Por Fabricio Moreira
Democracia Inversa
Outro dia me peguei pensando nas voltas que a democracia dá, e em como, às vezes, ela anda de marcha a ré. Sentado na cadeira da calçada, ouvindo a conversa do vizinho e com um olho no noticiário, me dei conta de uma cena que se repete de quatro em quatro anos: candidatos com milhares de votos ficando de fora, enquanto outros, com uma contagem modesta, garantem suas poltronas no Parlamento. Dizem os entendidos os estudiosos, juristas e historiadores, que o sistema proporcional foi criado para ampliar a representatividade. Uma forma de colocar o gari e o doutor, o agricultor e o empresário, o índio e o sindicalista lado a lado nas casas legislativas. Em teoria, é bonito. Parece até justo. Mas aí vem a prática e mostra que nem sempre o mais votado leva. E isso, confesso, me embrulha o estômago. Como pode um deputado estadual ser eleito com 17 mil votos, enquanto outro, com 40 ou até 50 mil, fica somente na suplência ? Dizem que isso é um tal “quociente eleitoral”. Um cálculo complicado que ninguém explica direito e que menos ainda se entende. A conta não fecha. A lógica se perde. A vontade popular, ao que parece, é distorcida por um número que o povo não escolheu. Fico pensando: e se fosse tudo mais simples? Se as 46 vagas da Assembleia Legislativa do Ceará fossem ocupadas pelos 46 mais votados, sem puxadores de votos, sem quociente, sem surpresas de última hora? Será que não estaríamos respeitando melhor o desejo das urnas? Democracia de verdade, penso eu, é quando o voto vale o que ele representa. E não quando entra na conta de um partido e vira moeda de troca. Sei que há quem defenda o sistema atual com unhas e dentes. Mas eu, com minha teimosia de cidadão, jornalista, curioso e atento, continuo achando que tem algo errado aí. Falei e tá falado. E, se me deixarem, repito no próximo café.
Nenhum comentário:
Postar um comentário