Humoristas criticam a Prefeitura: respeitem o humor
Os humoristas cearenses Titela, Pokindea e Mateus Cridão acusaram a Prefeitura de Fortaleza, o prefeito Evandro Leitão (PT) e a Secretaria Municipal de Cultura (Secultfor) de não valorizar o setor. Segundo os artistas, o humor foi esquecido na programação do aniversário de 299 anos de Fortaleza.
Para a programação do evento, a Prefeitura gastou cerca de R$ 1,5 milhão no pagamento de cachês aos cantores, como Natanzinho Lima (R$ 500 mil) e Zé Vaqueiro (R$ 400 mil). Já para o setor, sobrou homenagem ao Dia do Humor, com “shows de humoristas cearenses”, no Museu do Humor e Teatro Chico Anysio.
“Obrigado pela ‘homenagem’ de pagarem 200 reais pra um comediante ir lá ser ‘homenageado’! Fiquem agindo como se a gente fosse uns coitados que a gente finge que engole esses discursos de vocês. Mas a gente não esquece da reunião, viu!”, criticou o humorista Mateus Cidrão, nas redes sociais. Segundo ele, R$ 200 teria sido o cachê pago pela gestão municipal aos humoristas contratados.
Titela também se posicionou nas redes sociais e afirmou que o espaço cedido ao humor, ainda que pequeno, somente foi garantido porque os artistas “fizeram zuada”. “Uma festa bacana, bonita, com vários artistas muito bem remunerados. E o humor cearense lá no cantinho, nem o nome dos artistas saíram. Você sairia da casa de vocês para assistir um show que vocês não sabem nem quem vai se apresentar? E detalhe: um cachê miserável”, afirmou Titela.
Os dois artistas foram procurados pela equipe da Prefeitura, às vésperas das festas pelo aniversário da cidade, e mostraram as mensagens nas redes. A gestão tentou acalmar os ânimos mostrando que o humor estaria contemplado na programação com a homenagem aos 11 anos do Museu do Humor. Mas apenas gerou mais críticas.
“Não adianta vir aqui no direct mandar mensagenzinha tentando explicar o que não tem explicação. O humor foi esquecido e agora, de última hora, estão tentando reverter a situação de uma coisa horrível que vocês fizeram. Feio demais”, criticou Titela.
Já Cidrão foi mais duro. “O humor merece respeito, e a gente merece respeito. Porque aqui é a terra do humor e a gente faz muito por essa cidade. Vocês deviam tomar vergonha na casa de vocês de ficar fazendo essa palhaçada de ficar querendo fingir que vocês se importam, porque vocês não se importam. Então, se vocês querem ficar nessa palhaçadazinha, vocês agora vão ter de aguentar também. Porque não tem mais nenhum otário aqui. E a gente vai falar mesmo, porque vão aprender a tomar vergonha cara agora. Aliás, já passou da hora.”
Outro que criticou a Prefeitura foi o humorista Everton Cassio, o Pokindea, que trabalha com vídeos de humor nas redes. “Nós é a terra do humor em qualquer canto do mundo. Temos muitos humoristas de nome, como Tiririca, Tom Cavalcante, Tirulipa, Chico Anysio. Foi uma galera que conseguiu transformar nossa cultura. É tão bom sua cultura maior ser o sorriso. Eu acho muito paia e muita ironia a Prefeitura não valorizar os humoristas daqui”, afirmou Pokindea.
Everton destacou que os gestores “não olharam pro nosso lado maior, que são os humoristas. Nossos humoristas de peso, a galera que carrega, pivete, essa cultura de muito tempo, que vai trazendo de geração em geração, não tá sendo valorizado”. Ele lembrou ainda que, durante a campanha de 2024, alguns humoristas entrevistaram os candidatos e houve a expectativa que o setor seria valorizado.
“Os caras falaram que iam valorizar a cultura. Eu não faço stand up. Nós temos a fonte dos humoristas, mas os caras não são valorizados e quando é pra ser chamado para um show, a Prefeitura quer pagar 200 conto, 150 conto. Isso não pode deixar acontecer jamais”, critica Everton. Para ele, o humorista “precisa ser valorizado. Pode deixar que o resto a gente faz, que é o quê: fazer vocês rirem”, encerra.
Nota da Prefeitura de Fortaleza
A Secretaria Municipal da Cultura (Secultfor) informa que mantém importantes e constantes espaços de diálogos para a construção da política pública cultural do município de Fortaleza. No caso específico da linguagem do humor, a programação prevista para este mês de abril foi fruto das propostas apresentadas por representantes da própria categoria, nos encontros realizados por meio dos canais de participação social, como os fóruns e os conselhos.
A Secultfor entende que esses espaços são fundamentais no processo de construção da política pública municipal e é por meio deles que se estabelecem os relacionamentos institucionais com os diversos segmentos culturais, a respeito das ações, programas e fomento.
A programação do Dia do Humorista, no último dia 12 de abril, que compôs a programação celebrativa aos 299 anos de Fortaleza, foi realizada por meio de apoio cultural concedido ao “Abril, Mês do Humorista”, festival realizado pelo Instituto de Cultura, Riso e Arte (Incriarte). Este ano, em sua 22a edição, com exposição e apresentações humorísticas ao longo de todo o mês, contemplando 40 profissionais de humor, pagos pelo próprio realizador.
A Seculfor tem priorizado a escuta e o diálogo aberto junto a todas as linguagens artísticas e informa que, conforme pactuado com os representantes do Humor nos encontros realizados este ano, outras demandas, como a inclusão da linguagem nos editais, serão atendidas em breve.
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