Hugo Motta cheira a Bolsonaro
Por Josias de Souza-Colunista do UOL
Numa única entrevista, Hugo Motta conseguiu tirar o 8 de janeiro do rol dos crimes contra a democracia e recolocar Bolsonaro dentro de outubro de 2026. Disse que a invasão aos Três Poderes não foi tentativa de golpe. Declarou que o Supremo comete "exagero" nas punições.
Filiado ao mesmo partido de Tarcísio de Freitas, o Republicanos, Hugo apostou que o governador de São Paulo disputará o Planalto apenas em 2030. "Não acho que para 2026 se tenha uma liderança que consiga furar essa disputa entre os dois líderes maiores, que são Lula e Bolsonaro".
Na véspera de passar o cetro para Hugo, Lira, o ex-monarca da Câmara, dissera a mesma coisa com outras palavras: "Hoje temos Lula e Bolsonaro como únicos candidatos da esquerda e da direita. Bolsonaro está tão inelegível quanto Lula esteve preso em 2018."
Quem vê nas declarações de Hugo e Lira apenas ultrajes e contradições arrisca-se a negligenciar o essencial. Os comentários convergem sempre para o colo de Bolsonaro. Inelegível, o capitão joga com suas facções de Brasília, com os erros da esquerda e com o cansaço da plateia.
Além da anistia, Bolsonaro tricota com suas falanges na Câmara proposta que passa a Lei da Ficha Limpa a sujo. Anima-se cada vez que Lula pronuncia frases como "se está caro, não compra". Trama registrar sua candidatura no TSE no pressuposto de que, até 2026, o golpe será um assunto chato.
Tomado pelas palavras, Hugo Motta parece avaliar que o julgamento de uma futura ação criminal sobre a tentativa de golpe ficará obsoleta antes que o Supremo tenha a oportunidade de aceitar a denúncia que o procurador-geral Paulo Gonet ainda nem apresentou.
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