O dia

 


Por quais lembrança anda a cabeça do bicho homem? Nunca, ou quase nunca, tem rumo ou medita na distância do que quer, quando quer. Olhando a luz da manhã, chegou ao juizo, Sâo Lourenço. São Lourenço, Padroeiro de um bocado de gente é conhecido como protetor dos cozinheiros. Não lembro de ter visto medalha de São Lourenço no pescoço de nenhum cozinheiro, nem imagem sua numa casa de pasto, mas sua história é, como muitas de santos, boa de ler e até de conhecer.
São Lourenço nasceu no século III em Huesca e cedo partiu para Roma onde assumiu a função de diácono do Papa Sixto II. Naquele tempo diácono era um cargo de extrema importância, e semelhante ao que hoje desempenham os Cardeais da Cúria no Vaticano. O Papa dispunha de sete diáconos que o ajudavam a administrar a Igreja, e o mais importante, também chamado Arcediago, geria todos os bens da Igreja. Ora, São Lourenço era o Arcediago, que normalmente deveria suceder ao Papa. De entre as várias responsabilidades recebia as esmolas, conservava os arquivos, dirigia a construção de cemitérios, e dele dependiam a maioria do “clero romano, os confessores da fé, as viúvas, os órfãos e os pobres”. Devido às suas funções era já considerado como o futuro Papa. Consta que a maior provação a que foi sujeito terá acontecido durante a morte do Papa Sixto II, assassinado com quatro dos seus diáconos. Segundo a tradição, São Lourenço terá perguntado ao Papa, em agonia, para onde seguia sem o seu filho, o seu diácono. O Para terá respondido que ele não julgasse que o abandonava, e que maiores combates o esperavam e se reencontrariam passados três dias.
De facto, três dias depois do martírio do Papa, São Lourenço é chamado e apresentado perante o prefeito de Roma, Cornelius Saecularis, sendo imperador Valeriano. O prefeito ordena-lhe que entregue o dinheiro e os livros de contas da Igreja. São Lourenço pede então para voltar no dia seguinte e promete entregar-lhe toda a riqueza da Igreja. Entretanto distribui toda a riqueza pelos seus fiéis, e no dia seguinte informa o prefeito que tem todas as riquezas para lhe apresentar. Ousadamente apresenta-lhe uma multidão de crentes, pobres, doentes e protegidos da Igreja dizendo: “Estes são os verdadeiros tesouros da Igreja.”
São Lourenço terá tomado esta atitude cheio de fé e em acto caridoso para os mais necessitados. O prefeito é que não gostou e ter-lhe-á respondido: “Pagarás a fraude com a morte. Morrerás a fogo, em cima de uma grelha.”
Assim cumpria-se a vaticínio de Sixto II. São Lourenço é colocado no fogo em cima de uma grelha, sentindo-se já o cheiro da sua carne assada, vira-se para o carrasco e diz ainda: “Já está cozido deste lado, diz ele ao carrasco, dá-lhe volta e come.” E foi assim juntar-se, pelo martírio, ao seu Papa. Isto aconteceu em 258.

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