Sem Janja e sem joias

Lula se reúne com príncipe saudita que deu joias a Bolsonaro

Depois de desmarcarem encontros duas vezes, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammend Bin Salman Al Saud, finalmente se reuniram pela primeira vez, neste domingo, dia 10, para conversar sobre investimentos no Brasil.
O encontro ocorreu em Nova Délhi, na Índia, onde ambos participaram da Cúpula do G-20. Não houve trocas de presentes, segundo fontes da Presidência que testemunharam a audiência, por não se tratar de uma visita de Estado ou oficial, mas apenas de uma reunião bilateral.
Como o Estadão revelou, a Casa de Saud, família de Bin Salman, ofereceu joias milionárias ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro. Eles tentaram trazer as peças ilegalmente ao Brasil, no que posteriormente descobriu-se ser parte de um esquema de desvio e venda de bens presenteados por autoridades estrangeiras. O caso é investigado na Operação Lucas 12:2, da Polícia Federal.
Bin Salman manifestou a Lula o interesse em colocar recursos privados no Brasil nas seguintes áreas: mineração, energia verde, petróleo e gás, infraestrutura, turismo, defesa e meio ambiente. Ele não citou projetos específicos. O presidente, por sua vez, recomendou que eles promovessem encontros de ministros e que comitivas de empresários viajassem entre os países. Uma deve ser enviada ao Brasil, para que Lula tente vender aportes em obras do Novo PAC.
O príncipe saudita também agradeceu a Lula por aceitar que a Arábia Saudita fosse um dos seis novos países incluídos no Brics O bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul foi ampliado, no fim de agosto, por lobby chinês.
Igualmente presentes ao G-20, os ditadores dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed Al Nahyan, e do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, também agradeceram pessoalmente Lula por terem sido convidados ao Brics. Os outros três futuros membros do Brics são Argentina, Etiópia e Irã.
Um dos participantes relatou que a conversa bilateral entre MBS, como o príncipe é conhecido, e Lula foi uma das mais breves, dentre as sete que o petista manteve na Índia.
O encontro tem potencial de trazer desgaste político ao presidente, pelo que Bin Salman representa. O herdeiro do reino saudita, atualmente premiê do país, chefia uma autocracia que reprime direitos das mulheres e costuma barrar avanços em pautas de gênero e LGBTQIA+, bandeiras políticas de Lula.
MBS foi acusado de encomendar a morte de um jornalista. Segundo relatório de inteligência dos EUA divulgado em 2021, Bin Salman aprovou uma operação para capturar e matar o jornalista Jamal Ahmad Khashoggi, crítico do regime de sua família, num consulado do país em Istambul, na Turquia, em 2018. O corpo do jornalista dissidente foi desmembrado, e seus restos mortais nunca foram localizados.
No entanto, os interesses econômicos são a justificativa do governo para estreitar o relacionamento. Além de serem detentores de alguns dos fundos de investimento soberanos mais poderosos do mundo, os sauditas haviam prometido investir U$ 10 bilhões no Brasil no governo Bolsonaro, mas os recursos não foram completamente injetados. No ano passado, a Arábia Saudita foi o principal parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio, com corrente de comércio de US$ 8,2 bilhões.
Auxiliares do presidente argumentam que Lula está disposto a dialogar com todos os líderes políticos, sem diferenciar se são ditadores ou democratas. Ele costuma dizer que, na condição de chefe de Estado, não faz distinção sobre preferências pessoais ou ideológicas e relaciona-se com todos.
O encontro entre o petista e o ditador saudita saiu na terceira tentativa, mas poderia ter ocorrido antes. Eles chegaram a agendar um jantar em junho, mas na ocasião Lula argumentou que estava cansado dos compromissos na viagem a Paris, na França, e desistiu de ir. No sábado, 9, foi a vez de o saudita cancelar uma reunião bilateral de última hora. Segundo o governo brasileiro, os sauditas haviam apresentado uma escusa genérica de que tiveram uma situação emergencial, mas também desmarcaram outros compromissos.
Agência Estado

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