História por RFI • Há 43 m
Libération chama de "show" entrevista de Lula sobre Cúpula da Amazônia
O jornal francês Libération, o mesmo que se referiu ao presidente Lula como "uma decepção" e "falso amigo" por seu posicionamento sobre a guerra na Ucrânia, afirma nesta quinta-feira (3) que o petista deu um "show", ontem, em Brasília, ao falar para correspondentes estrangeiros sobre a Cúpula da Amazônia. Em sua edição impressa, o Libé dedica uma página às intenções do chefe de Estado brasileiro no encontro marcado para 8 e 9 de agosto, em Belém (PA).
Conselhos e Truques
A correspondente do Libération, Chantal Rayes, afirma que Lula falou de seus objetivos "com um tom firme e fortes convicções, ainda que às custas de algumas simplificações". O governo brasileiro promete adotar uma posição política comum aos oito países que formam a bacia amazônica, para garantir um desenvolvimento 'racional' da floresta, e também combater o tráfico de drogas e o crime organizado. Lula reiterou que alcançar o desmatamento zero é possível, em 2030.
Durante a cúpula, os participantes irão elaborar um documento conjunto a ser apresentado na COP 28, a Conferência sobre Mudança Climática da ONU, prevista para o final do ano em Dubai. Lula terá, nessa ocasião, "uma conversa séria com os países ricos", a quem acusa de protelar o financiamento para que os países pobres e emergentes possam preservar suas florestas, sem renunciar ao desenvolvimento. Lula não perdeu a oportunidade de ressaltar que os países da bacia possuem a maior reserva de biodiversidade do planeta.
A correspondente do Libération explica que o governo brasileiro "espera muito da França" em relação a essa questão, por ser o único país desenvolvido a ter um pedaço da floresta amazônica, na Guiana Francesa. Lula recordou aos jornalistas que convidou pessoalmente o presidente Emmanuel Macron a participar do encontro, mas a França enviará apenas um representante à reunião em Belém.
Guerra na Ucrânia
No café da manhã com a imprensa estrangeira, Lula reiterou a posição de neutralidade do Brasil sobre a guerra na Ucrânia. Ao ser indagado por um jornalista sobre a forma como Brasília contribui para iniciar as negociações de paz, Lula respondeu: "Em primeiro lugar, recusando-se a participar na guerra". Em seguida, ele repetiu que o Brasil votou a favor das duas resoluções da ONU que condenaram a invasão russa, embora discorde das sanções "unilaterais" adotadas por países ocidentais contra Moscou, por terem sido decididas fora do âmbito da ONU.
O Brasil, por seu lado, continuará a procurar a paz, enfatizou o presidente. "O objetivo é apresentar uma proposta no momento oportuno", ou seja, quando as partes em conflito "quiserem" pôr fim às hostilidades.
Em 23 de junho, o Libération havia publicado uma reportagem crítica sobre a forma como Lula vinha atribuindo a mesma responsabilidade da guerra à Rússia, que invadiu o vizinho, e à Ucrânia, que se defende da agressão com a ajuda dos aliados ocidentais. Na França, as declarações de Lula sobre o conflito foram mal recebidas por quase toda a imprensa. Desde então, o líder brasileiro adotou um tom mais moderado ao se referir a questões geopolíticas sujeitas a controvérsias.
"Rock star"
O texto do Libération termina com uma descrição da atmosfera que tomou conta da sala no encerramento da entrevista, no Palácio do Planalto.
"Os jornalistas se apressam para cumprimentar Lula ou fazer uma selfie com ele. Em tom de brincadeira, um fotógrafo diz: 'Com esta foto, eu reembolso minha máquina'". O comentário dá o gancho para a correspondente do Libé concluir sua reportagem: "Lula, o rock star da política mundial", escreve ela.
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