Ninguém quer perder lucros e privilégios

 

“Taxação dos ricos e isenção do IR, por ora, é só discurso”, diz Jeferson Miola
Jornalista avalia que a proposta está sendo apresentada em um contexto de forte pressão do mercado financeiro e de grupos políticos.
Durante participação no programa Giro das Onze, o analista político Jeferson Miola fez reflexões importantes sobre a proposta do governo Lula de isentar do Imposto de Renda os trabalhadores que recebem até R$ 5 mil. Miola destacou que, apesar do anúncio, a medida está condicionada à aprovação do Congresso e só deve ser implementada a partir de 2026. "Por ora, é apenas discurso. O governo depende de uma série de fatores para transformar isso em realidade", afirmou.
Miola avaliou que a proposta, que beneficiaria cerca de 36 milhões de brasileiros, está sendo apresentada em um contexto de forte pressão do mercado financeiro e de grupos políticos. Ele ressaltou que a política fiscal anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, busca atender às metas do déficit zero, mas enfrenta limitações impostas pelo próprio governo ao aceitar o arcabouço fiscal como norte econômico.
"É uma situação paradoxal: o governo promete medidas que beneficiam os mais pobres, mas, ao mesmo tempo, está atado a compromissos que favorecem interesses do mercado e dos setores mais privilegiados", apontou Miola.
Outro ponto destacado foi a revisão do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Miola considerou a decisão de revisar as concessões como uma tentativa de economizar recursos, mas que pode afetar diretamente a população vulnerável. "O governo estima economizar R$ 2 bilhões por ano com o BPC, mas isso reflete a lógica de cortar onde afeta os mais pobres, enquanto grandes fortunas continuam intocadas", criticou.
Para Miola, a implementação da taxação sobre os ricos, anunciada pelo governo como um avanço na justiça tributária, também enfrenta desafios. Ele lembrou que o Brasil possui uma estrutura tributária regressiva, na qual os mais pobres arcam com a maior carga tributária proporcional à renda. "A ideia de que os ricos pagarão mais impostos ainda está longe de se concretizar. O sistema permanece extremamente desigual", afirmou.
Ao concluir sua análise, Miola sugeriu que o governo adote uma postura mais firme para mobilizar apoio popular em torno de suas bandeiras históricas. "Sem uma mobilização social forte, o governo corre o risco de ceder ainda mais às pressões do mercado, abandonando pautas que representam a essência de seu compromisso com os trabalhadores", alertou.

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