Teste mostra defeito em inseticida da dengue e governo desiste de usá-lo
Conforme a Folha de S. Paulo divulgou na última terça (28), o ministério havia solicitado, no início deste ano, estudos para tentar reaproveitar o inseticida vencido em meio ao avanço de casos de dengue no país.
A medida, no entanto, era vista com ressalva pelos estados, que rejeitaram o produto porque ele empedra e estraga as máquinas que fazem o “fumacê”.
Documento da gestão anterior no ministério não recomendava a extensão do prazo, por considerar que os lotes estavam impróprios.

Reprodução
“Esses 300 mil litros estão no depósito do ministério. Coletamos novamente amostras do material para avaliar a qualidade e seria realizada uma discussão com a Anvisa da possibilidade ou não, de acordo com esses resultados, de reavaliação do prazo desses inseticidas. Os resultados atuais demonstram que todas as amostras não apresentam qualidade satisfatória”, afirmou o coordenador do programa de dengue do ministério, Rodrigo Said.
Os produtos foram entregues pela Bayer, que nega os problemas no produto e os atribui a questões de armazenamento -o que, por sua vez, é refutado por secretarias estaduais de saúde.
A medida representa um novo capítulo de um problema que se arrasta internamente desde 2017, quando os primeiros lotes de uma compra de 1,6 milhão de litros do inseticida malathion começaram a ser entregues.
O atual secretário de vigilância em saúde, Wanderson Oliveira, disse que vai esperar a decisão da assessoria jurídica para definir que estratégias serão adotadas.
“Cabe agora à Justiça nos dizer como se deve proceder”, afirmou ele, que questiona algumas medidas das gestões anteriores.
“Sem fazer juízo de valor, o questionamento que temos é por que se recebeu 1 milhão de litros de inseticida simultaneamente.
Se recebo 1 milhão de uma vez só, tudo vai perder [a validade] ao mesmo tempo, e é o que aconteceu. Isso já foi para a corregedoria do ministério, a quem compete investigar”, disse.
De acordo com Oliveira, até que haja solução sobre uma possível troca dos 380 mil litros, a pasta deve distribuir aos estados que precisarem cerca de 105 mil litros que a Bayer já aceitou trocar. O material está previsto para chegar do exterior neste mês.
AVANÇO DA DENGUE
Os resultados dos testes de laboratório foram anunciados em reunião na última quinta-feira (30) com gestores estaduais e municipais de saúde, após a divulgação da reportagem da Folha de S. Paulo sobre o plano do ministério de estender a validade dos produtos com problemas.
No encontro, secretários de saúde questionaram o atraso em adotar ações e disseram que o problema pode ter prejudicado o controle dos mosquitos da dengue.
Em 2019, após dois anos em queda, o país já registra 767 mil casos prováveis da doença, segundo novos dados do Ministério da Saúde de janeiro até 11 de maio. O total equivale a um aumento de 432% em relação ao ano anterior. No mesmo período, também já foram confirmadas 222 mortes.
O coordenador do programa de combate à dengue do ministério, Rodrigo Said, nega que se possa falar em uma epidemia no país. A estimativa, porém, é que um terço das regiões de saúde do país estejam hoje nesse cenário.
“Em 2016, teve uma distribuição de casos mais uniforme. Agora, o patamar está localizado em algumas regiões. Não posso falar em epidemia nacional, mas sim em epidemias em algumas áreas. Está mais concentrado”, diz.
Segundo Said, a pasta finaliza um levantamento do total de inseticidas vencidos em depósitos dos estados, os quais devem ser trocados por novos produtos.
Além da definição sobre uma possível troca, o ministério vive outro impasse: o fim do prazo recomendado para utilização do malathion -em geral, recomenda-se que os tipos de produto aplicado variem a cada cinco anos, para evitar que o mosquito adquira resistência. No caso do malathion, esse prazo está previsto para encerrar neste ano.
OUTRO LADO
Em nota , a Bayer afirmou que as alegações de que o produto, chamado comercialmente de Komvektor 440EW, empedra e estraga máquinas “não indicam defeito e inadequação”.
“O Komvektor tem por natureza aumentar o seu grau de viscosidade e decantar quando não utilizado por certo tempo. Antes de utilizar o produto, cumpria aos responsáveis pela sua aplicação agitar e misturar de forma a obter a consistência adequada.
“A empresa destacou que os lotes entregues em 2016 e 2017 foram “recebidos, testados e aceitos pelo Ministério da Saúde sem ressalvas” e sustentou que houve falhas no armazenamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário