Misericórdia de Paris apela aos empresários para pagar nova renda… senão “terá de fechar”
A Santa Casa da Misericórdia de Paris está a viver uma fase bastante complicada e, para já, tem de deixar, até 31 de março, o escritório que ocupa atualmente no 7 avenue de la Porte de Vanves, em Paris 14. A Provedora Ilda Nunes participou ontem numa reunião com empresários, no Consulado Geral de Portugal em Paris, convocada pela Cônsul-Geral Mónica Lisboa, e deixou um apelo emotivo. “Estamos em grande dificuldade que podem levar ao fim da Misericórdia de Paris” disse.
Numa reunião em que estava acompanhada por Carlos Vinhas Pereira, Presidente da Câmara de comércio e indústria franco-portuguesa (CCIFP), Ilda Nunes quer lançar o “Clube dos 25” com 25 empresários que possam contribuir com 2 ou 3 mil euros cada um, durante pelo menos três anos, para garantir o aluguer de 42.000 euros por ano, e continuarem nas atuais instalações.
“Há muita gente que pensa que nós recebemos dinheiro dos Jogos em Portugal, mas isso não é verdade. Nós somos independentes da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa que, essa sim, recebe uma percentagem dos jogos e lotarias portuguesas” explicou Ilda Nunes.
Atual contrato de arrendamento foi denunciado pela CCIPF
Carlos Vinhas Pereira explicou que a Câmara de comércio e indústria franco-portuguesa tinha alugado dois andares à Régie immobilière de la Ville de Paris (RIVP) no 7 avenue de la Porte de Vanves. “A Câmara de comércio recebeu estes andares completamente vazios e fez obras com um custo de cerca de 100 mil euros para os adaptar às novas funções. A CCIFP ocupa o terceiro andar e subalugou o segundo andar à associação Cap Magellan, à Santa Casa da Misericórdia de Paris, à Coordenação das Coletividades Portuguesas de França (CCPF) e a uma associação de professores”.
Perante uma sala cheia de empresários portugueses e alguns membros do Conselho de Administração da CCIFP, Carlos Vinhas Pereira disse que “a CCPF entretanto já tinha deixado o espaço, a Cap Magellan pagava a renda de vez em quando e apenas a Santa Casa da Misericórdia de Paris cumpria com os seus compromissos. A situação tornou-se difícil para a Câmara de comércio”.
O Presidente da Câmara de comércio explicou que “nós propusemos à Mairie de Paris que alugasse diretamente o espaço às duas associações, à Cap Magellan e à Misericórdia de Paris, mas eles não quiseram, alugam apenas a uma estrutura”. Como chamou a atenção do LusoJornal o Conselheiro de Paris Hermano Sanches Ruivo, a referência à Mairie de Paris está errada, devendo ser referida a RIVP, proprietária do espaço.
“Por isso, uma solução que nos parece viável é que a Santa Casa da Misericórdia de Paris ocupe todo o 2° andar, já que ficou livre o espaço ocupado pela Cap Magellan. E negociámos com a Mairie de Paris para que a renda baixasse para 42.000 euros”.
Para o Presidente da Câmara de comércio e indústria franco-portuguesa, esta é a solução mais interessante para a Misericórdia porque não tinha de mudar de instalações e ficava com um espaço suficiente para aí ter o stock de alimentos que atualmente está espalhado noutros locais e teria também a possibilidade de acolher dignamente as pessoas, e tudo isto sem ter de fazer obras”.
Dificuldades financeiras
Se a hipótese de continuar no mesmo espaço é interessante para a Misericórdia de Paris, isso implica passar de uma renda de 10.000 euros para 42.000 euros por ano sabendo que a associação tem também um posto salarial a assumir, como indicou o Tesoureiro Marc Jacinto.
Os produtos alimentares que a associação costuma angariar para entregar às famílias carenciadas está atualmente em dois locais de duas associações, uma de Puteaux e outra de Pontault-Combault, podendo passar a estar depositado em Paris.
É por isso que a Provedora Ilda Nunes disse que “uma parceria com empresários não é só necessária, é indispensável” e, com uma intervenção muito emocionada terminou dizendo que “se não tivermos o vosso apoio, em vez de estarmos a ajudar as pessoas necessitadas, vamos acabar por ter de fechar a casa”.
O antigo Deputado e antigo Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, Carlos Gonçalves, presente na sala, lembrou que a Misericórdia de Paris “já funcionou sem locais”, e, alegando que a renda lhe parece “demasiado cara”, sugeriu a criação de um grupo de trabalho para “encontrar um plano B”. “Fora de Paris os alugueres são bem mais baratos” lembrou.
Alguns dos empresários presentes na reunião apelaram à solidariedade dos colegas. “Nós não vos podemos abandonar” disse David Alves, também Administrador da CCIFP, mas também houve quem dissesse que a soma de uma renda de 42.000 euros e de um posto de salário acabaria por ser desproporcional face ao orçamento apresentado pelo Tesoureiro”.
Mónica Lisboa destaca “espírito de solidariedade”
A Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Mónica Lisboa, diz que “abordar estes assuntos com toda a transparência é importante” e considerou a reunião “muito positiva”.
“A Misericórdia de Paris continuará sempre a contar com o apoio deste Consulado, nomeadamente o apoio jurídico e social. Podem contar connosco, como também contamos com vocês”.
Também Helder Joana, o “número dois” da Embaixada de Portugal em Paris enalteceu o trabalho da Misericórdia e garantiu que “todo o apoio institucional continuará a ser dado por Portugal”.
Mónica Lisboa lembrou ainda os apoios que a Misericórdia recebe da Direção Geral dos Assuntos Consulares e Comunidades Portuguesas (DGACCP) no quadro dos dispositivos de apoio ao movimento associativo do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
No seguimento deste encontro no Consulado Geral de Portugal em Paris, os empresários e a delegação da Misericórdia de Paris seguiram para a Embaixada de Portugal, porque o Embaixador José Augusto Duarte também decidiu associar-se ao apelo e dar apoio a esta instituição portuguesa de ajuda às famílias mais carenciadas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário