política
O dever da tolerância, por José Aníbal
Escrevi semanalmente neste blog, sempre às quartas-feiras,
desde 12 de março de 2013. Neste período pude experimentar a tal
“cachaça” de que falam os jornalistas. Escrever é tão estimulante quanto
ler. Principalmente numa democracia como a nossa, vibrante, anárquica,
cheia de excessos e lacunas.
Desde então, reservei as noites de
quarta para espiar como o artigo se saiu e os comentários que os
leitores do Noblat deixaram para mim. Falar sobre o cotidiano do país
assim, com assiduidade, posicionamento e exposto ao contraditório (e ao
ataque), não é fácil. Habituados a certa inviolabilidade, políticos
raramente têm a possibilidade de saber o que dizem e o que pensam de
suas ideias. Muitos não querem nem saber.
O mais interessante, no
entanto, é observar que há no noticiário um nervo oculto que, por algum
motivo, desperta o interesse de todo tipo de gente, interfere nas
percepções coletivas e causa nas pessoas a necessidade de falar – o que
sai daí tem sentidos dos mais variados. A utopia democrática é juntar
essa diversidade com absoluta tolerância de uns para com os outros.
Espaços como este blog, onde a praticamos, precisam ser preservados.
Foi
justo no aperfeiçoamento democrático e no dever da tolerância onde
Dilma, ao meu ver, mais deixou a desejar como presidente da República –
mais do que pelo evidente populismo que marca seu governo ou no desleixo
com a coisa pública. Dilma deu guarida aos guerrilheiros do achincalhe
político, aos sequestradores de reputação, aos que usam o Estado para
perseguir, intimidar e difamar adversários. Justo ela.
Como é de
conhecimento público, o enredo que imputa a mim desvios que jamais
cometi foi forjado dentro do Ministério da Justiça. Arranjado por um
deputado petista, o documento apócrifo foi vazado com a chancela do Cade
e plantado na Polícia Federal, clandestinamente, pelo ministro José
Eduardo Cardozo. O protocolo de entrada do documento na PF não existe. O
PT tentou sujar meu nome e usou a estrutura do Estado para espalhar o
boato. Semana passada, a oitiva, voluntária, das testemunhas,
desmoralizou as calúnias do bandido delator protegido pelos petistas.
Não
é de se estranhar que os mesmos que sustentam, acobertam e tiram
proveito político dessas desonras defendem ardorosamente o “controle
social” da mídia e produzem listas negras de jornalistas. A imprensa
comprada, obviamente, os idolatra. Dilma, vértice desta edificação,
contribuiu, com sua permissividade, para corrosão dos costumes políticos
que ora observamos. Não construiu instituições nem reforçou os
anteparos democráticos. Não foi estadista.
Quanto a mim, continuo
entusiasta da democracia pois, entre outras vantagens, ela se encarrega
da própria depuração. Para isso, é fundamental que, mesmo discordando,
todos sejam livres para falar. A verdade e justiça são irreprimíveis.
Basta que não nos intimidemos. Agradeço ao Noblat e aos leitores pela
generosidade da troca democrática. Tanto os que gostaram como os demais.
Que bom que vocês leram. Eu li o que vocês escreveram.
José Aníbal é deputado federal (PSDB-SP).