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Uece vai compartilhar com o mundo acervo do intelectual cearense Djacir Menezes
Com todo o respeito à UECE e à iniciativa de Governo, sinto a obrigação de contar uma historinha, minha, com o professor Djacir e o encontro que tivemos, no Rio, em seu apartamento, quando recebi a missão, invejável, de entrevista-lo.
" Em Buenos Aires, arrumava a mala no hotel depois de cobrir mais uma reunião do Mercosul e o telefone chamou. Era do Brasil. Diretor responsável do jornalismo do Canal 10, Edilmar Norões. Depois dos cumprimentos dá a missão: Não volte pra casa. Fique no Rio. Você vai fazer a Sereia de Ouro deste ano. Na Rádio Tamoio (que era ou é) do Sistema Verdes Mares tem tudo o que você precisa. Contatos, reservas, e o mais que precisar. O Rômulo dará detalhes. Era sexta,boca da noite. Sábado, alojado no Hotel Copacabana, recebo os detalhes: faria Djacir Menezes, Barrica e Florinda Bulcão, escolhidas personalidades daquele ano. Sabia de Florinda, conhecia a obra do pintor Barrica e de Djacir sabia pouco. Conhecia só seu livro sobre o Nordeste. Havia um plantão da biblioteca Nacional no sábado. Apelei pra sorte. A bibliotecária entendeu meu desespero e pois à minha disposição a obra de Djacir Menezes e ainda permitiu que levasse livros para o hotel. Eu devia ter cara de leitor e acreditado pela profissional. Fechei o apartamento do tugúrio carioca e deitei olhos a Djacir. Li desesperadamente o que pude. Afinal iria entrevistar na terça feira uma das mais brilhantes mendes do País. Abdiquei das delícias do velho Rio de Janeiro onde havia morado por longos e felizes onze anos e devorei Djacir. Salto no tempo. Terça nos falamos por telefone e combinamos 6 da tarde na casa dele. Carlinhos foi o cinegrafista que a Tv Globo me deu de presente. Chegamos a um apartamento que nos fazia encolher os ombros, passar de lado, espremidos por livros até uma sala pequena, apinhada de livros. E uma cadeira forrada, a dele e uma pra mim. Carlinhos olha o ambiente, sente minha preocupação com o local para as imagens e diz enfático: Não se preocupe. Faça seu trabalho. Eu resolvo aqui. Era um repórter cinematográfico genial. Um jornalista! Luz no teto, microfones testados e vamos lá. Duas horas depois, com o fôlego para mais duas e mais duras e mais tantas quantas Djacir permitisse e as ficas da câmera dessem pro registro, pergunto finalizando...Como é sua relação com Deus? Eu sabia que ele era agnóstico. Respeitosa, responde. E finaliza; Dessa parte cuida a minha mulher Stela que generosa me deixa encher a casa dela desses livros e documentos. E usou "dessa livraiada". Nunca mais vi Djacir. Nunca mais esqueci Djacir. Nunca mais hei de saber tanto de vida e da obra, tão de perto, na vida de um gênio. Um amante de Kant, como nos identificamos. Repito: Djacir Menezes em 1986, um ano mágico na minha humilde vida.
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Acervo virtual estará disponível no primeiro semestre de 2024
A Biblioteca Central Professor Antônio Martins Filho, da Universidade Estadual do Ceará (Uece), possui um valioso patrimônio cearense, que é o acervo do bibliófilo Djacir Lima Menezes, intelectual, professor, sociólogo, jurista, economista e filósofo, nascido em Maranguape. O acervo é composto por 16 mil livros que pertenciam à Djacir, de áreas como Direito, Filosofia, Sociologia, Economia, História Geral, História do Brasil, Literatura Brasileira, Literatura Estrangeira, além de documentos diversos como manuscritos, correspondências, fotografias e medalhas.
Dos 16 mil volumes, 3.200 são obras raras e valiosas, entre as quais a Uece selecionou duas coleções, de 100 obras nacionais e 100 obras estrangeiras, para compartilhar virtualmente com o mundo, por meio da tecnologia street view, na plataforma Google Arts and Culture. A previsão é que o material seja disponibilizado ainda neste primeiro semestre de 2024.
Para a diretora da Biblioteca da Uece e uma das coordenadoras do projeto, Ana Néri Barreto, esse ambiente online favorece a disseminação do conhecimento e a Uece não poderia ficar de fora. “As bibliotecas universitárias são instituições e, como tal, são constituídas por um conjunto de funções responsáveis, que vão desde o planejamento até a recuperação da informação. E a nossa Biblioteca não poderia deixar de participar dessa plataforma, mantida pelo Google em colaboração com museus, bibliotecas e galerias de arte espalhados por diversos países”.
Para o curador, historiador e também coordenador do projeto, Rodrigo Alves Ribeiro, “é muito importante que acervos particulares como de Djacir Menezes sejam disponibilizados para o mundo. Porque não é apenas o fato de ser um acervo particular, mas um acervo particular com a relevância documental que tem, que apresenta. Então, a partir dessa iniciativa, pesquisadores de todo o mundo poderão acessar essa documentação. E, se não conseguir acessar essa documentação, eles vão conseguir identificar onde ela se encontra, porque um acervo dessa magnitude precisa ser exposto para o mundo, precisa se tornar acessível para todos. Assim, tratamos também da democratização do conhecimento e do acesso à informação”.
A exposição virtual será inaugurada com a obra “O Outro Nordeste”, de Djacir Menezes. Segundo a também coordenadora do projeto e bibliotecária, Lúcia Maria da Silva, e Rodrigo Alves Ribeiro, a escolha da obra se deve à sua singular importância. “O livro foi publicado em 1937, em coleção que, no ponto de vista da política editorial no Brasil, é muitíssimo importante, que é a Coleção Documentos Brasileiros, pertencente ao catálogo da editora José Olympio”, ressalta Rodrigo.
Lúcia acrescenta que outras valiosas obras nacionais serão disponibilizadas, de renomados autores, como Heráclito Graça, Thomaz Pompêo, Antonio Salles, Rodolfo Theophilo, Barão de Studart; além de obras internacionais, como de Karl Kautsky.
A coleção do professor Djacir Menezes faz parte do patrimônio da Uece, tendo sido adquirida pela Universidade no ano 2000, em parceria com Banco do Nordeste, Grupo M. Dias Branco, Grupo J. Macedo, Sesc, Fiec, Aprece e Secretaria da Cultura do Ceará, e apoio da família do cearense.
A diretora Ana Néri Barreto conta que era desejo do intelectual que seu acervo fosse para o Ceará. “Djacir Menezes deixou em seu testamento o pedido de que sua biblioteca fosse vendida para universidade do Ceará, além de deixar aos filhos a mensagem de que não estava deixando dinheiro, mas que estava deixando esse patrimônio”.
De lá para cá, o acervo de Djacir Menezes na Uece foi tecnicamente cuidado, tratado e preservado. Com a parceria do Banco do Nordeste, ganhou catálogo e até documentário, que pode ser assistido em duas partes (o Homem e Seus Livros – Parte I e o Homem e Seus Livros – Parte II).
E, agora, a instituição de ensino se prepara para oferecer essa importante coleção a todo o mundo.
Com essa iniciativa, outro objetivo da Uece é a parceria com outros pesquisadores, da Uece e de outras instituições. Neste primeiro momento, a Universidade conta com a colaboração do pesquisador, escritor, mestre em crítica literária pela Unicamp e mestre em preservação do patrimônio cultural pelo Iphan, Yuri Zacra. Para ele, “a inserção do acervo Djacir Menezes na plataforma Google Arts and Culture aparece, nessa nova parceria, como caminho natural e em conformidade ao próprio acervo; haver, portanto, a viabilidade de maior difusão, promoção e pesquisa, tão necessária, e sem dúvida, também tão desejada, ainda em vida, por nosso autor e intelectual, é sem mais a democratização de acesso”. E acrescente: “Além, é claro, aquém daqueles interesses e muitos outros, abrir-se assim àqueles supostos turistas, agora possivelmente também digitais, ao direito à curiosidade que acompanham os leitores despretensiosos, que quase sempre, por sua espontaneidade, vão contribuindo para a circulação de novas conexões, alargando, portanto, as fronteiras do conhecimento”.
A ideia de ingressar no Google Arts and Culture partiu do coordenador e curador do projeto na Uece, o analista da Uece e historiador Rodrigo Alves Ribeiro, a partir da sua experiência na Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece), em que, como mais recente resultado, contribuiu com a difusão da mostra Iracema por Anita Malfatti, que pode ser acessada clicando aqui.
Rodrigo conta que, após a inserção do acervo da Uece na plataforma, o projeto seguirá avançando. E adianta: “O projeto vai se aperfeiçoando e, ao passo que a gente for disponibilizando o acervo de Djacir, a partir de exposições temáticas, vai chegar o momento de levantamentos ou até de captura de imagem em 360° para que as pessoas possam também fazer essa visita virtual pela Biblioteca da Uece”.
Estão também envolvidos no projeto da Uece os servidores Bárbara Oliveira Silva, Davi Martins de Oliveira, Filipe Ramó de Freitas Alcântara, Júlio César Agostinho da Silva Fonseca e Sara Raquel de Melo Ferreira.
Sobre Djacir Menezes e sua biblioteca
Djacir Menezes foi bibliófilo, nasceu em Maranguape-CE, em 16 de novembro de 1907, e faleceu no Rio de Janeiro, em 9 de junho de 1996. Formou-se em Direito, assumiu a cátedra de Ciências do Direito da Faculdade de Direito do Ceará. Fundou a Faculdade de Economia do Ceará e foi reitor da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, de 1969 a 1973.
Ele deixou, sob a guarda de seus familiares, a imensa coleção de livros acumulada ao longo de toda a sua vida e uma extensa produção intelectual, que se traduz na publicação de cerca de 35 obras produzidas desde 1932.
Considerando que o tamanho das bibliotecas é associado ao refinamento intelectual de seus proprietários, possuir um grande acervo de livros significava ser visto e respeitado como um intelectual erudito, além de ser, evidentemente, um registro de suas atividades intelectuais.
O acervo do Professor Djacir Menezes, considerável tanto no que diz respeito à sua quantidade como à qualidade, dispõe de obras escritas nas mais variadas línguas, abrangendo as diversas áreas do conhecimento tendo maior ênfase em Filosofia e Filosofia Jurídica; Sociologia; História; Economia Clássica; Literatura Brasileira, Portuguesa, Francesa, Alemã, Inglesa.
Todas as reações:
Chiquinho Peixoto

 


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