Abin sob Bolsonaro enviou drone que teria espionado então governador Camilo Santana

 


O drone da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que teria espionado o então governador do Ceará e hoje ministro da Educação, Camilo Santana (PT), foi enviado ao Estado para registrar o ato convocado pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) a favor do voto impresso, segundo relatos feitos à reportagem. O drone foi flagrado próximo à residência oficial do Governo do Ceará em 31 de julho de 2021, véspera da manifestação pró-voto impresso realizada em 1º de agosto de 2021 em todo o país.

A decisão de enviar os drones a parte das Superintendências da Abin, incluindo a do Ceará, foi tomada pelo então diretor-geral, Alexandre Ramagem (PL/RJ), hoje deputado federal e pré-candidato à Prefeitura do Rio de Janeiro. Pessoas que acompanharam o episódio envolvendo o ministro da Educação afirmam que a Abin havia recebido os equipamentos meses antes da manifestação e que, àquela altura, existia apenas um pequeno grupo de servidores com habilitação para operar o equipamento. Nenhum deles em Fortaleza.
Mesmo sem pilotos em número suficiente, a cúpula da Abin queria que os drones fossem usados para obter imagens exclusivas e não depender de registros da imprensa. Os relatos sobre o uso do drone na manifestação são reforçados por um arquivo localizado pela Polícia Federal (PF) com o ex-coordenador-geral de Operações de Inteligência da Abin Paulo Magno de Melo Rodrigues Alves, alvo de busca e apreensão em outubro, na primeira fase da operação que investiga a suspeita de espionagem ilegal no governo Bolsonaro.
A PF afirmou que Paulo Magno havia sido flagrado pilotando o drone, mas essa informação estava errada. Parte do documento encontrado com Magno foi transcrito pela PF no relatório apresentado ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
No texto, Magno afirma que foi contra o envio definitivo dos drones às Superintendências porque o emprego dos equipamentos na Abin “ainda era muito recente” e “as Superintendências, naquele momento, ainda não possuíam pilotos qualificados. Em atendimento à demanda da Direção-Geral, no entanto, o departamento “encaminhou drone, acompanhado de piloto devidamente habilitado”, a quatro das seis superintendências solicitadas “com um dia de antecedência”, segundo o ex-diretor da Abin.
“A fim de minimizar a falta de conhecimento das Superintendências em pilotagem do equipamento, encaminhamos os servidores do Doint [Departamento de Operações de Inteligência] com um dia de antecedência, de forma a permitir que o piloto repassasse ao menos conhecimentos básicos que permitissem uma familiarização inicial de um servidor local com o equipamento. Contudo, o emprego do equipamento no dia seria feito pelo piloto habilitado e apenas acompanhado pelo servidor local”, diz trecho do texto.

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