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Britânico pede 'respeito' em dia de funeral da rainha e é hostilizado por bolsonaristas em Londres

  • Ricardo Senra e Giovanni Bello
  • Da BBC News Brasil em Londres
Harvey discute com apoiador de Bolsonaro em Mayfair, Londres

Crédito, Giovanni Bello/BBC News Brasil

Legenda da foto,

Chris Harvey pediu a bolsonaristas que respeitassem dia de funeral da rainha

Um britânico aposentado de 61 anos que passava em frente à residência do embaixador brasileiro em Londres, nesta segunda-feira (19), foi hostilizado por bolsonaristas ao pedir que o público agisse com "respeito" no dia do funeral da rainha Elizabeth 2ª.

O aposentado, que se identificou depois para a equipe da BBC News Brasil como Chris Harvey, deparou com um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) discutindo com um homem que começou a criticar o presidente.

"Vocês estão na Inglaterra, demonstrem algum respeito, é o dia do funeral da rainha", gritou o britânico após bolsonaristas questionarem o que ele fazia ali e mandá-lo calar a boca.

Bolsonaro está no Reino Unido para participar do funeral e ficou hospedado na residência oficial do embaixador, onde apoiadores se aglomeraram para tentar falar com ele no domingo e nesta segunda-feira.

A confusão começou quando um homem segurando uma bandeira brasileira se aproximou de apoiadores de Bolsonaro dizendo que era cristão, mas que a "religião hoje no Brasil é parcial".

Silas Malafaia, que integra a comitiva de Bolsonaro e estava conversando com apoiadores do presidente naquele momento, puxou um coro de "mito, mito, mito".

O homem com a bandeira brasileira então começou a perguntar, também gritando, por que o público ali presente "não estava preocupado" com as queimadas na Amazônia, "em saber quem assassinou a ex-vereadora Marielle Franco" e com a "origem do dinheiro usado para comprar imóveis da família Bolsonaro".

Os apoiadores do presidente cercaram o homem, chamando-o de petista. Nesse momento, Harvey disse ter visto o que lhe pareceu ser uma situação de intimidação e decidiu intervir: "Esse homem tem o direito de protestar. Essa é a Inglaterra."

Os apoiadores de Bolsonaro, então, também se aproximaram do britânico gritando "Bolsonaro 2022, Bolsonaro presidente". Um dos bolsonaristas disse: "Você não sabe nada do seu próprio país".

"Vocês estão desrespeitando o Brasil. Esse é o funeral da rainha. Mostrem mais respeito! Isso está muito errado, é desrespeitoso com a rainha. O seu presidente não deve estar feliz com o seu comportamento", disse o britânico, em inglês.

Jair Bolsonaro com apoiadores em Mayfair

Crédito, Ricardo Senra/BBC News Brasil

Legenda da foto,

Bolsonaro estava com apoiadores quando manifestante apareceu

Enquanto a confusão acontecia, um grupo de aproximadamente 20 policiais formou um cordão em proteção ao homem que carregava a bandeira do Brasil e que havia iniciado as críticas a Bolsonaro.

Nesse meio tempo, Bolsonaro deixou a residência do embaixador, tirou fotos com apoiadores e entrou num carro sem falar com a imprensa.

Participação no funeral

Bolsonaro chegou a Londres no sábado (18) para participar do funeral da rainha, que morreu aos 96 anos. Ele e outros chefes de Estado foram convidados pelo governo britânico para prestar as últimas homenagens à monarca.

Bolsonaro está acompanhado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, entre outros assessores e apoiadores. Ao chegar à residência oficial do embaixador brasileiro em Mayfair, ele fez um discurso da varanda para um grupo de apoiadores que se aglomeraram em frente ao prédio.

O presidente iniciou a fala dizendo que se trata de um momento de pesar e falando em "profundo respeito pela família da rainha e pelo povo do Reino Unido". Disse que esse era o "objetivo principal", mas falou nos cerca de quatro minutos restantes sobre contexto político no Brasil e sobre sua plataforma de campanha à reeleição.

"Não tem como a gente não ganhar no primeiro turno", disse Bolsonaro.

No mesmo dia, ele visitou o caixão da rainha, na Abadia de Westminster, acompanhado de Michelle Bolsonaro e de Silas Malafaia.

Chris Harvey, de 61 anos

Crédito, Giovanni Bello/BBCNews Brasil

Chris Harvey disse que apoiadores de Bolsonaro estavam desrespeitando o Brasil

De noite, gravou um vídeo num posto de combustível criticando o preço da gasolina no país que Elizabeth 2ª reinou por 70 anos.

"Estou aqui em Londres, Inglaterra, o preço da gasolina £1,61. Isso dá aproximadamente R$ 9,70 o litro. Ou seja, praticamente o dobro da média de muitos Estados do Brasil. Então, a gasolina é uma das mais baratas do mundo. É o governo brasileiro trabalhando para você", disse Bolsonaro, no vídeo, sem mencionar que o poder de compra médio dos moradores da Inglaterra é muito maior que a dos brasileiros.

Questionado sobre Bolsonaro falar em campanha eleitoral em meio às cerimônias fúnebres da rainha, o ex-secretário de comunicação do governo Bolsonaro, Fábio Wajngarten, que fez parte da comitiva do presidente na viagem a Londres, argumentou que o presidente iniciou sua fala hoje falando do funeral.

Malafaia, por outro lado, disse que não dá para "fingir que não está tendo um processo eleitoral no Brasil".

Repercussão na imprensa britânica

A imprensa britânica registrou os acontecimentos durante a passagem do presidente brasileiro por Londres.

Tanto jornais de tendência à esquerda, como o The Guardian, quanto à direita, como o Daily Mail, abordaram o discurso do presidente na residência oficial do embaixador.

"Enquanto líderes globais chegam ao Reino Unidos para manifestar seu respeito pela rainha, o líder da direita radical populista Jair Bolsonaro fez um comício em tom agressivo da janela da embaixada de seu pais incensando uma multidão com bandeiras", publicou o Daily Mail.

Já o Guardian disse que o "Presidente Bolsonaro usa visita a Londres para funeral da rainha como 'palanque eleitoral'".

O jornal The Times escreveu que Bolsonaro "aproveitou sua ida ao funeral da rainha para mostrar ao seu país como o combustível é caro em Londres".

E reportagem do Independent diz que "o polêmico Bolsonaro aproveitou a viagem a Londres para tentar convencer os eleitores indecisos de sua importância internacional, levando sua campanha política para a viagem".

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