O jornal OEstado foi ouvir o que nos manda para lá.
Aprovação de cearenses no ITA já é questão histórica, afirma diretor de ensino do Farias Brito
Os estudantes cearenses são nacionalmente reconhecidos pela grande quantidade de aprovações alcançadas no vestibular do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), que é considerado o mais difícil do Brasil. Entre os anos de 2012 e 2022, alunos da capital cearense ocuparam 36,7% das 1.478 vagas ofertadas no período. O alto desempenho dos estudantes do Ceará chamou tanta atenção que o Ministério da Defesa e a Aeronáutica estão estudando a implantação de um braço do ITA no Ceará. “No ano passado, os dois cursos preparatórios de Fortaleza conseguiram aprovar 40% dos aprovados no ITA. Metade desse percentual foi das demais cidades do Ceará, ou seja, é um Estado que tem entusiasmo e que, por isso, a própria Aeronáutica está querendo levar esse braço do ITA para Fortaleza”, revelou recentemente o ministro da Defesa, José Múcio.
Foto: Arquivo Pessoal
De acordo com ele, a implementação, que segue em fase de estudo, é um reconhecimento pelo esforço cearense na preparação de estudantes que desejam ingressar no instituto. Fortaleza também seria um ponto fundamental para facilitar o processo para os estudantes aprovados de outros estados como Pernambuco, Rio Grande do Norte e Maranhão. Atualmente, a unidade do ITA está localizada em São José dos Campos, em São Paulo, e os estudantes aprovados precisam mudar-se para o sudeste para dar continuidade aos estudos.
Além disso, na capital cearense, já há as instalações da Base Aérea de Fortaleza, no bairro Aerolândia, o que segundo o ministro também é um fato relevante, já que a estrutura pode ser utilizada para esse investimento. José Múcio revelou à imprensa que já conversou sobre o assunto com o ministro da Educação, Camilo Santana, que é ex-governador do Ceará, e que ele se colocou à disposição para ajudar no que fosse preciso.
Anualmente, grandes redes de ensino atestam os resultados da dedicação contínua na preparação dos jovens com a conquista de vagas no vestibular no ITA. Entre elas, destaca-se, por exemplo, o Colégio Farias Brito, que desde 1993, soma 1.724 aprovações tanto no ITA quanto no Instituto Militar de Engenharia (IME). Somente no ano passado, 134 estudantes da escola ingressaram no IME e 36 no ITA. O Jornal O Estado conversou com o diretor de ensino da unidade, Marcelo Pena, sobre as expectativas para a implementação de uma unidade do Ceará e o diferencial do estado na concorrência pelas vagas de tais vestibulares.
O Estado: Qual a importância do Ceará receber uma unidade do ITA?
Marcelo Pena: Na minha opinião, é extremamente importante porque vai trazer um desenvolvimento econômico muito grande para o nosso estado. Muitos dos alunos que são preparados aqui em Fortaleza para prestar os vestibulares do IME e do ITA acabam, após a formatura, ficando tanto no Rio de Janeiro, quanto em São Paulo, principalmente, no que diz respeito à questão econômica. São alunos brilhantes e, muitos, têm o empreendedorismo no sangue. Com o retorno dessas mentes brilhantes, com grande conhecimento, para o Ceará, nós teremos uma possibilidade de desenvolvimento econômico, além das outras mentes que virão de todo o Brasil porque é interesse nacional fazer um curso de engenharia no ITA.
OE: De onde vem o interesse dos cearenses para o vestibular do ITA?
MP: Eu acredito que seja uma questão já histórica. O Farias Brito, por exemplo, começou o processo no ITA entre 1992 e 1993. Nos últimos três anos, Fortaleza é a cidade que mais aprova no ITA. Eu acredito que o interesse vem muito em função de duas coisas, sendo o primeiro um projeto de olimpíadas científicas, que é abraçado aqui no estado do Ceará. Então, esses alunos começam, desde o 6º ano, a ter contato com uma matemática mais aprimorada e depois vão sendo apresentados a outras disciplinas como física e química, que são base para os vestibulares de engenharia. Além disso, muitos desses alunos acompanham as histórias de sucesso de outros que também eram cearenses, passaram no ITA e ocupam altos postos hoje no Brasil ou são grandes empresários.
OE: Como o Farias Brito prepara os estudantes para essas provas?
MP: Os nossos alunos têm, desde o primeiro ano do ensino médio, uma carga horária diferenciada para aulas de matemática, física e química […] Ao longo dos anos, o aluno vai crescendo seu conhecimento, vai fazendo o vestibular como treineiro e vai aprimorando esse processo. Além da carga horária, o sistema de avaliação é completamente direcionado para os vestibulares do IME e do ITA. Eles já passam, desde o primeiro ano, a fazer provas nesse estilo e essas provas vão gerar as notas acadêmicas. Muitos passam no terceiro ano. Os que não passam, continuam se preparando no cursinho, porque muitas vezes o ITA não é um projeto de um ano só. É uma preparação de médio a longo prazo com foco em conteúdos mais aprofundados de matemática, física e química.
OE: Na escola há algum estímulo para que os alunos considerem prestar esses vestibulares?
MP: Sim, a gente apresenta para esses alunos, principalmente aqueles que estão terminando no 9º ano, quais são as vantagens de você prestar o vestibular e se formar em um instituto de alto nível como o ITA. Tudo isso é passado por nossos coordenadores, psicólogos e professores. O reitor esteve aqui em Fortaleza e fez uma palestra, mostrando para os alunos todas as parcerias que o ITA fechou com universidades da Europa, Canadá e Estados Unidos. Essas informações vão sendo passadas ao longo da vida acadêmica dos alunos.
OE: Com a chegada da unidade no Ceará, as aprovações tendem a aumentar?
MP: Com certeza, porque você vai ter mais vagas sendo ofertadas, já que terão oportunidades no Ceará e em São José dos Campos. Muitos alunos já nos procuram de outros estados para prestar o vestibular do ITA e passam. Muitos deles vêm para Fortaleza estudar no Farias Brito.
OE: Qual deve ser o perfil do aluno para prestar o vestibular do ITA?
MP: É um aluno disciplinado, no sentido mais amplo da palavra. É aquele que gosta de estudar, que desenvolve habilidades e tem aptidão maior para matemática, física e química. É um aluno criativo e curioso. O ITA procura aqueles que são extremamente focados no que desejam, são estudiosos e que tenham uma veia empreendedora.
OE: Atualmente, quais são as maiores dificuldades dos alunos cearenses após a aprovação?
MP: É a questão da adaptação. Lá no ITA, os alunos ficam no que a gente chama de “H8”, que é o alojamento deles. Então, alunos que foram acompanhados a vida inteira por suas famílias ficam geograficamente distantes delas. Acho que isso é uma grande dificuldade. Tendo um instituto similar aqui no Ceará, eles vão poder ter o mesmo tipo de ensino de altíssima qualidade e, ao mesmo tempo, estar próximos dos entes queridos.
Por Yasmim Rodrigues
Nenhum comentário:
Postar um comentário