Os grandes eventos costumam deixar de molho meus sentimentos e lembranças. E assim vou processando os instantes,, os fatos, os caminhos. Daí que o imediatismo da notícia deixo aos que vivem sob o tacão do "dar primeiro" tipo aquele que dizia...atira primeiro, depois pergunta. Foi assim comigo ontem. O carro em que estava, absorto com os porquês da vida, brecou rápido, e por uns 10 segundos fiquei tonto, como se fosse perder o equilíbrio. Mas o transito fluiu, o condutor foi avante reclamando das ruas estreitadas pela inteligência que está destruindo a paciência no transito de Fortaleza. E fui lembrando o que queria lembrar. Havia, ontem, 25 anos e alguns dias que havia estado em Londres,acho que pela quarta ou quinta vez, nas exéquias da Lady Dy. Havia saído do Ceará às pressas para cobrir, pra cá, com linguagem daqui, o horrível acidente. Havia uma comoção no mundo. Era um evento a ser acompanhado de perto. No mínimo até seu enterro.E assim fiz, nos dez dias em que fiquei em Londres. No segundo dia, junto às grades do Palácio de Buckingham, pelo lado de fora, ocorria o mesmo que hoje. Centenas, milhares de velas, mensagens, flores, fotos, bandeirinhas, bilhetes, cartazes estavam postos em homenagem a Dy. De repente, uma senhora pequena, de cabeça erguida, forte como um rochedo, apareceu ao lado do filho mais velho e do marido, a cumprimentar com gestos de cabeça as pessoas que, como eu, curiosamente ali se aglomeravam e /ou depositavam flores. Passou a um metro de mim. Lentamente observando aquilo que o povo mais simples postava às portas da realeza. Era ELA, a Rainha Elizateth II, Ele própria que saíra do conforto para a solidariedade da eterna nora. Um silêncio profundo. Nem um hooo. Nada. A Rainha era, com toda altivez a dor-surpresa do povo. Eu vi. Eu estava lá.
Hoje, aos 96 anos, é a vez dela receber aquelas flores, aquelas mensagens, cartazes, velas acesas, com a certeza de que sua glória terrena, seu gin, seus cavalos, seu sorriso meigo, seu gesto de quem escuta com os olhos, marcou o mundo a quem legou solidariedade, valentia, coragem e mão de ferro de mãe dadivosa a seus filhos, vizinhos, amigos, netos e como eu, agregados na realeza que por aqui costumamos apelidar nossos operários, como Rei da Panelada, a Rainha da Bateria, o Rei do Sarrabulho, a Rainha da Massagem...Pois é. Não sei, mas é assim que foi. Ou é?
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