por lei. Os ministros responsáveis
pelos órgãos finados têm até o final de maio para justificar sua continuidade
e propor sua composição. O decreto fechou as portas à participação da
sociedade civil. Em tuíte, Bolsonaro reclamou dos custos das reuniões dessas
instâncias, e exemplificou com um encontro
de Povos Indígenas que levará para Brasília cerca de 10 mil
pessoas: "quem vai pagar a conta de índios que vêm para cá de ônibus, de
carro particular, que muitos deles dirigem, de avião, hospedagem em hotel
etc. é o contribuinte”. Só que não. Sonia Guajajara, da Apib (Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil), explicou que o encontro é custeado pela
organização que pede doações de mantimentos e milhas de companhias aéreas
para ajudar no custo das viagens dos indígenas que moram em locais afastados.
O Eco e o Observatório
do Clima comentaram o Revogaço, e o deputado
Paulo Pimenta apresentou um projeto de lei revogando o
Revogaço.
Renca: na inauguração do novo terminal de passageiros de Macapá,
Bolsonaro disse que abrirá a Renca - e outras terras - para a mineração. No
passado, a forte polêmica gerada pelo anúncio de abertura da reserva mineral
feito por Temer levou o então presidente a recuar depois de uma troca de
tuítes com a uber-model Giselle Bündchen. Ignorando a reação da
sociedade, Bolsonaro disse: “Vamos usar as riquezas que Deus nos deu para o
bem-estar da nossa população”. Aparentemente, para ele, a floresta, a
biodiversidade, as culturas tradicionais ou não são “riquezas”, ou não fazem
parte das oferendas dadas por Deus aos brasileiros. O Estadão e a Folha
escreveram sobre o anúncio.
Queima de equipamentos: Bolsonaro proibiu os agentes do
Ibama de queimar equipamentos apreendidos em uma operação contra o roubo de
madeireira no sul do Pará. Fabiano
Maisonnave escreve na Folha que, em 98% dos casos, os equipamentos são
apreendidos e usados pelo órgão em outras operações. Os agentes só queimam e
destroem equipamentos quando não há meio de removê-los. Deixar os
equipamentos intactos é convite ao recomeço quase imediato da atividade
ilegal. Será que Moro desistiu do combate ao crime organizado?
Funrural: Bolsonaro deve enviar ao Congresso a anistia
ao Funrural. Segundo a Receita, o projeto de lei dará um presente
à bancada ruralista que pode chegar a R$ 40 bilhões.
Na semana passada, o governo federal e as associações de produtores rurais
conseguiram prorrogar
um desconto no ICMS que incide sobre insumos
agropecuários. Como este é um imposto estadual, seus cofres deixarão de
arrecadar R$ 40 bilhões este ano. Assim, o setor que se diz pop pode ganhar
de presente do contribuinte um desconto que pode chegar a R$ 80 bilhões. Cada
dia fica mais difícil enxergar como este setor beneficia o país. Comentando
todos estes bilhões, Leonardo
Sakamoto escreveu: “o presidente terá tanta moral para defender a
Reforma da Previdência quanto para criticar o combate à pirataria depois que
se deixou fotografar vestindo uma camisa falsificada do Palmeiras em uma
reunião ministerial”. Não que o presidente pareça estar muito preocupado com
sua moral.
Personalidade do Ano, ma non troppo: No final
do ano passado, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos marcou para ontem
uma cerimônia no Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque, para a
entrega de um prêmio à “Personalidade do Ano”. E há pouco anunciou que um dos
premiados seria Bolsonaro. O anúncio fez com que, desde a semana passada, o
Museu sofresse uma forte pressão para o cancelamento da cerimônia. O prefeito
de Nova York, Bill de Blasio, disse que Bolsonaro “é perigoso não só por
causa de suas posições abertamente homofóbicas e racistas, mas porque ele é,
infelizmente, a pessoa com a maior capacidade para definir o acontecerá com a
Amazônia no futuro, e se a Amazônia for destruída, uma vez que ela é parte do
nosso ecossistema global, todos nós estaremos em perigo”. O UOL, o Estadão, a Folha deram a
matéria por aqui, enquanto que o New York
Times, o The
Atlantic e o Grist deram
matérias lá fora.
|
Opiniões
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário