O copiloto Andreas Lubitz (Foto: Reprodução)
A Promotoria francesa disse nesta quinta-feira (26) que o copiloto do
avião da Germanwings que caiu na terça-feira (24) nos alpes franceses
assumiu o controle da aeronave e teria derrubado o avião de maneira
deliberada. Segundo a autoridade, ele estava respirando normalmente até o
momento em que a aeronave bateu nas montanhas.
O copiloto foi identificado como Andreas Lubitz, de 28 anos,
de nacionalidade alemã. Segundo o jornal "Bild", ele seria de
Montabaur, em Rhineland-Palatinate, na Alemanha. Ele não estava em lista
de suspeitos de terrorismo, e por enquanto não há base para afirmar que
tenha sido um incidente terrorista.
O promotor de Marselha, Brice Robin, afirmou em uma entrevista coletiva
que os registros de áudio mostram que o piloto deixou a cabine e que o
copiloto se recusou a abrir a porta para a volta do tripulante.
Robin também afirmou que o copiloto acionou o mecanismo de descida do
avião de maneira voluntária quando estava sozinho na cabine. Não houve
alerta de emergência vindo do avião, segundo o promotor.
Ainda de acordo com Robin, os sons da caixa-preta dão a entender que
Andreas Lubitz estava bem e não parecia ter sofrido nenhum problema de
saúde, como um AVC. Ele disse que só nos últimos minutos da gravação se
ouvem gritos dos passageiros.
Segundo o promotor, durante os primeiros 20 minutos de voo, há uma
troca de cortesias e até mesmo brincadeiras entre o piloto e o copiloto.
Quando o piloto começa a preparar o procedimento para a aterrissagem em
Dusseldorf (Alemanha), o copiloto se mostrou mais "lacônico".
Depois que o comandante sai da cabine, o copiloto fica sozinho até o momento da queda.
"Por vontade própria, ele se negou a abrir a porta da cabine para o comandante", enfatizou.
"Ele não tinha nenhuma razão para impedir a volta do comandante ao
cockpit", contou ainda Robin, acrescentando que o piloto pediu várias
vezes acesso à cabine, sem obter resposta do copiloto.
Brice
Robin, o promotor de
Marselha, fala sobre investigações em coletiva de
imprensa no sul da França. À direita, o general David Gaultier olha para
baixo com as mãos na cabeça (Foto: AP)
Sozinho na cabine, o copiloto "pressionou o botão de perda de altitude
por uma razão que não fazemos nenhuma ideia, mas que pode ser visto como
um desejo de destruir a aeronave", afirmou.
Com os dados que a investigação tem até agora, não se pode falar de
suicídio, segundo o promotor, que reforçou que todas as informações são
preliminares e que as investigações continuam.
De acordo com Robin, a análise da caixa-preta de dados irá ajudar os
investigadores a entender melhor o que aconteceu. Por enquanto, não há
indícios de envolvimento de outras pessoas.
O ministro alemão de Transportes, Alexander Dobrindt, disse que,
segundo especialistas alemães, é "plausível" que o copiloto tera
deliberadamente derrubado o avião da Germanwings
Piloto teria tentado arrombar a porta
Nesta quarta, uma fonte militar próxima das investigações disse sob
anonimato ao jornal “New York Times” que a gravação da caixa-preta
indica que
um dos pilotos teria ficado trancado para fora da cabine e não teria conseguido voltar.
A fonte disse que a gravação indica que no começo do voo os dois
pilotos conversavam de maneira tranquila e que depois um deles teria
saído da cabine e não teria conseguido entrar de volta.
"O homem do lado de fora bate levemente na porta da cabine e não há
resposta. Depois bate mais forte e sem resposta. Nunca há uma resposta",
diz a fonte. Também seria possível escutar ele tentando arrombar a
porta.
Segundo a Promotoria francesa, a interpretação mais plausível dos dados
obtidos até agora aponta que o copiloto deliberadamente se recusou a
abrir a porta da cabine para a volta do piloto.
Lufthansa chocada
Carsten Spohr, CEO da Lufthansa, disse em entrevista coletiva após a
divulgação das informações que está sem palavras com a revelação de que o
copiloto teria deliberadamente derrubado o avião da Germanwings.
Segundo o CEO da Lufthansa, o copiloto Andreas Lubitz começou seu
treinamento em 2008, mas o interrompeu brevemente. Ele foi comissário de
bordo enquanto não podia pilotar. Ele começou a atuar como copiloto da
companhia em 2013. Ele estava "100% apto para voar, sem restrições", e
passou em todos os exames de pilotagem e médicos.
Spohr também disse que não tem nenhuma informação sobre o motivo que
levou o copiloto Andreas Lubitz a fazer o que fez. "O que aconteceu foi
um incidente trágico individual, eu gostaria de enfatizar isso", disse.
"Temos altos padrões, mas um caso único como este não pode ser
previsto."
Ele também explicou como funciona o acesso à cabine de comando. “Se um
dos pilotos deixa a cabine, é possível chamar do lado de fora, o piloto
pode olhar e ver quem quer entrar, e você pode abrir a porta controlada
eletronicamente. Temos procedimentos – se o piloto saiu e o que ficou
dentro está inconsciente, há um código que pode ser utilizado. Há um
barulho dentro da cabine, e se ninguém abrir, a porta se abre
eletronicamente. Mas a pessoa que está do lado de dentro pode impedir
que a porta se abra.”
O que se sabe sobre a tripulação
Andreas Lubitz havia sido contratado em setembro de 2013 e tinha 630
horas de voo de experiência, informou a Lufthansa à AFP. Jornais
internacionais disseram que Andreas se formou na escola de voo da
Lufthansa em Bremen e obteve sua licença de voo em junho de 2010.
Ele vivia com os pais na cidade e também morava em Düsseldorf, afirmou a
prefeita de Montabaur ao jornal "El País". O jornal espanhol afirmou
ainda que o perfil de Andreas no Facebook foi apagado.
O promotor Brice Robin disse que não tem nenhuma informação sobre o perfil psicológico ou a filiação religiosa do copiloto.
Já o piloto do Airbus A320 tinha 10 anos de experiência e mais de 6.000
horas de voo, segundo a Germanwings. Identificado pelo jornal "Bild"
como Patrick S., o piloto também era alemão.
Não explodiu
Segundo Rémi Jouty, diretor do BEA, órgão responsável pela investigação
do acidente, a trajetória do avião indica que ele voou até a queda,
descartando a hipótese de explosão no ar. "Isso não é a característica
de um avião que explodiu em voo", disse, explicando a maneira como os
destroços ficaram espalhados no terreno da queda. Ele se recusou a dizer
se a tripulação estava consciente durante a queda e na hora do choque.
A última mensagem da cabine do avião para o controle de tráfego era
rotineira, segundo a BEA. Um minuto depois, o avião começou a descida,
que continuou até o impacto.
O radar acompanhou a aeronave até bem pouco antes do choque com a
montanha. A aeronave perdeu contato com o tráfego aéreo francês quando
estava a 6 mil pés de altura.
Segundo ele, é necessário comparar os dados das duas caixas-pretas para
saber o que exatamente aconteceu com o avião acidentado. Isso pode
levar dias, semanas ou meses. A segunda caixa-preta, que mostra dados do
voo, ainda não foi encontrada.
Vítimas
As autoridades ainda não divulgaram a lista de passageiros e tripulantes embarcados no
avião da Germanwings que caiu nos Alpes franceses.
Porém, diante da notícia da tragédia, alguns familiares, empresas e
órgãos oficiais dos países divulgaram nomes de pessoas que estavam no
voo.
O Airbus A320 partiu de Barcelona, na Espanha, com destino a Düsseldorf, na
Alemanha, e levava 150 pessoas – 144 passageiros e seis tripulantes.
Segundo informações da Germanwings, entre as vítimas do acidente havia
72 alemães, 35 espanhóis, 2 australianos, 2 argentinos, 2 iranianos, 2
venezuelanos, 2 americanos, 1 marroquino, 1 britânico, 1 holandês, 1
colombiano, 1 mexicano, 1 dinamarquês, 1 belga e 1 israelense.
A origem de algumas vítimas ainda é incerta, especialmente devido a
casos de dupla nacionalidade. Devido à violência do acidente, as
autoridades acham pouco provável encontrar sobreviventes.
Avião com parentes de vítimas decola de Düsseldorf, na Alemanha, nesta quinta (Foto: Reuters)