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Erbs Jr./Folhapress
Antes do fardão - Alberto Venâncio Filho, Domício Proença Filho, Antônio Carlos Secchin
e Zuenir Ventura cumprimentam Ferreira Gullar (primeiro da esq para
dir), que foi eleito imortal na ABL (Academia Brasileira de Letras), no
Rio
Aplaudido de pé por seus pares,
familiares e amigos, Ferreira Gullar entrou no Salão Petit Trianon, da
Academia Brasileira de Letras, precisamente às 21h, dando início à
cerimônia de sua posse na cadeira de n 37, que foi anteriormente ocupada
pelo também poeta Ivan Junqueira, falecido em julho deste ano. A
cerimônia contou com a presença de Claudia Ahimsa e Luciana Aragão
Ferreira Gullar, esposa e filha do poeta, além da viúva de Ivan
Junqueira, Cecília Costa Junqueira e personalidades como o senador
paulista José Serra, o acadêmico recém-eleito Zuenir Ventura, o escritor
Ziraldo e a atriz Fernanda Montenegro, entre outros.
"É uma
emoção imensa. Nós, que sabemos o percurso dele desde a infância. O
filho de um verdureiro em São Luis do Maranhão, que passou por tudo o
que ele passou, vindo para o Rio de Janeiro morar em pensionato, sem ter
jamais cursado uma faculdade, passando pelo exílio... É muito bonito
assistir a essa vitória e esse reconhecimento", afirmou a filha de
Gullar.
A atriz Fernanda Montenegro também fez questão de
homenagear o poeta. "Estou aqui porque é uma grande festa. É uma
louvação a um grande brasileiro, um homem que tem uma vida impoluta, que
viveu a política na sua melhor perspectiva, e um poeta extraordinário",
afirmou a grande dama da televisão.
Já Ziraldo enfatizou o
tempo em que Gullar evitou concorrer à uma cadeira na ABL. "Nunca se fez
tanta justiça como na eleição de Ferreira Gullar. Tem outros como ele
aí fora, que ainda se recusam a vir para cá, mas ele acabou se
convencendo de que era hora dele vir e isso honra muito a academia. É
uma forma de oficializar a glória que ele já tem. É na obra que fica a
imortalidade do artista. Ela existiria com ou sem a academia, mas com o
reconhecimento de seus pares, fica melhor. Eu fui um dos que mais
incentivou ele a vir para cá", disse.
Já no púlpito, em seu
discurso, além de agradecer a presença de toda a família - "apenas as
bisnetas não estão aqui", o poeta agradeceu a participação dos
acadêmicos em sua eleição e o apoio à sua candidatura. "É com enorme
alegria que assumo a honrosa condição de membro da Academia Brasileira
de Letras. Agradeço a generosidade dos que votaram em apoio à minha
candidatura, aceitando-me como seu companheiro nesta casa a que já
pertenceram e pertencem nomes altamente significativos da nossa
literatura e da nossa cultura. Agradeço particularmente a alguns
companheiros que durante anos, pela amizade que me tinham, insistiram
incansavelmente para que eu me candidatasse, como Eduardo Portella, José
Sarney e outros, além de amigos que já se foram, como o próprio Ivan
Junqueira, a quem tenho a honra, mas não a alegria de substituir",
discursou.
Ferreira recebeu a espada das mãos do decano da ABL,
José Sarney. O acadêmico Eduardo Portella passou o colar da academia ao
novo acadêmico e Ana Maria Machado foi a responsável pela entrega do
diploma. Como é de praxe, ele escolheu o acadêmico Antônio Carlos Sechin
para fazer o discurso de recepção na academia. Em suas palavras, Sechin
falou sobre a adolescência de Ferreira Gullar, lembrando uma redação
feita em 1945, na qual uma professora tirou 0,5, por conta de dois erros
de português. "Hoje, 69 anos depois, a academia, simbolicamente,
restitui aquele meio ponto que a professora subtraiu na redação de 1945.
Aqui, sem dúvida, fostes acolhido com a nota máxima", brincou.
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Ferreira Gullar é eleito imortal na ABL
Eleição fácil
Por 36 votos a favor e um nulo, o escritor Ferreira Gullar foi eleito
na tarde de 9 de outubro o novo imortal da ABL (Academia Brasileira de
Letras). Na sessão, que aconteceu na sede da instituição no Rio,
estavam presentes 19 acadêmicos, e outros 18 votaram por
correspondência.
Poeta, crítico de artes e dramaturgo de 84 anos, Gullar é o novo titular da cadeira 37, ocupada anteriormente por
Ivan Junqueira, que morreu no dia 3 de julho.
Favorito, ele concorria com José William Vavruk, o escritor e
historiador José Roberto Guedes de Oliveira, e o poeta Ademir Barbosa
Júnior.
"Ele disse que vai ficar muito feio no fardão, mas todos
nós ficamos com cara de periquito", brincou o historiador Alberto da
Costa e Silva, que há 14 anos ocupa a Cadeira 9. "Eu já me acostumei ao
fardão, mas sofro nos dias de verão".
Ferreira Gullar, na opinião do historiador, é "um grande poeta, o maior da minha geração", disse ele ao
UOL. "Ele não queria, mas acabou cedendo e entrando à casa de Machado de Assis e Joaquim Nabuco".
"Sempre que escolhemos um companheiro na casa é um momento de alegria.
Ele não deu entrada antes porque não quis, foi culpa dele", disse
Nélida Piñon. "A Academia acolheu com alegria a inscrição dele. Hoje ele
quis e ganhou. Não foi difícil, ao contrário, foi facílimo".