Coluna
Josias de Souza
Bolsonaro precisa fechar a sua fábrica de intrigas
O
Palácio do Planalto sempre foi uma fábrica de intrigas. O que distingue
o governo atual dos demais é que o motor da engrenagem que produz as
desavenças funciona no gabinete presidencial. As crises saem da sala de Jair Bolsonaro
maiores do que entram. E os principais fornecedores do veneno para a
fabricação de discórdia são os filhos do presidente, sobretudo Carlos
Bolsonaro, e Olavo de Carvalho, polemista de estimação da família real.
Animado
com as últimas mexidas que promoveu na equipe de ministros, Bolsonaro
celebra o fato de o Planalto ter ficado "completamente militarizado". Na
aparência, a estrutura da Presidência ficou mais lógica com a chegada
do general Braga Netto ao Gabinete Civil. Atribuiu-se ao general a
tarefa de coordenar as atividades dos demais ministérios. Mas para que a
nova engrenagem funcione adequadamente, será necessário adotar uma
providência que não depende de nenhum general. É preciso desativar a
usina de intrigas que funciona sob Bolsonaro. Isso é algo quer só o
capitão pode fazer.
Bolsonaro
mexe na equipe para consertar coisas que ele estragou. Foi o presidente
quem transformou a Casa Civil num asterisco oco. No primeiro ano de
governo, Bolsonaro esvaziou Onyx Lorenzoni, transferindo suas
atribuições para Gustavo Bebianno e o general Carlos Alberto Santos
Cruz. Depois, deu sobrevida à ineficiência de Onyx, demitindo Bebianno e
Santos Cruz em episódios nos quais a intriga e o temperamento
prevaleceram sobre o desempenho dos demitidos.
Se
não tiverem voz e espaço para trabalhar os generais submetidos às
ordens do capitão tendem virar apenas novas demissões esperando na fila
para acontecer. Há sinais animadores. Bolsonaro voltou a energizar o
vice Hamilton Mourão, atribuindo-lhe missão na área ambiental. E começou
a desligar da tomada auxiliares olavistas. Mas vai levar algum tempo
para que se descubra como Bolsonaro pretende administrar o seu
serpentário e até onde está disposto a deixar que o veneno escorra.
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