Dados indicam freada na economia em dezembro e reduzem previsões para 2020
Conhecidos
os números da produção em dezembro, os sinais são de que a economia deu
uma freada no último mês de 2019, reduzindo o ritmo de crescimento que
exibiu no terceiro trimestre. Janeiro começou com indicadores
antecedentes apontando em direções divergentes. A expedição de papelão
ondulado fechou o mês em alta e a venda de cimento, em baixa.
Esse
quadro ainda não permite traçar uma trajetória definitiva para o ritmo
da atividade econômica em 2020. Mas há indicações de que as projeções
para a expansão da economia, nem bem o novo ano começou, já estão
passando por revisões baixistas. Aquelas estimativas mais otimistas, de
crescimento acima de 2,5%, estão sendo abandonadas.
O resultado do IBC-Br
(Índice de Atividade Econômica do Banco Central) de dezembro, fechando o
número de 2019, divulgado nesta sexta-feira (14), traz um sinal dessa
redução na marcha econômica. O indicador mostrou um avanço de apenas
0,89% no ano passado, com recuo de 0,27%, na comparação de dezembro com
novembro.
Criado pelo BC para
ajudar em periodicidade mensal o acompanhamento do ritmo de evolução da
economia, o IBC-Br, no curto prazo, não reproduz os movimentos completos
da atividade econômica, captados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), trimestralmente, no cálculo do PIB (Produto
Interno Bruto). Mas, sobretudo em prazo mais longo, costuma ser uma boa
aproximação da realidade. Até aqui, as previsões para o PIB de 2019
estão em torno de uma expansão de 1,1%, inferior aos 1,3% de 2017 e
2018.
Com números modestos em
2019 e resultados abaixo dos esperados em dezembro, a produção
industrial, o comércio e os serviços, segmentos que compõem o IBC-Br, já
haviam antecipado um breque na trajetória da atividade, na virada do
calendário. Esta foi estimulada, no terceiro trimestre, pela liberação
de recursos do FGTS, mas o efeito na aceleração da demanda foi de fôlego
curto.
A primeira consequência
dessa desaceleração, ainda que venha a ser pontual, é o de reduzir o
empuxo transmitido pela economia do fim de 2019 para 2020. Com base na
melhora dos indicadores, no terceiro trimestre, as estimativas para o
crescimento neste novo ano contavam com um "carregamento" de 1%. Ou
seja, se tudo se mantivesse como estava em fins do ano passado, a
economia em 2020 avançaria pelo menos 1%. Agora, os cálculos mostram que
o "carregamento" de um ano para o outro tende a ser nulo.
Fatores
externos e internos se combinam para apontar tendência menos otimista
para a trajetória da atividade. Do lado externo, a maior possibilidade
de freio deriva dos desdobramentos da epidemia do coronavírus.
Incertezas quanto à duração e amplitude do contágio se somam ao
inevitável breque na economia da China, epicentro do problema, pelo
menos no curto prazo.
Não há
mais muitas dúvidas de que o comércio internacional será atingido, com
as restrições impostas à circulação de pessoas e mercadorias, na segunda
maior economia do mundo. O Brasil, grande fornecedor de commodities
agrícolas e metálicas para a China, não terá como escapar.
Com
base nos impactos do coronavírus, o banco global UBS revisou sua
estimativa de crescimento da economia brasileira, em 2019, de 2,5% para
2,1%. Também o banco de investimento JP Morgan cortou sua projeção para
1,8%.
No boletim Focus, em que
o BC organiza previsões de analistas do mercado financeiro, a
perspectiva para o PIB, neste ano, se mantém em 2,3%, mas não será
surpresa se foram feitas novas revisões para baixo. Embora ainda não
anunciadas, cortes nas projeções de crescimento apontam para uma
convergência em torno de um teto de 2% este ano.
Além
dos efeitos do coronavírus na economia global, afetando a atividade no
Brasil, fatores internos também podem contribuir para reduzir o impulso
da atividade. São, por exemplo, incertezas e desconfianças que se
refletem em hesitação nas decisões de investimento.
Nos cálculos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o total de investimentos
na economia brasileira recuou 2% entre novembro e dezembro e caiu 2,7%,
no quarto trimestre de 2019. O fato de que, no acumulado em 12 meses,
os investimentos tenham registrado alta de 2,1%, só reforça a ideia de
que o ritmo da atividade econômica ficou mais lento no fim do ano.
Especificamente
no caso de máquinas e equipamentos, ocorreu uma verdadeira paradeira no
fim do ano. Embora o consumo de máquinas tenha avançado 3,1% em 2019,
em dezembro, na comparação com novembro, a retração foi de 7%, com queda
de 9% na produção interna e 7,7%, nas importações.
Favorecidos
em teoria pelos juros básicas em baixa inédita e a alta na taxa de
câmbio, os investimentos não estão reagindo como se poderia esperar.
Para José Francisco Lima Gonçalves, professor da FEA-USP (Faculdade de
Economia e Administração da Universidade de São Paulo) e
economista-chefe do Banco Fator, "estamos aprendendo com os juros baixos
e uma das lições é a de que o investimento responde a juros, mas não só
a juros".
Segundo o
economista, a ociosidade ainda muito elevada, incluindo a existente no
mercado de trabalho, é uma trava aos investimentos. E sem investimentos,
a economia tende a andar de lado.
A
isto é o caso de acrescentar incertezas com origem nas turbulências
provocadas no ambiente econômico por atitudes e declarações do
presidente Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
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