Ceará sem fome - Histórias


 

Ex-beneficiária do Ceará Sem Fome conta história de superação: “eu senti no meu coração de não receber mais e de dar a vaga a quem precisava mais”

A dona de casa Teresa da Silva Rodrigues decidiu encerrar seu cadastro no programa após estabilização de situação financeira
No ponto onde se cruzam os bairros costeiros Mucuripe, Vicente Pinzón e Cais do Porto, na grande Fortaleza, fica localizado um punhado de prédios com apartamentos amarelos claros e padronizados que emergem em meio ao morro. Trata-se do residencial Alto da Paz, complexo habitacional inaugurado em 2020 e sede de uma das cozinhas do Programa Ceará Sem Fome. No local, residem mais de 500 famílias, sendo uma delas a de dona Maria Teresa da Silva Rodrigues e seu marido. Beneficiários do programa desde 2023, eles resolveram encerrar seu cadastro após alcançarem estabilidade financeira.
Ainda em 2023, recém-chegados do Maranhão, o marido de dona Teresa iniciou sua busca por emprego, mas sem sucesso. A dona de casa conta que a situação dentro de casa ficou difícil, pois faltava dinheiro até para necessidades básicas. Foi nessa época que ela conheceu o programa Ceará Sem Fome por intermédio de uma amiga, que a aconselhou a fazer o cadastro na cozinha que funciona no Instituto Moradores Alto da Paz (Imap). “Eu agradeço muito a Deus porque, através dela, eu fui lá receber (as quentinhas) pela primeira vez”, afirma.
Depois de três meses à procura de emprego, o marido de dona Teresa foi contemplado com uma vaga, o que fez com que ela tomasse a decisão de encerrar o recebimentos das quentinhas produzidas na cozinha do Imap. “E eu disse pra mim mesma: ‘eu tô com compras na minha casa e meu esposo tá trabalhando’ e, no dia, na hora de eu receber, eu senti no meu coração de não receber mais”, relembra. Ela ainda conta que a decisão foi motivada pela solidariedade às pessoas que estão na fila de espera da cozinha.
A sede produz 100 quentinhas por dia, de segunda a sexta; e as marmitas são destinadas a moradores do Vicente Pinzón e de bairros vizinhos, como explica a cozinheira voluntária Mônica Felipi. Mônica relata que a demanda da unidade é grande e que às vezes pensa em desistir do voluntariado, mas que o depoimento de beneficiários como a dona Teresa a inspiram a continuar. “Eu estava realmente com vontade de fechar as portas e não atender, mas a dona Teresa me mandou mensagem pela manhã e a gente começou a conversar. Ela me agradeceu por tudo o que eu fiz por ela”, conta emocionada.
Para além dos depoimentos, a voluntária se sente bem em ajudar quem mais precisa. “É muito gratificante a gente poder ajudar o próximo. A gente não ganha nada em troca. A gente só ganha o reconhecimento de alguns, mas é muito gratificante”, diz.
Mônica e Teresa hoje mantêm uma relação de amizade e se emocionam ao compartilhar um abraço apertado, cheio de gratidão de ambas as partes. “São várias histórias e situações que, mesmo às vezes a gente tendo vontade de desistir, elas não permitem”, afirma a voluntária.

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