Sob o edredom
George Orwell não foi, afinal, um mau profeta, foi apenas um profeta apressado. A sociedade controlada por um Big Brother que tudo vê e tudo sabe, que Orwell previu para 1984, só começou a existir, com os avanços da bisbilhotice eletrônica, há pouco tempo. Hoje sabemos que tudo que mandamos por e-mail ou falamos pelo telefone, mesmo que seja apenas notícia do furúnculo da vovó, pode estar sendo monitorado. Os americanos, principalmente, têm os meios para nos controlar completamente, todo o tempo, dia e noite. Não é mais o Big Brother, mas o Big Uncle, o grande tio do Norte, de olho em todos nós.No livro de Orwell, uma das funções do Big Brother é a de impedir o amor entre os cidadãos. O sexo tem que ser escondido, e é quase impossível esconder-se dos olhos do grande controlador. O que torna irônico o significado que "Big Brother" adquiriu com o tempo, como sigla de TV, em todo o mundo. Um dos atrativos do programa é o prazer do voyeurismo, o de ver o que acontece quando jovens dos dois sexos, e às vezes de três, são reunidos num clima de sensualidade exposta, e o sexo é tacitamente permitido, desde que embaixo do edredom. A distopia de Orwell, do estado omnipresente, até na cama, se transformou na utopia do sexo sem restrição, em que, em vez de se esconder das câmeras, os competidores a procuram, para aparecer mais.
O Big Uncle não deve se interessar pelo que fazemos sob o edredom. A minha vida sexual eu tenho certeza que não causa nenhum frisson em Washington. Mas, em todos os outros sentidos, a profecia de Orwell foi confirmada. 1984 finalmente chegou.
Não sei se é verdade, mas ouvi que a discussão, na Globo, sobre autorizar ou não o beijo gay na novela foi mais longa e difícil do que se imagina. Havia duas facções: a que defendia beijo de língua e a que só aceitava boca fechada. Só na última, tormentosa, reunião ficou decidido: boca fechada. O Brasil ainda não está pronto para a língua.
"Minha vida sexual, tenho certeza, não causa frisson em Washington. Mas, em todos os outros sentidos, a profecia de Orwell foi confirmada. 1984 finalmente chegou."
Publicado no Globo de hoje.
Enviado por Rádio do Moreno -
5.2.2014
|11h35m
PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA
O “Autismo” em Amor à Vida: Linda e Rafael
CARLOS VIEIRAUma vez, um conhecido me rotulou de “noveleiro”, é claro, de um modo pejorativo, como se noveleiro fosse alguém menor, brega, inculto e superficial. É óbvio que aquela sutil (?) ofensa vinha de um “falso intelectual” da classe média, que em sua atitude arrogante, pensa que cultura é entender e se interessar por “artes maiores”. A propósito, penso que não existem artes maiores nem menores, o que existe é Arte, consequência da capacidade do artista ou do autor de uma novela, no caso, de apreender através de níveis simbólicos as várias nuances do existir humano. A arrogância e às vezes a cultura de “orelha de livro” de algumas pessoas, são formas defensivas da ignorância e desprezo narcísico sobre o “comum da vida”. Pessoas que carregam dentro de si aquilo que chamo de “cura cosmética”, uma aparência de sensibilidade estético artística, denunciando uma pobreza psíquica.
A novela, como obra de arte, tem a facilidade de entrar no lar de todos e difundir cultura, humanidade e ética. O psicanalista, por exemplo, é alguém que pode ter também, um olhar para o simples, e enxergar na concretude dos fatos, as metáforas, os modelos de funcionamento mental e as experiências dramatizadas da “vida como ela é”. É o que vou tentar fazer nesse momento.
Fazendo um corte na história de “Amor à vida”, trago uma questão importante transmitida aos telespectadores: o enigma do Autismo. Autismo tanto como uma patologia precoce na vida de uma criança, assim como a Síndrome do Autismo Psicogênico, síndrome que remete às questões das relações psicopatológicas familiares, como também hà traumas severos acontecidos no berço do nascimento de um indivíduo.
Enfatizo nesse escrito a segunda possibilidade – um Autismo como reação defensiva, como um comportamento de “gato escaldado tem medo de água fria”, provavelmente consequente hà desafetos e feridas emocionais na tenra infância. Filhos estigmatizados, excluídos, às vezes não desejados por seus genitores e familiares mais próximos. Hoje é inteiramente aceita, a teoria de que as “carências afetivas, as mães depressivas, os pais violentos, e as condições cruéis e ameaçadoras da vida pós-moderna, são fatores que impedem o desenvolvimento da sociabilidade dos infantes e a expressividade dos seus afetos: amor, ódio, generosidade, bondade e capacidade de estabelecer vínculos amorosos.
O Autismo, o refúgio para uma ilha protetora, o distanciamento das pessoas e o medo de serem feridas, agredidas e injuriada, são medidas normais, defensivas de um ser humano, para não viver mais uma vez a violência do desafeto, da frieza, do desrespeito e da desconsideração. O desamor marca, às vezes, a retirada de uma pessoa para uma clausura de sobrevivência, ainda que pagando o preço de ser “autista”.
“Amor à Vida”, na história amorosa entre os personagens Linda (Bruna Linzmeyer) e Rafael (Rainer Cadete) revela de uma maneira poética, a possibilidade do resgate de alguém que estava separado da vida, por uma “vidraça”. Um homem que intuiu e teve a ousadia, esperança e coragem de lutar pelo seu amor, um amor por quem tinha pavor de amar, ou melhor, de conhecer pela primeira vez em sua vida, o Amor. O mundo de Linda é um mundo de solidão, de pesadelos, de uma escuridão que impede observar e acreditar em Afetos. A reação em criar uma redoma de vidro que permita a autossuficiência ser um modo de existir.
Estou me referindo ao autismo psíquico também, às “partes autísticas” de todos nós, face às feridas profundas em nosso psiquismo. Quem nunca teve desejos de se “encolher afetivamente” após uma perda ou um trauma amoroso? Linda é a ideia da rejeição violenta, do preconceito contra os distúrbios graves da mente, da falta de ser acolhido num estado psicótico. Uma psicose que é sinal de uma recusa à viver quando se é excluído e preterido. Linda vive num mundo seu, mundo da ilha, do refúgio como proteção para não ser ferido novamente. Rafael é aquilo que a família não pôde dar, aquilo em que a família se sentia feia na sua vaidade e aparência. Rafael surge como a possibilidade de que: “o amor cura”.
Paul Simon em uma de suas canções, um rock balada chamado “I am a Rock”(Eu sou uma Rocha), captou a experiência psíquica de um autista. Esse rock está num artigo da psicanalista Francis Tustin, “Anorexia Nervosa em uma Adolescente”, publicado em seu livro: “Barreiras Autísticas em Pacientes Neuróticos”, Editora Artes Médicas, 1990. Transcrevo a letra:
“Ergui paredes/ Uma fortaleza, alta e forte/ Que ninguém pode penetrar. /Não preciso de amizades/ Amizades causam dor/ É o riso e é amar o que eu desdenho/ Sou uma rocha/ uma ilha/ Tenho meus livros/ E minha poesia para proteger-me/ Estou blindado em minha armadura/ Oculto em meu quarto/ Seguro dentro do meu útero/ Eu não toco em ninguém e ninguém me toca/ Sou uma rocha/ Sou uma ilha/ E uma rocha não sente dor/ E uma ilha nunca chora.”
Podemos perfeitamente tomar essa letra como uma metáfora. Metáfora sobre os afetos no mundo pós-moderno. Mundo que criou uma cultura do prazer, do hiperprazer, da satisfação imediata do desejo, tendo como consequência, relações vazias, frias, fugazes e descartáveis.
Na história de Linda, o amor de seu pai não foi suficiente para neutralizar a intolerância de sua mãe e seus dois irmãos. Tal um “bicho” guardado em casa, Linda nunca foi vista como uma pessoa, como alguém que tinha recursos psíquicos, criatividade e principalmente, capacidade amorosa. Rafael traz colo, continência, respeito, dedicação e amor por uma pessoa sofrida, ensimesmada, perseguida e mergulhada num “escuro de vitalidade”.
Claudia S. Coelho, em seu artigo – “O Eu Lírico”, publicado na Revista Literatura, 2014, cita Fernando Pessoa se referindo ao mundo contemporâneo: “Com uma falta de gente coexistível, como há hoje, que pode um homem de sensibilidade fazer senão inventar seus amigos, ou quando menos, seus companheiros de espírito?”
Essa é uma das metáforas que “Amor à Vida” nos trouxe. Aprender a tolerar no objeto do amor, seus aspectos diversos do nosso Ideal. Amar é uma relação inteira que aceita, tolera e recebe também, os defeitos(?) do outro. Rafael deu muito amor e dedicação à Linda, e Linda renasceu, mostrou que seu “autismo” é um direito, um recurso mais do que uma doença, para sobreviver diante da “falta de gente coexistível” como intui o Poeta.
Somos grato a Walcyr Carrasco, criador da novela, e a Wolf Maia e Mauro Mendonça Filho, diretores, por essa brilhante história que contribuiu para que a mentalidade desse país possa refletir e revisar seus preconceitos.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London
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5.2.2014
|8h53m
A DISPUTA PELO PODER
Em ato com Marina, Campos intensifica ataques ao governo
Maria Lima e Paulo Celso PereiraSocialista admite dificuldade para firmar aliança com a Rede em SP. PSB deve seguir com Alckmin.
Se havia alguma esperança do PT em ter o apoio do governador Eduardo Campos (PSB) em um eventual segundo turno nas eleições de outubro, ela foi sepultada ontem com o mais contundente discurso do presidenciável no ato político de lançamento das diretrizes do programa de governo da coligação PSB/Rede/PPS. Com duras críticas à política econômica e à fome de cargos do PT, Campos disse que tem sofrido ataques baixos desde a 0h de 2014, mas que não vai "tremer" no embate com os adversários. Campos e Marina, no entanto, ainda não conseguiram consolidar alianças importantes nos estados, como em São Paulo. O PPS, consultado pouco antes do evento, oficializou ontem a participação na aliança.
No discurso prestigiado por parlamentares dos governistas PP e PDT, além de apoiadores da Rede e do PPS, Campos disse não se arrepender do apoio às eleições de Lula e de Dilma. Mas, agora, afirmou que o cenário é outro.
— Elogiei as conquistas do presidente Lula, que também são nossas. Mas agora é hora do novo enfrentamento político, das ideias — disse, meio a duras críticas sobre a política econômica do governo federal: — O Brasil parou. Tem uma dinâmica econômica que não funciona. Não há política econômica que se sustente como esta.
Ainda sem citar Dilma e o PT, criticou a política do atual governo:
— Querer parar o debate político através das formas, distribuindo cargos, ou pensando que todos se põem de joelho diante do poder do dia, não!
Para Campos, o governo se apega à crise econômica mundial para tentar justificar a má gestão:
— Não podemos ficar tapando o sol com a peneira, de que os problemas estão lá fora. Muitos dos problemas estão aqui dentro e precisam de uma liderança, de alguém que tenha a sinergia e consiga resolver os problemas não apenas com conversas e promessas.
Ainda com problemas internos na aliança com Marina Silva, o candidato aprovou gestos positivos feitos por ela durante o discurso, mas pela primeira vez admitiu que ele e Marina poderão ter candidatos diferentes em alguns estados. Na entrevista, citou, como exemplo, o caso de Brasília. Em conversas com aliados, admitiu que em São Paulo, o PSB deve seguir como aliado do tucano Geraldo Alckmin, e o grupo de Marina lançará outro candidato.
Antes do evento, Marina evitou assumir-se como candidata a vice de Campos, confirmação que o PSB espera há meses:
— Quem decide sobre o vice é o candidato. E o candidato é ele, Eduardo Campos, claro. Vocês têm alguma dúvida? A definição da vice vai depender de Eduardo Campos.
Mas no discurso foi positiva. Fez questão de reafirmar seguidas vezes o apoio à candidatura de Campos e já nas apresentações o chamou de "parceiro e, se Deus quiser, futuro presidente do Brasil":
— O que eu estou me propondo não é apenas uma aliança para que a gente possa estar em um palanque, mas para que a gente possa compartilhar um legado. Eduardo tem uma vantagem comparativa em relação a mim, não tem talvez a metade dos preconceitos que eu tenho de enfrentar.
Publicado no Globo de hoje.
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4.2.2014
|9h53m
RETORNO AO TRABALHO
No Congresso: punho erguido, os cabelos de Renan e o beijo gay
MARIA LIMADe mensalão ao beijo gay no horário nobre. Ao lado de Joaquim Barbosa, o petista André Vargas, vice-presidente da Câmara, repete gesto usado por condenados do mensalão.
A sessão que marcou o retorno dos trabalhos legislativos serviu para os parlamentares colocarem a conversa em dia. Alguns dos assuntos mais comentados: o beijo gay da novela "Amor à vida"; os 10 mil fios novos de cabelo do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que mostram por enquanto uma penugem eriçada; e as provocações do vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), que fez questão de sentar à Mesa ao lado do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, repetindo o gesto de punho erguido dos mensaleiros presos ou postando ironias nas redes sociais sobre o ministro.
Quando Barbosa se ausentou do plenário, Vargas fotografou a cadeira vazia e postou no Instagram: "Joaquim sumiu?". Na véspera, o petista criticou Barbosa por causa da publicação de uma foto sua ao lado de um empresário foragido, em Miami: "Barbosa tira foto em Miami com empresário foragido. Cadê os moralistas da mídia brasileira? Se fosse o Lula!". Sobre o gesto dos mensaleiros, justificou:
— Muitos companheiros se cumprimentam assim — disse, negando que tivesse ficado constrangido de se sentar ao lado de Barbosa.
O deputado Luiz Alberto (BA) estava preocupado com a delicadeza do beijo gay no encerramento de "Amor à vida", entre Félix e Niko. E endereçou a reclamação a Jean Wyllys (PSOL-BA).
— Aquele beijo foi uma fraude! Cadê a língua? Os marmanjos ficaram beijando o bigode um do outro!
— Você está de brincadeira! Se tivesse língua, vocês estariam reclamando de que era uma afronta às famílias — respondeu Jean Wyllys.
Os parlamentares notaram a afoiteza do recém-empossado ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante: chegou com meia hora de antecedência e teve que matar o tempo no cafezinho do Senado, até que Renan e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), chegassem. Em vez de Renan e Henrique receberem os ministros ao pé da rampa, foi Mercadante quem se postou no local e recebeu os dois presidentes do Congresso:
— O ego do Mercadante está do tamanho dele hoje. Encaixou! Agora ele acalma! — brincou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP).
— Mercadante como o novo grande articulador do governo vai facilitar a vida da oposição. Não converge nem dentro do partido, imagina dentro dessa base dividida — comemorava o líder do DEM, Ronaldo Caiado.
O segundo secretário da Câmara, Simão Sessim (PMDB-RJ), conversou com Barbosa e o questionou sobre a intenção do Ministério da Justiça de esvaziar as prisões, mandando para prisão domiciliar, com tornozeleiras, presos com condenações menos sérias. Barbosa pediu cautela na análise do projeto.
— Tem delinquente que pode amanhã fugir e ameaçar o juiz que o condenou — ponderou Barbosa, segundo Sessim.
O deputado também perguntou sobre as pretensões políticas do ministro:
— Gosto de andar no calçadão e ter contato com as pessoas, mas, apesar de ser eleitor do Rio, não quero saber de política agora — respondeu Barbosa, ainda segundo Sessim.
Publicado no Globo de hoje. Maria Lima e repórter do Globo em Brasília.
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3.2.2014
|10h03m
CAFÉ COM A PRESIDENTA
Dilma: Pronatec terá 8 milhões de matrículas até o fim do ano
A presidentE Dilma Rousseff disse hoje que o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego (Pronatec) já conta com 5,7 milhões de matrículas, das quais 4 milhões feitas nos cursos de qualificação profissional e 1,7 milhão, nos cursos técnicos. “Até o final do ano, vamos chegar aos 8 milhões de matrículas que tínhamos nos comprometido quando lançamos esse programa”, disse.No programa semanal Café com a Presidenta, Dilma informou que 60% das matrículas do Pronatec foram feitas por jovens com idade entre 17 e 29 anos, o que, segundo ela, mostra que eles veem no programa a oportunidade de melhorar a formação e conseguir um bom emprego. “[Isso] também é ótimo para o Brasil, que precisa, cada vez mais, de técnicos e de trabalhadores qualificados, para aumentar a produtividade nas nossas empresas e a competitividade da economia brasileira”, acrescentou. Ela destacou que, em 2013, os cursos do Pronatec podiam ser encontrados em 3.200 municípios e que, este ano, chegarão a 4.260 cidades.
Dilma explicou que o Pronatec oferece cursos técnicos que podem durar até dois anos, e cursos de qualificação com duração menor, de até quatro meses. Os cursos técnicos são oferecidos para quem está fazendo ou já terminou o Ensino Médio, disse. “Até o final de 2014, estarão em funcionamento mais 208 escolas técnicas federais. Já no início de março, teremos, em funcionamento, mais 151 escolas técnicas”, acrescentou. A presidente informou que o governo fez parceria com o Sistema S, como o Senai e o Senac, para a formação de técnicos nas mais variadas áreas.
Nos cursos de qualificação profissional, mais de 4 milhões de trabalhadores fizeram a matrícula para melhorar a capacitação, dos quais 900 mil eram beneficiários do Programa Brasil sem Miséria. “Esse esforço tem sido especialmente importante para a indústria”, disse. Com o Pronatec, o governo oferece mais de 300 mil vagas em cursos em setores estratégicos, como petróleo e gás, tecnologia da informação, construção civil, energias renováveis, entre outros.
A presidente Dilma também lembrou que, em março, serão abertas as inscrições para o Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec), que seleciona jovens e adultos que já concluíram o ensino médio para as vagas dos cursos técnicos do Pronatec. (Agência Brasil)
Ouça aqui a íntegra do programa.
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1.2.2014
|10h42m
JORGE MORENO
Nhenhenhém De Brasília
Eles são bons para cacete!A queda da ministra Helena Chagas representa apenas meia vitória do grupo antimídia do PT. Eles queriam a cabeça dela e a do ministro Paulo Bernardo. Vão ter que se contentar com uma só. Depois, nada garante que o novo ministro Thomas Traumann tenha ascendido ao posto para perseguir a imprensa. Seria um desrespeito à presidente Dilma e uma ofensa à formação democrática e ao currículo do ungido.
Na véspera de sair, Helena dormiu de bóbis no cabelo para cacheá-los antes de entregar a carta de demissão à presidente. Carta, aliás, escrita pelo marido Bernardo, tamanha a ansiedade de ver a mulher fora do jogo do poder. Quando a então ministra sentou-se para escrever, recebeu um pedido do marido: “assina aqui!”. A carta já deveria estar há dias no bolso do companheiro, se não, meses.
Dos “vitoriosos”, registro a deselegância do deputado André Vargas (PT): “A Helena foi pro pau! Eu não gostava dela”. Vargas está se sentindo o próprio Luiz Marinho.
Chá quente
Alguém, que não seja eu, precisa avisar urgentemente a Mercadante que Palácio é Palácio, ainda mais Palácio presidencial.
Antes mesmo de sentar-se na cadeira de ministro da Casa Civil, o gajo já virou motivo de fofocas entre funcionários.
É que, depois de indicado, na antessala da Dilma, pediu uma xícara de chá, tomou e nem olhou para o garçom pra dizer sequer muito obrigado.
Vice
Michel Temer entrou Lampião na reforma ministerial e corre o risco de sair Corisco. Ele está fraquinho, fraquinho junto a Dilma.
Mais Mulheres
Se Ideli for mesmo para o Direitos Humanos, no lugar da Maria do Rosário, Dilma passa a ser a única mulher no Planalto.
Bota a Mariana Ximenes lá, presidente!
Boxe na Gávea
Foi péssima a primeira da série de reuniões do Kassab com Cabral para discutir o apoio do PSD a Pezão. Como se fosse aquele Anderson Silva dos velhos tempos, Kassab entrou matando: criticou as amizades do governador e o uso de helicópteros como fatores responsáveis pelo fraco desempenho do candidato. Cabral reagiu à altura e enumerou todas as denúncias feitas contra a gestão do pessedista na prefeitura de São Paulo. O tapume da Gávea Pequena, local do encontro, já estava cheirando a sangue, quando o anfitrião Eduardo Paes pegou o sal grosso da picanha para fazer uma salmoura e jogar em cima dos ferimentos dos lutadores.
Em seguida, o prefeito aumentou o Martinho da Vila do seu jurássico aparelho de som, e os dois gladiadores, refeitos, passaram a responsabilizá-lo, em brincadeira, pelo “affair”.
Golpe, não!
Todos são testemunhas do apreço que tenho pelo único intelectual da cúpula petista, o governador Tarso Genro, e por sua campanha a favor da inclusão da tortura como crime imprescritível e inafiançável.
Só que, depois de ter botado a Dilma numa enrascada, ao defender a Constituinte para acalmar as ruas, eis que Tarso volta a defender a tese como programa de governo.
Constituinte, em plena vigência do Estado de Direito e democrático, é golpe.
Desavenças
As relações entre Lula e Cabral murcharam.
Tudo por causa da sucessão estadual.
Elas haviam chegado a um estado nirvana, que pareciam imunes a qualquer adversidade da política.
Os amigos comuns — poucos, porque a inveja não aglutina — acham que a culpa maior é do Lula. Ele, no início, era Pezão demais e detonava seu companheiro Lindbergh, inclusive para Cabral.
Lula foi recuando, recuando, e agora é Lindinho desde criancinha.
Memória
Já Dilma, parece, continua Pezão, mas apenas no coração. Ela se diverte com as presepadas de Cabral de imitar todos os políticos, mas não se esquece de que o governador só passou a dar atenção a ela quando sua eleição se tornou viável.
O colunista entra em férias
Enviado por Rádio do Moreno -
31.1.2014
|9h13m
PSDB
Mensalão tucano: alegações finais até o dia 17
O GLOBO BRASÍLIAJulgamento de Eduardo Azeredo pode acontecer ainda neste semestre
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem até 17 de fevereiro para enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) suas alegações finais no processo do chamado mensalão mineiro, que investiga se foi abastecida com dinheiro público a campanha pela reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB), hoje deputado federal, ao governo de Minas Gerais em 1998. A assessoria de imprensa de Janot informou que ele vai encaminhar o documento antes do fim do prazo, mas não estabeleceu a data. O procurador deve reforçar a convicção do Ministério Público de que o esquema existiu. O julgamento do tucano deve ocorrer ainda no primeiro semestre deste ano.
A Procuradoria esclareceu ontem que, como o STF está em recesso, a contagem dos prazos só será retomada no dia 3 de fevereiro, quando recomeçam as atividades do tribunal. A partir daí, o procurador terá 15 dias corridos para apresentar as alegações finais — uma espécie de recomendação pela condenação ou absolvição do réu, com a exposição de motivos.
Depois que o parecer do Ministério Público chegar ao STF, o relator do processo, ministro Luís Roberto Barroso, abrirá prazo de mais 15 dias para as alegações finais da defesa de Azeredo. Depois, Barroso vai elaborar seu voto. Ele quer concluir o trabalho em um mês.
Em seguida, o processo vai para o revisor, ministro Celso de Mello, que também precisa elaborar um voto minucioso sobre o caso. Assim que o revisor terminar o trabalho, o caso será liberado para a pauta do plenário. O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, já afirmou que tem a intenção de marcar o julgamento do mensalão tucano o quanto antes.
Publicado no Globo de hoje.
Enviado por Blog do Camarotti -
30.1.2014
|20h07m
Reforma ministerial
Ataques do PT motivaram saída de Helena Chagas da Secom
Já há alguns meses que a ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, vinha sofrendo pressão de setores do PT que queriam maior influência para liberar verbas de publicidade do governo federal, uma das atribuições da pasta. Outra queixa do partido se dava em relação à postura da ministra com a imprensa; alguns petistas desejam um enfrentamento maior em relação às notícias negativas envolvendo o governo.Durante o ano de disputa eleitoral, dizem esses críticos, a postura mais conciliadora de Helena Chagas, entra em rota de colisão com a linha já definida pela cúpula de campanha.
Com a saída de Helena, ganha força o núcleo de coordenação de comunicação composto pelo marqueteiro João Santana e pelo jornalista Franklin Martins, que ocupava a pasta na gestão Lula.
* Texto publicado: http://g1.globo.com/platb/blog-do-camarotti/
Enviado por Rádio do Moreno -
30.1.2014
|9h14m
A JUSTIÇA TARDA E FALHA
Mensalão tucano: 2º réu é beneficiado pela prescrição
Ezequiel Fagundes e Carolina BrígidoDepois do ex-ministro Walfrido Mares Guia (PSB-MG), o ex-tesoureiro da campanha de Eduardo Azeredo (PSDB-MG) Cláudio Mourão será o segundo beneficiado pela morosidade na tramitação do processo do mensalão tucano de Minas envolvendo os réus que não possuem foro privilegiado. Assim como Walfrido, que se livrou do processo em janeiro, Mourão terá as acusações de peculato e formação de quadrilha prescritas em abril próximo, quando completará 70 anos.
O processo investiga os desvios de dinheiro público para financiar a campanha pela reeleição de Azeredo (hoje deputado federal) ao governo de Minas, em 1998. A exclusão de Mourão é praticamente dada como certa, já que a juíza do processo, Neide Martins, da 9ª Vara Criminal de BH, ainda precisa ouvir dez testemunhas de defesa.
Faltam três testemunhas arroladas pelo réu Renato Caporali Cordeiro, ex-diretor da estatal Comig, atual Codemig, e outras sete de José Afonso Bicalho, ex-presidente do extinto banco Bemge. Só depois disso começa a fase de interrogatório dos réus, sem data para começar.
Confirmada a segunda prescrição, vão restar oito réus no mensalão mineiro, entre eles Azeredo e os mesmos integrantes do núcleo financeiro do mensalão petista, o lobista Marcos Valério e seus ex-sócios Ramon Hollerbach e Cristiano Paz. Segundo o Ministério Público, o mensalão mineiro foi a origem, o laboratório do mensalão federal, como assinalou o então procurador-geral da República, Antonio Fernando, na época da denúncia, em 2007.
O advogado de Mourão, Antônio Velloso Neto, disse ontem que seu cliente queria ser julgado. O defensor, ironicamente, culpou o Estado pela demora:
— Cláudio queria ser julgado e absolvido. Ocorrendo a prescrição, será por culpa da inoperância do Estado.
Hoje, a procuradoria-geral da República apresenta alegações finais no processo que corre no STF contra Azeredo. Em nota, Azeredo insistiu na versão de que o mensalão mineiro não existiu. Argumenta que o termo pressupõe pagamento regular a parlamentares para obter apoio em votações. Ele afirmou que as questões financeiras da campanha não estavam sob sua responsabilidade. Azeredo é defendido pelo advogado José Gerardo Grossi, o mesmo que ofereceu emprego ao ex-ministro José Dirceu, condenado no mensalão federal. O advogado disse não haver problema em atender um tucano e um petista. Ele lembrou que já defendeu causas "de praticamente todos os partidos".
Segundo as investigações, o esquema é o mesmo engendrado depois por Valério no mensalão do PT. Eram feitos empréstimos fictícios no Banco Rural, e o dinheiro era utilizado na campanha. Azeredo nega: "Nenhum dirigente do PSDB — ou o próprio Azeredo — assinou empréstimos. Os que foram feitos pela SMP&B no Banco Rural não foram operações fictícias e foram pagos".
Publicado no Globo de hoje.
Enviado por Rádio do Moreno -
29.1.2014
|13h34m
Psicanálise da Vida Cotidiana
Das vicissitudes do Poder
CARLOS VIEIRAA história que passo a contar pode ser verídica e qualquer semelhança é mera coincidência. História acontecida num pequeno pais da América Latina.
Num certo interior do país residia uma família, aristocrática, burguesa, que há muito, desde seus ancestrais, dedicava-se ao cultivo do café. Fazendas enormes, plantações imensas do pequeno grão de ouro, centenas de empregados, uma casa grande, árvores circundavam aquele lugar bucólico. A família era composta dos genitores, um avô ainda vivo e três filhos. Duas filhas e um menino meio arredio, irritadiço, belo em sua forma estética, preguiçoso e avesso aos estudos. O progresso sempre foi visível, com safras imensas, lucros altíssimos, e a cada dia, seu Mariano, homem de curso primário e secundário com um diploma de Administração comprado numa Faculdade local, acumulava bens e bens materiais. Doutor então, doutor, que logo se transformou em líder político, tido pelos seus conterrâneos como a voz reinante do poder daquele município.
Educou suas duas filhas no magistério, mas as mesmas por fim se casaram com filhos de amigos do “poderoso chefão”, transformando-se em donas de casa, domésticas e educadores dos netos de Mariano. Moças lindas, esbeltas, de olhos esverdeados, no entanto incultas e avessas a qualquer tipo de uma cultura mais relevante.
Rosivaldo, o filho, já aos seus 16 anos tinha um automóvel de última geração, desfilando nas ruas de Ibiquira, fazendo pegas com seus amigos, desvirginando jovens menos abastadas e namorando sem compromisso suas amigas da mesma classe social. Sempre foi um garoto agressivo, impulsivo, mal educado, tendo um vício insólito: engravidava suas “namoradas” e, como Seu Mariano não admitia assumir, mandavam as garotas frívolas fazer aborto na cidade grande, dando após o “homicídio pactual” uma pensão irrisória. Ele mesmo, Mariano, segundo conta a lenda, tinha três mulheres fora do casamento. No tempo em que seria para Rosivaldo fazer faculdade, a história se repetiu: compraram um vestibular numa faculdade privada, formaram o mancebo irresponsável,e o mesmo agora, mostrava sua pose de doutor e filho do “governante” da região.
Mariano, rico, grandiosamente rico, dono de fazendas, postos de gasolinas, sócio de um canal de televisão, membro dos amigos da paróquia e presidente da Associação Comercial, resolve entrar na política. Duas vezes Deputado Federal, duas vezes Senador, e enfim, o “doutor em Administração” recebe como honraria um cargo de Procurador do Tribunal de Contas do Estado.
No íntimo da vida familiar e social, Doutor Mariano sempre foi um homem macho, de poucas palavras, comprava todo mundo em benefício próprio. Mudou com sua esposa e filho para a capital do Estado, comprou um apartamento com vista panorâmica da cidade, quatro carros importados, seis empregados, três cachorros de raça. Rosivaldo nesta altura, não fazia nada na vida, mas seu pai fazia de que conta que ele administrava alguns dos seus postos de gasolina.
O menino-criança, na cidade grande, desenvolveu amizades com pessoas ligadas ao pai: lobistas sem ética, funcionários públicos estaduais e federais que, o penoso esforço que faziam na vida era buscar ou mandar buscar os contracheques gordos ao final do mês. Logo, Rosivaldo começa a se envolver com drogas, maconha, cocaína e algumas incursões no Crak. Ato continuo: estupros, badernas em boates, desvirginamento irresponsáveis, brigas, pegas de automóveis em plena via pública e algumas entradas na polícia sem maiores consequências: seu pai e os amigos do seu pai acobertavam tudo, pagavam propinas e o livrava de processos, inclusive dois deles com vítimas fatais.
Um dia, em sua sala de televisão monstruosa onde Doutor Mariano tinha uma obsessão: assistir a todos os filmes relativos à Máfia, acontece o seguinte diálogo:
-Rosivaldo, não sei o que acontece com você. Dei uma educação moral, ética, mostrando suas responsabilidades na vida; sua mãe sempre o levou à missa aos domingos, às vezes você até comungava, bons colégios, boa faculdade, dinheiro no bolso, carros do ano, vida fácil. Até afilhado do pároco de Ibiquira você é! Você sabe que tem um pai honesto, de bons princípios, eu não entendo esse modo leviano de você ser, meu filho. E aí menino, o que você quer na vida, não lhe falta nada e sofro, pois quem tomará conta das nossas empresas? Quem administrará os nossos negócios e bens? Ao que retrucou o menino grande!
-Pai, dê a seus genros essa missão de tomar conta dos seus negócios. Faça-me um favor, é a última coisa que lhe peço na vida – eu quero ser Deputado, mas Deputado Federal. Então o senhor vai ver como seu filho pode ser útil e grato a todos vocês que me criaram. Confie em mim, garanto que essa é a minha missão, até porque vou continuar com a tradição que o senhor deu. Numa atitude de espanto mas sem esconder sua alegria, o velho “Coronel” concordou, e em poucos anos o Legislativo ganhava um novo Deputado.
O tempo correu, Rosivaldo preguiçoso mas astuto, aos poucos foi se transformando num parlamentar querido pelo governo e também pela oposição. Hábil em conseguir verbas e mais verbas para seu Estado, a cada dia ficava mais rico e mais conhecido nos meandros da politicagem do País.
Para não se delongar nessa história que absolutamente não tem nada de inédito, Rosivaldo é hoje Senador da República, tendo uma família de cinco filhos, três mulheres e dois meninos, todos educados em bons colégios. Dois dos seus filhos são pessoas excêntricas, arrogantes, prepotentes e curiosamente, um deles já é Vereador...
Relendo uma obra magnífica como tantas outras saídas da pena de sua caneta, lembro agora do conterrâneo Graciliano Ramos. O velho Graça escreveu no livro “Linhas Tortas”, Editora Record, na crônica do mesmo nome, algo que acho pertinente ao texto acima.
Escreve Graciliano: ”Parece-me claro que uma pergunta aqui se impõe: para que tanta gente de palha a ocupar cargos em penca, a roer sinecuras polpudas nesta confederação cinematográfica, em que o poder é a coisa mais centralizada deste mundo, se, desde o tempo dos capitães-mores, um homem só pode administrar, legislar e julga a contento das populações sertanejas?
Ponha-se, pois o chefe político no galarim e mande-se à fava o resto. Metam-no, honestamente, em letra de fôrma. Entre ele, triunfante, com armas e bagagens, em nosso mano estatuto. Peguemos o chefe político, agitemo-lo no ar e berremos o estribilho com que a imprensa, há tempos, nos anda a amolar – A constituição da república precisa de uma revisão.
In Jornal de Alagoas – Maceió, AL, março de 1915.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London
Enviado por Rádio do Moreno -
29.1.2014
|9h08m
A VEZ DO PSDB
Mensalão tucano: PGR enviará alegações finais ao STF
CAROLINA BRÍGIDOMensalão tucano: procurador enviará alegações finais ao STF. Processo investiga desvio de dinheiro público para financiar reeleição.
Expira amanhã o prazo para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) suas alegações finais em relação ao chamado mensalão mineiro, o processo que investiga os desvios de dinheiro público para financiar a campanha pela reeleição de Eduardo Azeredo (PSDB), hoje senador, ao governo de Minas Gerais em 1998. No documento, Janot deve reforçar a convicção do Ministério Público de que o mensalão tucano em Minas, denunciado pelo GLOBO em julho de 2005, de fato existiu e foi uma espécie de ensaio para o mensalão do PT durante o governo Lula. A expectativa é de que o julgamento ocorra ainda no primeiro semestre deste ano.
Em 3 de fevereiro, o relator do processo, ministro Luís Roberto Barroso, abrirá prazo até o dia 17 para as alegações finais de Azeredo. Em seguida, Barroso vai elaborar seu voto, que deve ficar pronto entre 20 e 30 de março. A próxima etapa é enviar o processo ao revisor, ministro Celso de Mello, que também vai elaborar um voto minucioso. Assim que o revisor terminar o trabalho, o caso será liberado para a pauta do plenário. O presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa, tem a intenção de marcar o julgamento o quanto antes. O envio da denúncia foi antecipado ontem pela coluna Panorama Político, do GLOBO.
A investigação tem Marcos Valério estreando como operador da captação ilegal de recursos, nos mesmos moldes do mensalão do governo Lula. Mas as semelhanças entre os dois casos não são tantas. Enquanto o mensalão federal contava inicialmente com 40 réus, o mensalão mineiro tem dois réus: além de Azeredo, o senador Clésio Andrade (PMDB-MG). Os demais envolvidos são alvos de processos diferentes. Portanto, o julgamento do mensalão mineiro vai durar apenas algumas sessões, diferentemente do mensalão maior, que consumiu um semestre do STF.
Outra diferença é que, no mensalão federal, foram movimentados mais de R$ 100 milhões ilegalmente para abastecer o esquema, segundo as conclusões tiradas pelos ministros do STF. No mensalão mineiro, os desvios foram de 3,5 milhões, segundo o Ministério Público Federal.
Existem hoje na Corte duas ações penais e dois inquéritos tratando do mensalão mineiro. Os casos estavam todos sob a relatoria do ministro Joaquim Barbosa. Como ele assumiu a presidência do STF, os processos foram transferidos para Barroso. Em uma das ações, o réu é o senador Azeredo. A outra tem como alvo Clésio Andrade, à época vice-governador de Minas. Ambos são acusados de peculato e lavagem de dinheiro. Mas o processo de Clésio ainda está em fase mais atrasada de investigação.
O caso chegou ao STF em 2005. Em 2009, o STF abriu ação penal contra Azeredo e determinou que os outros 14 suspeitos sem direito ao foro especial fossem investigados pela primeira instância da Justiça comum. No grupo, estava Clésio Andrade. Com a eleição de Clésio para o Senado, foi aberto um novo processo no STF em 2011 para investigá-lo.
Um dos inquéritos também está nas mãos de Barroso. O caso tramita em segredo de justiça e não há informações disponíveis. A quarta frente de apuração no STF é um inquérito, que está nas mãos do ministro Ricardo Lewandowski. Entre os investigados, está o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o ex-banqueiro Daniel Dantas. O inquérito também está sob sigilo.
Na ação penal contra Azeredo, todas as testemunhas, de acusação e de defesa, foram ouvidas. Em outubro, foi dada a oportunidade a Azeredo de ser novamente interrogado, mas ele não achou necessário. A ação contra Clésio ainda está na fase de produção de provas.
Publicado no Globo de hoje. Carolina Brígido é repórter do Globo em Brasília.
Enviado por Rádio do Moreno -
27.1.2014
|9h15m
CAFÉ COM A PRESIDENTA
Dilma:Minha Casa, Minha Vida beneficiou mais de 1,5 milhão de famílias
A presidente Dilma Rousseff disse hoje que mais de 1,5 milhão de famílias brasileiras foram beneficiadas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. Além das moradias já entregues, segundo ela, 1,7 milhão de casas e apartamentos estão em construção em todo o país.No programa semanal Café com a Presidenta, Dilma destacou que, desde o início de seu mandato, o governo contratou 2,24 milhões de moradias. Até o final deste ano, a previsão é que outras 510 mil sejam contratadas, atingindo a meta de 2,75 milhões de casas e apartamentos.
"O principal disso tudo é que, por trás desses números, estão milhões de pessoas, milhões de famílias que nunca conseguiram comprar a casa própria. Agora, elas estão tendo a oportunidade de fazer um financiamento, com uma prestação que cabe no bolso. Isso é uma grande conquista."
A presidente ressaltou que os números se referem, sobretudo, a famílias de baixa renda que tinham dificuldade para comprar uma imóvel, já que a renda não permitia suportar o valor de mercado das casas e apartamentos. Com o Minha Casa, Minha Vida, segundo ela, essas famílias estão recebendo um subsídio do governo que banca uma parte importante do valor da moradia.
Dilma lembrou que o programa financia casas e apartamentos para famílias com renda até R$ 5 mil por mês. As condições do financiamento variam de acordo com a renda da família. Para famílias com renda até R$ 1.600, a prestação é 5% da renda. Para famílias que ganham até R$ 3.275, o Minha Casa Minha Vida dá um subsídio que pode chegar a R$ 25 mil, dependendo da renda. Para as famílias com renda entre R$ 3.275 e R$ 5 mil, o programa oferece uma taxa de juros mais baixa.
"É para isso que já investimos cerca de R$ 200 bilhões no Minha Casa, Minha Vida. Esse é um investimento que estimula a economia, movimenta a construção civil e gera mais empregos, além, é claro, de garantir para os brasileiros e as brasileiras mais pobres uma vida muito digna. Mas vale a pena, sobretudo porque é um investimento para o bem-estar de todas as famílias do Brasil que precisam. O esforço das famílias e o apoio do governo fazem do sonho da casa própria uma realidade." (Agência Brasil)
Ouça aqui a íntegra do programa.
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25.1.2014
|10h42m
OPINIÃO
Nhenhenhém
Duas novelas chatas de se verHá duas coisas se arrastando aí que me têm tirado a paciência: a reforma ministerial da Dilma e a saída de Cabral. No caso de Cabral, ele ficou hesitante depois que vislumbrou o calendário de viagens ao exterior e foi aconselhado a cancelar Davos e a posse de Dom Orani, no Vaticano.
— Sinto-me a rainha da Inglaterra: tenho poder, mas não governo — assim o governador chorou no ombro de um amigo. Para ele, perder uma viagem dessas é como perder o mandato. Exagero, puro exagero.
Quanto à reforma da Dilma, é uma lambança só. A presidente diz que quer uma pessoa que não interrompa, pelo contrário, consolide o Mais Médicos. Padilha e o país todo entenderam que era a vez do criador do programa, o Mozart Sales. Só que o “Mais Lula” nomeou o Arthur Chioro.
O PMDB está em pé de guerra com a presidente. Desde outubro passado, estava acertado que Vital do Rêgo ia para a Integração, entregue agora aos irmãos Gomes
Piada
O Planalto achou um deboche o partido ter sugerido o deputado Quintão (PMDB-MG) para Agricultura. Quintão é mais Aécio do que a Andrea Neves.
Vaga
Dilma, indo para Davos, prometeu a Michel Temer resolver o imbróglio na volta. Prometeu botar Vitalzinho nem que fosse para brincar de bola com o netinho dela na grama do Alvorada.
Mas não o bote nos Portos! Esse ministério está mais desmoralizado do que o mandado de prisão do João Paulo Cunha.
Meu Deus!
Por falar nisso, madame Belafonte (minha Deusa do Planalto) me diz ao telefone:
— A Polícia Federal sabe que o homem que entrou na Papuda com o telefone vermelho de José Dirceu era alguém de patente alta, com mandato no Distrito Federal.
Gafe
La Belafonte é atenta:
— Esqueci de te contar esta! Dilma ficou muito irritada com Marta Suplicy durante reunião no Planalto para tratar dos rolezinhos. É que Marta disse estar preocupada com rolezinhos na Biblioteca Nacional, e a presidente a repreendeu: “Marta, que Biblioteca Nacional! Esses jovens ouvem funk ostentação!”.
Correção
E, implacável:
— Aliás, Marta, que é ministra da Cultura, não sabe a diferença entre funk ostentação e hip hop, como ela chamou o ritmo durante a reunião com Dilma e outros ministros. Foi a própria presidente quem a corrigiu.
Posudo!
Depois de evitar o PMDB, Mercadante resolveu finalmente receber Temer.
Que estará como presidente da República.
Pedágio
A belíssima de Brasília sabe de tudo:
— E Carlos Gabas, que deu carona para Dilma na moto, pode ser o número 2 de Mercadante na Casa Civil. O PT quer emplacar o secretário executivo da Previdência lá, que tem a amizade e a confiança de Dilma.
Só que Mercadante, que de bobo só tem a cara, deve aproveitar para agradar à chefe com a nomeação de Gabas.
Escoteiro
Brasília, como vocês sabem, tem uma forma diferente de avaliar os fatos políticos que acontecem fora da sua órbita.
Por exemplo, Cabral virou “Serginho ioiô” só porque a cada momento anuncia uma data de saída do governo.
O anúncio dele antecipando a saída por causa do abandono do PT foi voo solo. Não conversou nem com Pezão.
Vingança
Vem do pernambucano, octogenário também, Francisco Brennand a explicação para a sucessão de entrevistas de FH falando de tudo, sexo, droga e até de política:
“Minha velhice me vingará”.
Brennand, que ouviu essa frase quando tinha 30 anos, acha que, a partir dos 80, todo mundo está liberado para dizer tudo.
Então, os tucanos que chiaram contra os elogios de FH ao governador Eduardo Campos devem se preparar: o ex-presidente, na contramão até do PT, tem dito palavras de elogio ao prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.
* Texto publicado no Globo de hoje
Enviado por Rádio do Moreno -
24.1.2014
|9h05m
PAÍS
Uso de Forças Armadas em ações policiais divide especialistas
Portaria da Defesa regula operações em garantia da lei e da ordemMaria Lima e André de Souza
BRASÍLIA - Uma portaria assinada pelo ministro da Defesa, Celso Amorim, regulando o uso das Forças Armadas em ações de segurança pública no país está dividindo especialistas do setor. No final de dezembro, a Defesa criou um manual, considerado pelas Forças Armadas um documento doutrinário, com as diretrizes para o emprego de Exército, Marinha e Aeronáutica em ações de garantia da lei e da ordem. Com a previsão de que sejam realizadas manifestações de rua durante a Copa e nas eleições de outubro, a presidente Dilma Rousseff não quer ser pega desprevenida.
O Ministério da Defesa nega que o manual tenha relação com as manifestações do ano passado e diz que o documento já vinha sendo elaborado desde 2012. No documento, de 70 páginas, são detalhadas as operações de repressão e dissuasão em que as Forças Armadas poderão participar. Para o sociólogo Antônio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), o uso das Forças Armadas na segurança pública é necessário, principalmente durante os grandes eventos.
— Se houver uma gestão integrada entre as Forças Armadas e as polícias Civil e Militar, vai dar certo. A área de inteligência do Exército é muito eficiente e já tem estratégias para conter as turbulências que podem ocorrer durante a Copa, como os protestos, por exemplo. Mas é preciso que o governo federal faça um pacto com os estados para que as ações sejam bem articuladas e não haja divergências entre as polícias estaduais e as Forças Armadas — disse Testa.
Já o cientista político Alexandre Pereira Rocha, também da UnB, critica o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem. Para Rocha, os militares não têm a formação policial necessária para atuar em situações do tipo:
— Isso causa um problema muito sério pelo fato de que está se dando às Forças Armadas uma função de polícia para lidar com a população civil. Mas a formação do Exército não é policial, é bélica. O objetivo é, numa situação de risco, eliminar o inimigo. A polícia, por mais que ela seja militar, tem uma formação policial distinta, em que a finalidade dela é proteger o outro.
A publicação da Defesa demonstra as preocupações do governo com manifestações na Copa do Mundo, nas Olimpíadas e no pré-sal. O planejamento e preparação preventiva de ações de inteligência, contrainteligência e propaganda ficarão a cargo de um quartel-general chamado de Centro de Coordenação de Operações. Os "inimigos" são denominados de "forças oponentes".
O documento relaciona como exemplos de situações a serem enfrentadas: ações contra os pleitos eleitorais, afetando a votação e a apuração; ações de organizações criminosas contra pessoas ou patrimônio, incluindo os navios de bandeira brasileira e plataformas de petróleo e gás na plataforma continental brasileira; bloqueio de vias públicas de circulação; depredação do patrimônio público e privado; distúrbios urbanos; invasão de propriedades; paralisação de atividades produtivas; paralisação de serviços críticos ou essenciais à população; sabotagem nos locais de grandes eventos; e saques de estabelecimentos comerciais.
O Ministério da Defesa diz que o manual é uma compilação de diversas regras sobre o emprego das Forças Armadas em operações para garantir o emprego da lei e da ordem.
— Não há como fazer alegação de que o texto foi preparado para pós-manifestações. Foi preparado para atender a uma solicitação das Forças Armadas. Os militares querem saber os limites em que eles podem agir em operações como no caso do Morro do Alemão, na greve da PM na Bahia e na visita do Papa — disse um assessor de Celso Amorim.
A portaria dá ênfase à necessidade de uma guerra de comunicação para que as forças militares, em caso de uma dessas operações, ganhe a simpatia da população envolvida. "Deverá prevenir publicações desfavoráveis à imagem das Forças Armadas na mídia, estimular as favoráveis, e divulgar adequadamente as operações para a população em geral e, eventualmente, para a comunidade internacional".
Há preocupação também com a formação de um corpo jurídico de primeira linha para barrar contestações às ações impetradas. "Por se tratar de um tipo de operação que visa a garantir ou restaurar a lei e a ordem, será de capital importância que a população deposite confiança na tropa que realizará a operação".
Enviado por rádio do Moreno -
23.1.2014
|10h03m
OPINIÃO
Difícil mudar
CARLOS ALBERTO SARDENBERGSe François Hollande tivesse como presidente o mesmo sucesso que mostra com as mulheres, a França poderia estar numa boa. Neste momento, aliás, Hollande está em processo de mudança nas duas situações. Substitui a atual primeira-dama, a jornalista Valérie Trierwailer, pela atriz Julie Gayet — e, nesses casos pessoais, ninguém além dos diretamente envolvidos pode dizer se é para melhor ou para pior.
Já na Presidência, a guinada tem uma clara direção. Hollande anunciou uma nova política econômica, com cortes de gastos e de impostos, parcialmente atendendo a proposta da principal associação de empresários. Assim, depois de um ano e meio tentando recuperar o crescimento com expansão do gasto público, financiado com mais impostos, na linha socialista, Hollande reconhece o fracasso e vira-se para o receituário mais à direita.
O fracasso é evidente na economia e na política. Nem o país voltou a crescer, nem apareceram os empregos e os investimentos. Ao contrário, o "custo França", que já era superior ao da Alemanha e ao da Inglaterra, tornou-se ainda um maior obstáculo à competitividade dos negócios franceses. E a popularidade de Hollande é recorde de baixa.
Se fosse nos Estados Unidos, o adultério, flagrado por uma revista, seria a pá de cal no seu governo e na sua carreira. Já na França, a ampla maioria da população, em pesquisa, concordou que se trata de um assunto pessoal. De modo que fica tudo em suspenso. Hollande não negou o caso, também não confirmou explicitamente, mas deixou a pista. Quando perguntado quem era a atual primeira-dama, disse que daria a resposta só em fevereiro. E pediu respeito.
Nisso, deram. Já na política econômica, o debate esquentou. Na esquerda, muitos companheiros criticaram a "virada neoliberal". No outro lado, muitos acharam as novas medidas tímidas e pouco críveis. De maneira que aqui também a coisa fica em suspenso. Vai funcionar? A ver, e só depois de fevereiro.
É curioso como o primeiro presidente socialista da era moderna, François Mitterrand, enfrentou situações semelhantes com mais savoir faire. Durante os 14 anos de sua Presidência (1981-1995), bem casado, com três filhos, manteve uma amante praticamente oficial, com a qual teve uma filha, reconhecida e sempre no seu convívio. Jornalistas, adversários e eleitores deixaram-no em paz.
Na política, Mitterrand começou com uma fúria socialista — uma sequência de estatizações de bancos e grandes empresas. Fracassou. Houve fuga de capitais, desinvestimento, perda de empregos. Mitterrand virou-se, então, à direita, inclusive reprivatizando parte do que havia nacionalizado. Reelegeu-se, terminou seu período razoavelmente bem.
Já o atual François — que repetição, não é mesmo? — parece mais atrapalhado e indeciso nas duas situações. Pior para a França e para qual das duas, Valérie ou Julie?
O Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, é onde os líderes políticos mundiais, no governo ou fora dele, se encontram com os representantes do capital. Lula foi lá logo no início do seu governo. Dilma não foi nos seus três primeiros anos. Mas está lá para a reunião deste ano, iniciada ontem. Como Lula, Dilma busca agora a mesma coisa, credibilidade.
Mais exatamente, a presidente quer que o capital e a liderança política global acreditem que ela respeita os contratos, os fundamentos macroeconômicos, a iniciativa privada. Numa palavra... o capitalismo.
Pode-se dizer que, aqui e só aqui, Dilma passa por uma situação parecida à de Hollande. Ambos são de esquerda, formaram seu pensamento econômico na esquerda, aplicaram o programa de aumento de gasto público e mais intervenção estatal, mas algo deu errado. Aqui, baixo crescimento e inflação elevada. Lá, baixo crescimento e ameaça de recessão.
Tanto lá como aqui, empresários nacionais e estrangeiros sentem-se hostilizados pelo governo, tratados como um bando de egoístas que só pensam no lucro, dane-se o povo. Desconfiados, não investem, não geram empregos.
Mas se Hollande, ainda que hesitante, reconhece o problema, ao anunciar uma nova política econômica, a presidente Dilma está convencida de que faz tudo certo, à esquerda e à direita.
Acredita, ou pelo menos demonstra isso com ênfase, que implanta com êxito uma nova matriz econômica, antineoliberal, e, ao mesmo tempo, respeita os fundamentos da economia de mercado. Logo, errados estão os empresários, banqueiros e os críticos em geral.
Ela foi eleita e, ao contrário de Hollande, tem boa aprovação popular. Logo, tem todo o direito de pensar assim.
Só não pode querer que todos concordem com ela. A ver o que dirá e o que dirão em Davos.
Depois de tentar recuperar o crescimento com expansão do gasto público, Hollande vira-se para o receituário mais à direita
Carlos Alberto Sardenberg é jornalista
* Texto publicado no Globo de hoje.
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22.1.2014
|11h10m
PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA
Vazio Afetivo em “Amores Roubados”
CARLOS VIEIRAA série oferecida ao público pela TV Globo – “Amores Roubados”, iniciou o ano em grande estilo, mostrando que televisão de alto nível, quando se quer, se faz. George Moura, o autor, e José Luiz Villamarin, reuniram um elenco experiente, e provocaram especialmente Cauã Reymond e Iris Valverde a se lançarem na ousadia e coragem de uma interpretação difícil e muito exigente. O texto requer a todo tempo desses atores um fato que merece ser apontado: como representar personagens que se expõem às experiências sexuais pungentes, fortes e fatais? Como, representando e vivendo relações íntimas, provocadores de sentimentos e emoções fortes, pode um ator distinguir o personagem da pessoa dele mesmo? O ator quando se dá conta de que o personagem é da responsabilidade de si próprio, pode sofrer menos, distinguir mais e discriminar. Quando as cortinas do palco se fecham após algum tempo para “desencarnar” o personagem, o ator deve, às vezes com muita dificuldade, resgatar sua pessoa e sua vida comum. Caso contrário, ele é impelido por viver seu personagem na vida real. Chamo isso uma espécie de desencarnação!
Luigi Pirandello, em sua peça, “Seis personagens em busca do autor”, descreve bem essa questão de todos nós, não somente os atores, de sermos responsáveis pelos nossos “personagens”, sabendo lidar com eles, dando conta deles, para que possamos evitar viver uma vida predominantemente ilusória, e às vezes delirante. A experiência retirada das nossas análises pessoais mostra a diferença entre “personagens sadios” e personagens psicopatológicos que carregamos desde infante. Pirandello aponta assim para que conheçamos nossos personagens, funções, papéis que representamos para viver. A questão é saber que esse ego multifacetado pode ler a uma fragmentação (loucura), e a pessoa perder a discriminação entre a realidade e a ficção.
Cauã deve ter tomado essa experiência como um desafio, e uma oportunidade de exercitar sua competência profissional e emocional, ainda jovem, para assimilar papéis com peso dramático, sem exagero, de tramas shakespearianas.
A volúpia, a avidez física sexual, a conduta irônica e onipotente de representar momentos de triunfo e indiferença afetiva, o ódio, a dor na falta do amor, da sonegação do amor materno e paterno, a privação de uma vida psíquica, a exuberância de um comportamento sensorial, sensual, sexual, dissociado do sentimento, a atitude arrogante e cínica de triunfar sobre as pessoas que praticam feridas no narcisismo, são estados de mente que exigem muita maturidade artística e conflitos psíquicos do ator em permanente elaboração. Aplausos principalmente para os dois atores, Cauã e Isis, pois Patrícia Pilar, Dira Paes, Murilo Benicio entre outros, são esteios e exemplos para esses jovens.
“Amores Roubados”, apreendo pelo meu vértice de observação, como amores que são “sonegados”, não ofertados nas relações humanas.
A história começa mostrando a opulência de “coronéis nordestinos”, coronéis do vinho e não da cana de açúcar, em que pese o aparecimento e crescimento louváveis da cultura vinícola no nordeste brasileiro, desfilando suas relações “amorosas” num modelo machista e de uso das pessoas para fins de satisfações físicas, sexuais e lucrativas. Não há compromisso afetivo naquelas famílias nem tampouco parcerias nas relações de trabalho.
Num plano mais underground, Leandro (Cauã) traz uma história de privação afetiva: um pai desconhecido, uma mãe prostituta (claro, por razões psicossociais) mostra um par paterno-materno ausente, e um filho, tanto por razões constitucionais e ambientais, revelando a imagem do desamor, do desconhecimento da qualidade amorosa substituído de maneira precoce, por sentimentos de vacuidade e impulsos eróticos, sexuais. A predominância do prazer sexual fala do vazio afetivo, da impossibilidade da ternura coexistindo com a carnalidade. Guimarães Rosa em sua história – “Nada e nossa condição” (Primeiras Estórias, Ed.Nova Fronteira) escreve:”como a metade pede o todo e o vazio chama o cheio” falando sobre o “nada” na existência humana.
Leandro, após uma vida de sucesso profissional, de conquistas puramente sexuais, encontra a possibilidade de resgatar o afeto de sua mãe. Há, nesse momento, uma cena belíssima e uma interpretação revelando o reencontro de filho e mãe. O amor entra em cena pela primeira vez. Concomitantemente Antonia entra na vida de Leandro. Dois carentes, dois seres marcados pela o “roubo do ser amados” encontram uma possibilidade inédita em suas vidas. A paixão inicia a descoberta da experiência amorosa. O jovem atrevido, indomável e ávido por preencher suas “faltas essenciais de afeto”; a jovem que chegara para trabalhar com seu pai, também desamada, ansiosa para resgatar o amor de seu pai, são tocados pela descoberta de algo ainda não vivido – a possibilidade de uma relação amorosa.
Esse é o ponto que quero realçar nessa história: a ausência de experiência afetiva, entre conjugues, e entre filhos, pais e mães. Parece que vivemos numa sociedade onde a identificação com objetos amorosos se fraturou, e em seu lugar aparecem relações moldadas na busca das satisfações materiais. O amor, a gratidão, o respeito, o perdão e a generosidade perdem espaço para sentimentos primitivos de: voracidade, inveja, vaidade excessiva, relações de uso mútuo das pessoas, dificuldade de atitudes humanísticas, éticas e de parcerias. A família está desagregada tal como mostra “Amores Roubados”. A possibilidade de identificação dos filhos através dos pais, é pela via de aspectos polimorfos perversos. Os exemplos são de condutas antiéticas, onde imperam arrogância, estupidez mental, triunfo narcísico, impulsos homicidas e suicidas, traição, mentira, falsidade, elementos do que se conhece hoje em psicanálise, como a parte perversa e psicótica das pessoas ditas normais.
Observa-se que o Amor chegou tarde na história dos “amores roubados”. O que sobrou, ainda bem, foi um filho do amor, um broto, quem sabe de alguma centelha de sanidade.
Lembro agora de um poema de Ana Cristina Cesar, em recente livro – “Poética”, Cia. Das Letras, 1913:
Água virgem
Perdi-me no entrelaçar-se de malhas.
Entreguei-me no manchar-se de sonhos.
Marquei-me no soluçar-se de perdas.
Sob o peso deste som
um flautim
Sob o som deste peso
uma queda
rachou
a chave
calou
a chuva
barrou
a chama
(chuvisca no centro meu – nenhum grito)
Inconfissões – dezembro/68.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London
Enviado por RÁDIO DO MORENO -
22.1.2014
|10h13m
OPINIÃO
Abrindo os armários
ZUENIR VENTURAUma das diferenças entre Barack Obama e Bill Clinton, ou melhor, entre a época de um e a de outro, pode ser observada na última declaração do atual presidente sobre drogas. Em termos de costumes, a geração do marido de Hillary usava a meia verdade para confessar pecados do passado. Quando admitiu ter fumado maconha na juventude, fez logo a ressalva hipócrita: "Fumei, mas não traguei." Ah, bom, então tudo bem. Já Obama revelou com todas as letras ter fumado, tragado a outrora chamada "erva maldita" e, pior, cheirado cocaína. Fernando Henrique, que hoje encabeça uma corajosa campanha pela descriminalização do uso das drogas, teria dito o mesmo. Mas ele nega, até porque, garante, nunca usou nem cigarro comum (na campanha para a prefeitura de SP, em 1985, Jânio Quadros difundiu o boato devastador de que seu adversário, se eleito, o que não aconteceu, iria promover a distribuição de maconha nas escolas públicas).
Agora são tempos de abrir os armários. Veja outro tema tabu, a homossexualidade, cuja defesa não é mais apenas uma bandeira dos militantes. Depois que o STF reconheceu por unanimidade a união gay como legal (com direito a herança, pensão e adoção) e depois que o Papa Francisco recusou-se a estigmatizar os homossexuais ("Quem sou eu para julgá-los?"), a condição deixou de ser uma doença ou uma patologia social para ser o que é, uma opção sexual, com visibilidade cada vez maior em filmes, peças e novelas. Apenas um exemplo. O personagem mais carismático de "Amor à vida" é uma bicha — e bicha má, como ele mesmo se classificava, de jogar criancinha em caçamba. O público já esqueceu essa e outras maldades de Félix, continua achando graça em seus trejeitos, está aceitando como natural sua redenção e torce para ele ficar com Nico, a bicha do bem. Se isso não acontecer, não será pela vontade popular, mas talvez porque, tecnicamente, a solução se mostraria impraticável. Segundo me ensinou um entendido, os dois só conjugam na voz passiva, o que tornaria a união homoafetiva inutilmente redundante. A conferir. Cartas para a coluna do Ancelmo.
Pode-se alegar que esse liberalismo só acontece na arte, já que na vida real, aqui e lá fora, continua havendo preconceito e violência homofóbica. Ou seja, mesmo num mundo ideal, sem intolerância, haverá sempre resíduos, como um Marco Feliciano e um Putin, para lembrar Shakespeare: "O mal que os homens praticam sobrevive a eles."
Já tenho minhas divas do verão. São elas Soraya Ravenle, do musical sobre Chico Buarque; Laila Garin, de "Elis"; Dira Paes e Patrícia Pillar, de "Amores roubados"; Maya Gabeira, das ondas gigantes; e, mais formosa e irresistível do que todas, Alice, que dispensa justificativa.
O público já esqueceu as maldades de Félix, continua achando graça em seus trejeitos, está aceitando
como natural sua redenção
* Texto publicado no Globo de hoje
Enviado por Rádio do Moreno -
21.1.2014
|10h02m
OPINIÃO
Para tudo e para todos
JOSÉ CASADOQuando ronca, o motor do caminhão ecoa trovoada. É só lembrança — esperança de sertanejo. São 8.558 "pipeiros" contratados pelo governo para levar água a 1.087 lugarejos, onde a caatinga estende-se "de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas"— como descreveu o alagoano Graciliano Ramos 76 anos atrás. A vida continua na seca.
Nos últimos três meses, os "pipeiros" desapareceram de algumas áreas do sertão cearense. A Assembleia Legislativa recebeu relatos de quatro dezenas de casos e identificou a origem do problema: os contratados não prestaram contas ao governo. Seguiu-se um "rigoroso inquérito administrativo". Até acabar, não sai pagamento. Muito menos "pipa".
Faz tempo que as últimas arribações sumiram do céu azul. Na vida em tempo de seca braba, fartura só de sede. E de burocracia.
Mais abaixo, em Natal (RN), o governo anuncia a devolução de verbas federais (R$ 10 milhões, com juros). O dinheiro não foi investido, como previsto, em segurança pública estadual "devido a fatores burocráticos".
Dois mil quilômetros ao sul, em Araçatuba (SP), a prefeitura conseguiu terminar a reforma de um Restaurante Popular, capaz de servir até 300 pratos de comida por dia. A obra custou R$ 1 milhão. Atravessou longos 28 meses, na cadência de falências de fornecedores, mudanças no projeto e licitações refeitas. Está pronto, mas continuará fechado. Até a liberação federal.
Ao leste, na margem esquerda do Porto de Santos (SP), um terminal de cargas químicas e petróleo vai completar 28 anos de inatividade, entregue ao mato, por causa de um embrulho burocrático. E pouco além, no Porto de São Francisco do Sul (SC), um terminal de soja de US$ 200 milhões está há sete anos "em tramitação". Do outro lado, navios só atracam depois da entrega de uma montanha de papéis, com cerca de 190 itens sobre a carga. Levam-se 13 dias para exportar um contêiner, quando nos países concorrentes não passa de 48 horas.
Em Ijuí (RS) se desfez o mistério de uma doação de 12 toneladas de roupas da Bélgica que jamais chegou a uma instituição de caridade local. Passaram os últimos cinco anos estocadas, por mera burocracia.
No último 5 de dezembro chegou ao Aeroporto de Viracopos (SP) um pacote enviado pela Universidade de Harvard, dos Estados Unidos. Continha células-tronco para uma pesquisa do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo. Durante 13 dias funcionários da transportadora alternaram-se na reposição de gelo seco na tentativa de mantê-las vivas, enquanto burocratas fiscalizavam documentos da carga num guichê federal.
Há 47 anos, por decreto da ditadura, aboliu-se a exigência de reconhecimento de firma em documentos. Agora, 17 mil dias depois a Receita Federal anuncia em portaria que, em oito semanas, vai cumprir essa regra da boa-fé nas relações com os contribuintes. Com uma exceção, ressalva: "Nos casos em que a lei determine."
Regulamentos não faltam. Foram editados 4,7 milhões desde a Constituição de 1988, calcula o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. São 524 novos por dia. Na eleição presidencial de outubro o país deverá somar 5 milhões de leis e normas, para tudo e para todos. É um caso de suicídio nacional por asfixia burocrática.
Na eleição presidencial de outubro o país deverá somar 5 milhões de leis e normas.
É um caso de suicídio nacional por asfixia burocrática
* Texto publicado no Globo de hoje
Enviado por Rádio do Moreno -
20.1.2014
|10h09m
OPINIÃO
Um cenário inflacionário preocupante
SILVIA MATOSUma taxa de 5,6% é bastante elevada se levarmos em conta que os preços administrados tiveram um papel relevante para manter este valor abaixo do teto da meta de 6,5%
Ao longo do segundo semestre de 2013, a economia brasileira desacelerou. Após registrar uma contração de 0,5% no terceiro trimestre em relação ao segundo, a economia deve ter crescido apenas 0,6% no último trimestre, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV). Com isto, nossa previsão é que o PIB tenha crescido 2,3% no ano passado.
No entanto, mesmo com a economia andando de lado, a inflação continuou firme e forte. Em 2013, ela bateu na casa dos 5,91%, acima dos 5,84% de 2012. E não podemos culpar a inflação de alimentos por esse resultado ruim, pois, se excluirmos o grupo alimentação domiciliar do índice geral, a inflação seria de 5,6% no ano passado. Ou seja: uma aceleração em relação aos 5,1% registrados no ano anterior.
Mesmo assim, uma inflação de 5,6% é bastante elevada se levarmos em conta que os preços administrados tiveram um papel relevante para manter este valor abaixo do teto da meta de 6,5%. A inflação dos administrados foi de apenas 1,5%, ante 3,7% em 2012.
Então, para elaborarmos um diagnóstico mais apurado sobre a dinâmica dos preços, é necessário analisar outras medidas de inflação. Uma primeira é expurgar os principais itens relacionados a choque de oferta (alimentação domiciliar), bem como itens que sofreram alguma desoneração tributária temporária (mobiliário, refrigerador, máquina de lavar roupa, fogão, automóvel novo, automóvel usado) ou que ainda estão com seus preços "desalinhados" (gasolina, óleo diesel, ônibus urbano e energia elétrica residencial). Considerando essas premissas, a inflação ficou acima do teto da meta em 2013, fechando em 6,9%, acima dos 6,6% de 2012. Com base nisso, podemos afirmar que a inflação superou o teto da meta nos primeiros três anos do governo Dilma (6,7%), o que indica uma aceleração inflacionária expressiva em relação à média registrada entre 2008 e 2010, de 5,7%.
Outra medida que reflete a piora do quadro inflacionário refere-se à proporção de bens e serviços que têm sofrido reajustes em 12 meses acima do centro e do teto da meta de inflação: em 2013 estes valores foram 66% e 53%, respectivamente, ante 60% e 45% em 2012. Ou seja, quase 70% dos 365 subitens que compõem a cesta do IPCA foram reajustados em 2013 acima da meta inflacionária.
Sem dúvida, o quadro inflacionário é bastante preocupante, pois os preços têm sofrido aumentos elevados e persistentes. E estes aumentos estão espalhados por todos os lados. Não há apenas alguns vilões.
Com esse quadro, será necessário um pouco mais de aperto monetário este ano. Nossa previsão é que a taxa de juros atinja 10,75% e que a inflação seja similar à de 2013. Porém, não descartamos a necessidade de aumentos adicionais da taxa de juros se a inflação permanecer mais resistente neste começo de ano. Mesmo esperando um alívio nos preços dos alimentos, uma maior persistência da inflação de serviços, bem como a recomposição de alguns preços administrados devem manter a inflação ainda em patamar elevado.
Uma taxa de 5,6% é bastante elevada se levarmos em conta que os preços administrados tiveram um papel relevante para manter este valor abaixo do teto da meta de 6,5%
Silvia Matos é economista e pesquisadora da Economia Aplicada da FGV/Ibre
* Texto publicado no Globo de hoje
Enviado por Rádio do Moreno -
18.1.2014
|9h52m
JORGE MORENO
Nhenhenhém De Brasília
Os Maia, emparedados do RioDe todos os pré-candidatos ao governo do Rio, Cesar Maia é o único que, em princípio, não apoia a candidatura Dilma, mas poderá fazê-lo, se houver segundo turno. Foi o que admitiu à coluna o deputado Rodrigo Maia, filho do candidato do DEM.
Não vou nem falar das afinidades dos passados de Dilma e Cesar Maia, quando, juntos, redigiam teses para o PDT de Brizola, mas da situação do DEM fluminense: o partido está num beco sem saída. Apostou alto no Aécio Neves, mas o pré-candidato do PSDB desprezou, discretamente, o apoio dos Maia.
Bem lá atrás, antes da eleição municipal, Rodrigo piscara o olho para Pezão, mas a aliança com o Garotinho impediu qualquer aproximação. Agora, o deputado faz uma jocosa defesa do candidato do PMDB:
— É bom para o Pezão ser considerado “desconhecido” pela maioria nas pesquisas. Assim poucos o associarão ao desastre do Cabral.
Como diz Gois, é. Pode ser.
Viva Cabral!
Cabral, não se zangue, não!
O Montenegro, do Ibope, é o único sujeito que só acerta errando. Então, o fato de ele dizer que perderás a eleição para o Senado é algo para se comemorar.
Na lata!
Afinados nos agouros sobre a candidatura Dilma, os líderes do PMDB no Senado, Eunício de Oliveira, e na Câmara, Eduardo Cunha, faziam mais uma sessão de terrorismo, durante reunião do comando do partido, até que o pacato Michel Temer explodiu:
— Está bem! Vamos convocar a convenção para dizer: “Acabou! PMDB não fica com a Dilma porque ela vai perder as eleições. E o PMDB também acaba, pois não disputa nem apoia!”
No que o... deputado Cunha (quase escrevo outro nome ) ponderou:
— Também não precisa exagerar!
Teatro
Leitora e leitor amigos, nos bastidores desta sucessão, rola a maior zorra! Os adversários são os primeiros a cantar o favoritismo da Dilma. Aécio se lançou candidato pensando poder apoiar Eduardo Campos no, se houver, segundo turno, mas este teve também a mesma ideia e se lançou já comprometido em apoiar “as forças do mesmo campo progressista”, vulgo PT.
Ou seja, se depender da oposição, nem segundo turno teremos.
Males
Com todo o respeito ao senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), mas nem a Dilma está entendendo os motivos reais de o partido colocá-lo à frente da batalha pelo Ministério da Integração, a ponto de ameaçar romper com o governo.
Será que o ministério tem o tamanho do Vitalzinho?
João Batista
A ameaça de não ter seu sexto ministério, o da Integração, levou o comando do PMDB a se esquecer um pouco do problema do Rio.
Mas continua na bandeja das negociações a cabeça de Cabral, ou seja, sua candidatura ao Senado.
Como sua cabeça vive em Paris, ele nem vai sentir dor.
Azedou
A primeira conversa da Dilma com Michel, na segunda, para dizer que Vitalzinho não seria ministro, foi péssima e frustrante para o partido. Na segunda, com a presença do Renan, as coisas melhoraram um pouco.
Provocação
O líder Eunício Oliveira, a qualquer ameaça do governo, responde bem alto:
— Vou ao Lulaaaaaaa!
Eunício acha que Lula ainda governa o país.
E que a Dilma se zanga com isso.
Cardeais
Pelas leis divinas e terrestres, dom Orani Tempesta poderá continuar exercendo o cargo de presidente do Conselho de Comunicação do Congresso Nacional.
Agora na condição de cardeal.
Ameaça
Na reunião com o pessoal do Galeão, dentro do seu roteiro de visita aos aeroportos da Copa, o ministro Moreira Franco alertou os responsáveis:
— Apressem com isso para que amanhã nenhum de vocês seja acusado de ter salgado a Santa Ceia.
Moreira acredita que, apesar dos atrasos, tudo acabará dando certo.
Enviado por Rádio do Moreno -
17.1.2014
|10h24m
OPINIÃO
Fichas limpas, fichas sujas
Luiz GarciaÉ muito raro acontecer, mas políticos governistas e de oposição estão unidos numa cruzada a favor de uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral. Entende-se essa união: o TSE proibiu que a Polícia Federal e o Ministério Público investiguem possíveis crimes eleitorais nas eleições deste ano.
Para os políticos, como o senador Cássio Cunha Lima, do PSDB, o MP precisa ser controlado. Parece óbvio que, como qualquer órgão público, suas iniciativas tenham de ser acompanhadas pela opinião pública e sujeitas às leis do país. Entende-se também, por triste motivo, a posição de Cunha Lima: ele certamente não se esquece que chegou a ser impedido de assumir o mandato, há três anos, em consequência de uma denúncia de promotores, com base na Lei da Ficha Limpa.
A resposta dos policiais à tomada de posição do TSE foi clara: em nota, a Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal afirma que é sua missão "instaurar investigação diante de qualquer crime que chegar ao seu conhecimento". E acentua que, para isso, não precisará de autorização de um juiz (eleitoral, no caso). É uma afirmação óbvia: a agilidade nas investigações policiais é parte indispensável do êxito de suas ações.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ameaçou recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão do TSE. E vale a pena não esquecer que ela foi recebida com aplauso — e certamente também com alívio — por políticos como o senador Cássio Cunha Lima, que teve sua posse ameaçada em 2011 por ter sido denunciado pelo Ministério Público Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa.
Muitas vezes, a qualidade de uma decisão, como essa do TSE, pode e deve ser aliada pela identidade de quem a defende. A proibição de inquéritos policiais por crimes eleitorais está sendo aplaudida principalmente por políticos que têm alguma razão para não serem simpáticos a esses inquéritos.
E ela está sendo condenada por membros do Ministério Público e delegados da Polícia Federal. Nenhum deles tem, que se saiba, interesses pessoais em jogo. Pelo visto, a proibição de inquéritos sobre possíveis crimes eleitorais nas últimas eleições pode e deve ser avaliada pela biografia de quem a defende. Ou seja, pelo grau de limpeza de sua ficha.
Proibição de inquéritos policiais por crimes eleitorais é aplaudida principalmente por políticos que têm alguma razão para não serem simpáticos a esses inquéritos
Luiz Garcia é jornalista
* Texto publicado no Globo de hoje.
Enviado por Rádio do Moreno -
16.1.2014
|10h25m
PAÍS
Dinheiro não é o problema
Apesar do déficit de mais de 200 mil vagas, Fundo Penitenciário tem R$ 1 bi em caixaJAILTON DE CARVALHO
Rebeliões com cenas de selvageria, presos em celas abarrotadas, escuras e sujas e a rápida proliferação do crime organizado a partir das prisões podem ser explicados de muitas maneiras, menos pela falta de dinheiro. Nos últimos anos, mesmo com a crescente onda de violência nos presídios, o governo federal acumulou e agora mantém em caixa R$ 1,065 bilhão que, por lei, deveria ser investido na construção e modernização do sistema penitenciário nacional. Esse é o atual saldo do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen).
O dinheiro em caixa é o fruto da acumulação de valores arrecadados e não gastos desde 1994, ano de criação do fundo. O Funpen é formado por recursos repassados pelas loterias da Caixa Econômica Federal e por parte de custas judiciais, entre outras fontes. O Funpen recebe uma média de R$ 300 milhões por ano, conforme dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), mas só uma parcela desses recursos se converte em investimentos nos presídios, como determina a lei complementar nº 70. Pela lei, todo o dinheiro deve "financiar e apoiar as atividades e programas de aprimoramento" do sistema penitenciário.
Pelas informações do ministério, ano passado, o Funpen recebeu autorização para investir R$ 384,2 milhões na construção e na reforma de presídios em obras administradas por governos estaduais. Mas apenas R$ 40,7 milhões, ou 10,6% desse total, foram efetivamente gastos conforme o planejamento inicial. Nesse mesmo período, a crise do sistema penitenciário chegou ao ponto máximo. Só no Maranhão, um dos estados mais castigados pela falta de vagas, 60 presos foram assassinados, alguns com as cabeças decepadas.
— Os estabelecimentos prisionais estão explodindo em violência. São mortes, decapitações, rebeliões. E esse dinheiro todo sendo acumulado. Tudo isso é resultado da falência administrativa — afirma o presidente da Comissão de Segurança da Câmara, Otavio Leite (PSDB-RJ).
A coordenadora-geral do Funpen, Michele Silveira, reconhece as dificuldades de reaplicação do dinheiro do fundo. Parte do problema, de acordo com ela, tem origem no contingenciamento anual do Orçamento da União. Desde sua criação, o fundo tem sido alvo de frequentes cortes. O dinheiro é mantido em caixa, mas não pode ser gasto por decisão da equipe econômica do governo. Trata-se do que o governo chama de esforço fiscal, cortes de despesas para evitar desequilíbrio nas contas públicas.
— A gente só pode utilizar o dinheiro que a lei orçamentária dispõe. A gente tem (o dinheiro), mas não tem. O contingenciamento é uma política de Estado — afirma Michele.
A coordenadora atribui parte das responsabilidades também aos estados. Ela argumenta que, mesmo se tivesse autorização para gastar todo o dinheiro em caixa, ainda assim não seria possível repassar o montante integral para os estados. Isso porque alguns projetos de construção de presídios apresentados por governos estaduais acabam esbarrando em problemas técnicos ou ambientais, ou em denúncias de corrupção. Muitas vezes, até o dinheiro repassado para os estados tem que ser devolvido.
A mais recente tabela de restituições do Depen mostra que, só nos últimos anos, governos estaduais devolveram R$ 187,1 milhões. Os recursos tiveram que ser restituídos porque, após anos de espera, os governos sequer conseguiram dar início às obras. O Depen não informou quais os valores das obras de construção de presídios que estão paradas e que, por isso, podem resultar em devolução de recursos. Entre os estados que receberam recursos, mas não conseguiram aplicar devidamente o dinheiro, está o Maranhão.
Ano passado, a governadora Roseana Sarney teve que devolver R$ 23,9 milhões ao Funpen. O dinheiro deveria ter sido usado para a construção do Presídio Regional de Pinheiros, com 168 vagas, uma cadeia pública na cidade, com 129 vagas, e também uma cadeia pública em Santa Inês, com 384 vagas. As vagas do presídio e das duas cadeias não seriam suficientes para resolver a crise da superlotação dos presídios do estado. Mas o Depen entende que poderiam amenizar a crise.
Numa tentativa de resolver parte do problema, o Depen passou a oferecer aos governos estaduais projetos específicos para a construção dos presídios. Até então, falhas técnicas eram as mais frequentes barreiras para a liberação de recursos federais. Mas alguns governos estariam resistindo a aderir às propostas. Pelos projetos do Depen, os governos não podem gastar mais que R$ 30 mil por vaga num presídio. Alguns administradores não gostam de trabalhar com esses limites e buscam fontes alternativas de financiamento.
* Texto publicado no Globo de hoje.
Enviado por Rádio do Moreno -
16.1.2014
|10h10m
OPINIÃO
Mais médicos?
Em 1808, Dom João criou a primeira escola médica no país. Em 2012, a USP revelou que há 198 instituições ensinando Medicina no Brasil, um dos maiores índices mundiais. Só nos últimos 17 anos, surgiram 96 novos cursos. A maioria em instituições privadas. Com esse baby boom, era de se esperar que o Ministério da Educação fiscalizasse e cuidasse bem das novas escolas; entretanto, também deveria estar atento às antigas e já renomadas instituições.Mas o MEC não estava atento... Não percebia o risco de morte de uma das mais tradicionais: a Universidade Gama Filho, responsável por formar médicos desde 1965. Ao olhar apenas para o novo, o MEC se descuidava de quem estava respirando por aparelhos.
Fossem médicos, os responsáveis pelo ministério ouviriam o bip-bip, tão comum nos CTIs, falhando. A Gama Filho começou a fraquejar no fim de 2011. Alunos e funcionários se manifestaram. O MEC, que, além de não ser médico, não prima pelo cuidado, não se mexeu. Os sintomas estavam lá. A infecção se alastrava, e a morte seria questão de tempo. Se fosse médico, teria percebido a gravidade do caso e poderia salvar a vida de quem ele deveria estar cuidando.
Em 2013, enquanto se falava da contratação de médicos estrangeiros, cerca de dois mil acadêmicos de Medicina da Gama Filho lutavam para continuar seus estudos, em uma instituição moribunda. Sem assistência do MEC, tanta vontade de sobreviver não bastaria...
Mas precisamos de mais médicos. Principalmente bons! Por que, então, não cuidar dos acadêmicos de Medicina? Por que importá-los de outros países? Por que criar mais vagas? Fosse o MEC um médico, saberia que não se cobre um machucado profundo com band-aid. Dependendo da lesão, há que se fazer cirurgia. De outro modo, ela continua lá. E dói e mata do mesmo jeito...
Em 12 de dezembro de 2013, foi autorizada a abertura de 560 vagas em cursos de Medicina. Até 2017, serão abertas mais 11.447. O baby boom continuará, sem garantias de que essas novas possibilidades serão bem cuidadas. Criar vagas não é tão complicado. Difícil é manter a qualidade e ter certeza de que a educação médica no país está crescendo forte e saudável. Ao que parece, não está.
Fosse o MEC um médico, saberia que não basta colocar filho no mundo. É preciso cuidar, alimentar, vacinar... Mas o ministério não é médico. Não entende nada de Medicina.
Aliás, o MEC e o Ministério da Saúde não se entendem nada bem. O primeiro abandona os acadêmicos em um país que grita "Mais médicos". Fosse o MEC médico, saberia que, se uma população precisa de remédio, não adianta dar placebo. Uma vez, li que quem tem fome tem pressa. Quem está morrendo também. Os primeiros dez minutos no atendimento de emergência são cruciais para a sobrevivência do paciente.
Ainda bem que o MEC não é médico. A esta altura, nós, estudantes de Medicina da Universidade Gama Filho, já estaríamos todos mortos.
MEC não percebia o risco de morte de uma das universidades mais
tradicionais: a Gama Filho
Simone Frattini é aluna do décimo período de Medicina da Gama Filho
* Texto publicado no Globo de hoje
Enviado por Rádio do Moreno -
15.1.2014
|10h49m
OPINIÃO
O nosso Francisco
ZUENIR VENTURANão por imitação, porque ele já era assim antes, mas dom Orani Tempesta é a encarnação carioca do Papa Francisco, sua imagem e semelhança em estilo de vida e de obra. Ninguém mais parecido, não fisicamente, claro, mas de temperamento. É um caso de identificação, não de cópia. A exemplo do nosso santo hermano, é agregador (a palavra mais usada para defini-lo) e tolerante, combatendo na prática a discriminação e o preconceito. Como se sabe, ele pode frequentar o Palácio do Planalto, uma escola de samba ou a quadra do bloco Cacique de Ramos para receber uma homenagem ou para celebrar uma missa no dia de São Sebastião. "Incansável, ele transita em todos os segmentos", testemunha Maria Cristina Sá, assessora da Arquidiocese há 40 anos, para quem dom Orani, paulista, é "o mais carioca dos nossos bispos, pelo jeito simples, alegre, acessível, acolhedor".
Nada mais revelador da disposição evangelizadora do que sua agenda de compromissos no domingo, quando recebeu a notícia de que fora escolhido. Ele estava a caminho de uma visita a moradores da Cruzada São Sebastião, no Leblon, como contou a repórter Simone Candida. Dali seguiu para a Paróquia da Ressurreição, onde celebrou sua primeira missa como cardeal. Em seguida, dirigiu-se às comunidades do Pavão-Pavãozinho e do Cantagalo. A foto dele subindo a íngreme escadaria do morro, com um sol de 50 graus, metido naquela batina preta e pesada, me fez suar só de ver. Terminou o dia no Corcovado, rezando com fieis aos pés do Cristo Redentor.
Antes de conquistar a simpatia da cidade com seu trabalho pastoral, porém, dom Orani teve que moralizar a cúria diocesana. Ao assumir o cargo de arcebispo em 2009, ele encontrou um ambiente tumultuado por dois escândalos. Em um, o então encarregado da administração dos bens da instituição, monsenhor Abílio Ferreira da Nova, era preso no Galeão ao embarcar para Portugal levando 52 mil euros não declarados, escondidos em meias e na cueca. Ele era o sucessor no cargo do padre Edvino Esteckel, afastado por ter gasto R$ 14 milhões em despesas não justificadas, segundo uma auditoria feita na época. Entre as compras extravagantes, havia dois carros importados e um apartamento de luxo de 500 metros quadrados para hospedar o antecessor, dom Eusébio Scheid, quando viesse ao Rio.
Quais teriam sido os motivos que levaram à escolha de dom Orani como cardeal? Alguns atribuem ao seu sucesso como organizador da Jornada Mundial da Juventude. Ele não acredita. A hipótese mais provável é o conjunto da obra. Quem acompanha sua trajetória garante que ele não passou a se comportar assim para ser escolhido cardeal. Ele foi escolhido cardeal porque sempre se comportou assim.
A exemplo do nosso santo hermano, dom Orani é agregador (a palavra mais usada para defini-lo) e tolerante, combatendo na prática a discriminação e o preconceito
* Texto publicado no Globo de hoje.
Enviado por Rádio do Moreno -
14.1.2014
|11h09m
PSICANÁLISE DA VIDA COTIDIANA
Lendo um poema de Affonso Romano de Sant’Anna: “Hino da Canalha”
CARLOS VIEIRAEm 2007, a Editora L&PM reimprimiu dois volumes da Poesia completa de Affonso Romano de Sant’Anna, baseados nos livros Poesia Possível (Ed.Rocco, 1987), O Lado Esquerdo do Meu Peito (Ed. Rocco, 1993) e Testamentos (Ed. Rocco, 1999).
Transcrevo aqui um poema curioso. Curioso, pois data de 1992 e tão atual! Vamos ao poema:
“A canalha se ajuntou de novo, a canalha!
Em torno da mesma mesa e toalha
e acanalhando-se outra vez
acanalhou-nos a todos, a canalha!
A canalha é ávida e inquieta, a canalha!
Tem a audácia do corvo e a avidez da gralha,
com bico de urubu fuça a mortalha,
a canalha não larga o osso, a canalha!
No jogo do faz-desfaz, a canalha
nos mantém no fio da navalha,
vive brincando com o fogo
e sai rindo da fornalha, a canalha!
Achincalha tudo o que toca, a canalha!
E ela nunca tarda e nunca falha,
sabe onde semeia e amealha,
mistura o trigo com a palha, a canalha!
Trabalha em silêncio, a canalha!
E pode ter cara de jovem ou grisalha.
De novo vão fazer o banquete
e nos jogar a migalha, a canalha!
A canalha não tem ética, a canalha!
Mostra seus brazões e medalhas,
guarda os cofres na muralha
e faz da história uma bandalha, a canalha!
Diante dessa canalha
não sei se é melhor falar direto
ou se a metáfora atrapalha.
Bato no meu poema ou cangalha
e denuncio à minha gente a gentalha.
Pudesse fugir, fugia
para Pasárgada, Maracangalha.
Diante dessa canalha
valha-me Deus!
e o próprio demônio valha!
O poema sempre é uma metáfora, metáfora que mostra a apreensão da realidade interna do ser humano e da realidade externa, objetiva. O que faz do poeta um gênio, é que ele é uma pessoa que tem a capacidade de apreender o invisível, o indisível, o que a pessoa comum nem sempre se dá conta.
O poema de Affonso Sant’Anna ao ser lido e relido, remete a pensar em aspectos da sociedade pós-moderna; uma sociedade moldada no egocentrismo, no uso e abuso dos seres humanos para retirar deles, proveitos pessoais. Estamos não tenho dúvida, numa sociedade de “vampirismo” cruel, que “tem a audácia do corvo, a avidez da gralha, com bico de urubu fuça a mortalha”.
A personalidade que apresenta uma parte perversa, narcísica, tem um funcionamento mental que prima pelas relações de uso e abuso das pessoas e objetos. Traz em sua maneira de se relacionar, um impulso constitucional, oral, representados por uma inveja e voracidade excessivas. São pessoas que “trabalha(m) em silêncio a canalha! E pode ter cara de jovem ou grisalha. De novo vão fazer o banquete e nos jogar a migalha, a canalha.”.
Vejo contida nesses fragmentos poéticos, a observação sobre as bases psicológicas do caráter dos corruptos, daquelas pessoas que usam de benefícios para acumulação de riqueza, deixando famintos seus semelhantes. É curioso também pensar que, quando uma pessoa vitimada pelo sequestro dos seus direitos constitucionais básicos, vêem o império que essas personalidades enriquecidas exibem, também desenvolve inveja, que às vezes pode ser transformada em comportamento antissocial, crimes, roubos e barbarismos. Um dia é da caça, outro do caçador!
Somos reféns de uma corrupção, corrupção que nos faz sentir a abstinência dos direitos humanos. Estamos a cada dia privados, e vendo serem abolidas as condições básicas de educação, saúde e justiça social. Gangues, componentes do narcotráfico, grupos de alguns no poder se beneficiando com desvios de verbas públicas, ou seja, pessoas que sugam o “leite alheio” em benefício próprio, são responsáveis por esse “assalto” permanente aos cofres públicos e bolsos dos brasileiros. O dinheiro reservado para políticas públicas é desviado para o enriquecimento de “cara jovem ou grisalha”.
O poema termina com um impasse: ficar ou fugir? Eis a questão! Talvez lutar com liderança, coisa rara atualmente.
Carlos.A.Vieira, médico, psicanalista, Membro Efetivo da Sociedade de Psicanálise de Brasília e de Recife. Membro da FEBRAPSI e da I.P.A - London
Enviado por Rádio do Moreno -
14.1.2014
|10h03m
OPINIÃO
Fim de guerra
JOSÉ CASADO
Depois de 135 anos, a Guerra do Pacífico vai acabar. Na segunda-feira, 27, um tribunal das Nações Unidas divulga a nova fronteira entre o Chile e o Peru.
O redesenho desse pedaço do mapa da América do Sul é o tema político mais relevante e sensível para 57,8 milhões de pessoas que vivem nos territórios a oeste de Brasília. Sinais de acordo são evidentes. "Espero que nunca mais tenhamos um problema de fronteira com o Peru", disse ontem o presidente chileno Sebastián Piñera, enquanto o líder peruano Ollanta Humalla reafirmava "a convicção nos nossos argumentos, sem que se deva confundir com triunfalismo".
A guerra começou em 1879. O Chile invadiu o Peru e a Bolívia. O confronto naval e terrestre durou quatro anos. Os chilenos tomaram o porto de Arica — mais tarde devolveram a cidade de Tacna ao Peru — e fecharam a saída boliviana para o mar, deixando o país sem portos.
No rastro da derrota floresceu o desejo de vingança, que balizou a política externa e militar do Peru e da Bolívia — jornais bolivianos ainda publicam editoriais semanais incitando o governo à retomada da rota perdida para o Oceano Pacífico. Foi um fator determinante na corrida armamentista chilena e peruana.
A Guerra do Pacífico chegou ao século XXI nas sombras. Prova viva é o suboficial da Força Aérea do Peru Víctor Ariza Mendoza, de 37 anos. Na pele de "Oscar", sem físico ou resquício do arquétipo James Bond, ele trabalhou anos em silêncio como espião chileno pago pelos governos socialistas de Ricardo Lagos (2000-2006) e Michele Bachelet (2006-2010) no coração do Departamento de Planos e Operações do comando aéreo peruano, em Lima. Para os chilenos, foi uma fonte valiosa, porque naquela seção transitavam informações sobre os projetos bélicos e as operações de espionagem da Aeronáutica, do Exército e da Marinha peruanos.
Com acesso ao inventário diário do material de guerra, e a detalhes do estado operacional de cada equipamento, sua localização, rotas de transporte e áreas de armazenamento, "Oscar" repassou a Santiago, por exemplo, cópias do "Plan Maldonado", para reequipamento da Força Aérea peruana com caças MIG-29, Sukhoi-25, Mirage-2000 e Airbus-37B; dados, fotografias e planos das principais bases e posições dos aviões de combate; os códigos diplomáticos da embaixada no Chile; os programas de reparo de aviões e de helicópteros, além das identidades de espiões peruanos.
Por coincidência, no período em que atuou, o Chile alavancou as compras militares. Lagos e Bachelet gastaram quase US$ 10 bilhões no bazar mundial de equipamentos bélicos. Os peruanos Alejandro Toledo (2001-2006) e Alan García (2006-2011) reponderam com a duplicação das aquisições. A Venezuela, sob Hugo Chávez, entrou no jogo, multiplicou seus gastos por cinco — e passou a financiar parte do orçamento militar da Bolívia de Evo Morales. O Brasil, por razões domésticas, se conteve no projeto de construção de um submarino nuclear.
Descoberto em 2009, "Oscar" foi condenado a 35 anos de prisão. Em janeiro do ano passado recebeu mais 15 anos, por lavagem de dinheiro (foram localizados US$ 156 mil pagos pelo Chile em suas contas bancárias nos Estados Unidos).
Os governos do Chile e do Peru anunciam um feriado informal para o dia 27, quando se prevê um novo mapa de fronteira. É o fim de uma guerra de 135 anos na América do Sul.
A Guerra do Pacífico começou há 135 anos. Chegou ao século XXI nas sombras, com espiões como 'Oscar'. Vai terminar dia 27, com o mapa da nova fronteira entre o Chile e o Peru.
*Texto publicado no Globo de hoje
Enviado por Rádio do Moreno -
13.1.2014
|9h16m
OPINIÃO
Falta de compromisso
PAULO GUEDESO maior problema não é a inflação de 0,92% em dezembro último ter sido a maior taxa mensal registrada desde 2003. Nem mesmo que a inflação de 2013 seja ainda maior que a de 2012. Pior é sabermos que isso aconteceu apesar de o governo ter reprimido os preços administrados sob seu controle; é não termos a certeza de que o Banco Central tem mesmo um compromisso com as metas anuais de inflação; é sabermos do descompromisso do Ministério da Fazenda com a mudança do regime fiscal, que permitiria taxas de juros mais baixas e menor sacrifício em termos de crescimento da produção e do emprego; é a presidente Dilma não perceber a importância da credibilidade das autoridades para que tenham sucesso na coordenação das expectativas que movimentam toda a engrenagem econômica.
O compromisso de uma equipe econômica com o cumprimento de metas fiscais e monetárias reduz dramaticamente a incerteza, alonga os horizontes de investimento, derruba as expectativas de inflação, projeta trajetórias futuras de juros reais declinantes. Cria em síntese um macroambiente favorável à aceleração do crescimento da economia. O mais importante não é se o superávit fiscal do ano passado foi bastante baixo sem a criatividade contábil ou próximo da meta graças às receitas não recorrentes de última hora. O que realmente importa são o compromisso das autoridades com as trajetórias futuras e a credibilidade dessas mesmas autoridades em cumprir tais compromissos.
Foi por isso que eu disse: "Ou a equipe econômica muda sua política ou a presidente muda sua equipe ou o país vai mudar de presidente". É tempo de mudanças. Erros acontecem, o problema é insistir nos mesmos erros. A cada indicação de que vamos prosseguir com a mesma e equivocada determinação numa política fiscal frouxa e numa política monetária hesitante, contaminamos adversamente todo o processo de formação de expectativas. Sobem a taxa de câmbio, as expectativas de inflação, as taxas de juros, os pedidos de reajustes salariais, disparando mecanismos de retroalimentação ao longo da cadeia produtiva. Aumenta a incerteza, desfalecem os "animal spirits", erguendo-se a sombra de mais inflação e menos crescimento para 2014 e 2015. Mas não creio nessa simples extrapolação. Somos uma sociedade aberta. Haverá mudanças.
O que realmente importa é a credibilidade das autoridades quanto ao cumprimento das metas fiscais e monetárias.
* Texto publicado no Globo de hoje.
Enviado por Rádio do Moreno -
10.1.2014
|9h49m
PAÍS
'O Maranhão vai muito bem’
Roseana Sarney elogia ação da polícia e diz que segurança piora porque estado está mais ricoChico de Gois
Enviado especial chico.gois@bsb.oglobo.com.br
SÃO LUÍS O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reuniu-se ontem com a governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e anunciou um plano de ações conjuntas para tentar amenizar a situação nos presídios do estado, onde foram registradas 60 mortes de detentos. Entre as medidas está a criação de um comitê de gestão, comandado por Roseana, que afirmou ter sido pega de surpresa pelas atrocidades cometidas no estado por ordem de presos. Ela atribuiu o aumento da violência nas ruas e nos presídios à situação econômica do estado. Para a governadora, isso vem ocorrendo porque o Maranhão, um dos mais pobres do país, está ficando rico.
Ao ser perguntada sobre a intenção do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de pedir a intervenção federal por conta da violência, Roseana afirmou não acreditar na hipótese e enumerou obras e ações de sua gestão.
— Eu não acredito que ele vá pedir a intervenção, porque estou cumprindo meu dever. O Maranhão está indo muito bem. Talvez seja o único estado do Brasil que vai ter todas as suas cidades interligadas por asfalto. O Maranhão está atraindo empresas e investimentos. Um dos problemas que estão piorando a segurança é que o estado está mais rico, o que aumenta o número de habitantes — discursou.
Roseana disse que em 2012 foram registradas quatro mortes no sistema penitenciário maranhense e, até setembro do ano passado, 39.
— Até setembro, estava dentro do limite que se esperava — declarou, argumentando que as mortes ocorreram apenas em uma unidade do complexo de Pedrinhas, onde duas facções disputam o domínio do tráfico e matam seus rivais, inclusive decepando cabeças.
De acordo com a governadora, sua administração investiu em novas unidades prisionais e na melhoria do atendimento ao preso.
— Nosso sistema de saúde é muito bom para os presos — afirmou, para complementar: — Nosso presídio feminino é um exemplo para todo o Brasil.
Roseana, assim como o ministro da Justiça, fez questão de lembrar que outros estados, como Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Alagoas e Rio Grande do Sul, também enfrentaram ondas de violência comandadas por detentos e que o governo federal ajudou os outros governadores. Segundo a governadora, apesar das mortes, seu governo não cometeu qualquer ato contra os direitos humanos. A ONU pede uma investigação sobre o assunto.
— Não cometemos qualquer crime de direitos humanos. Mas temos de ser mais atentos — admitiu.
Ela se irritou quando uma repórter perguntou ao ministro José Eduardo Cardozo por que a presidente Dilma Rousseff e mesmo ele ainda não tinham se manifestado sobre os problemas no estado administrado pelo clã Sarney. Cardozo disse que o governo se manifesta de forma concreta e procura ajudar estados administrados pela oposição e por políticos que apoiam o governo. Mas Roseana, exaltada, disse que não é certo falar em família.
— Não existe família. Eu sou a governadora. Quem manda aqui não é a família, sou eu. Vocês querem penalizar a família, mas eu, Roseana, sou a responsável pelo que acontece no Maranhão — afirmou, aplaudida por parte dos jornalistas locais.
As ações anunciadas pelo ministro da Justiça e pela governadora não têm impacto imediato, exceto pela transferência de presos para penitenciárias federais. Cardozo evitou, no entanto, marcar uma data ou informar quantos serão transferidos, por questões de segurança. Entre as ações estão a realização de mutirão da Defensoria Pública para ver quais presos podem deixar o cárcere, a interligação do sistema de inteligência, a criação de um núcleo de atendimento prisional, o melhoramento no atendimento à saúde, capacitação de policiais, a implantação de alternativas penais e monitoramento eletrônico.
Antes da entrevista, a governadora afirmou que, desde que assumiu o governo, em abril de 2009, depois da cassação do mandato do ex-governador Jackson Lago (PDT), reforçou o sistema de segurança pública, com reaparelhamento das polícias e investimento nos presídios. E elogiou a atuação da polícia.
— Em menos de 30 horas, prendemos os responsáveis. A Polícia do Maranhão é uma das mais eficazes na solução de crimes.
Enviado por Rádio do Moreno -
9.1.2014
|10h23m
OPINIÃO
Desafiando a sorte
VERISSIMOJá se disse da mistura e da quantidade de raças que se vê na Inglaterra, por exemplo, que são os filhos bastardos do império inglês, na metrópole para reclamar sua parte da herança
Uma pessoa que nasce pobre, num dos chiqueiros do mundo, com pouca perspectiva de sobreviver, o que dirá de melhorar de vida, tem todo o direito de pensar que a sorte (ou Deus, ou que nome tenha o responsável pela sua sina) lhe foi cruel. E de assumir sua própria biografia, já que o destino que lhe foi reservado de nascença claramente não serve. Como um dos despossuídos da Terra, só tem duas opções: resignação ou fuga. Fatalismo ou revolta. Aceitar ou rejeitar sua sina. E literalmente desafiar a sua sorte.
Assim essas cenas que se vê, de barcos precários lotados de imigrantes ilegais da África arriscando a vida para chegar à Europa, ou mexicanos sendo caçados na fronteira ao tentar entrar ilegalmente nos Estados Unidos, entre outras imagens de desumanidade e desespero, são cenas de uma tragédia recorrente e sem solução, mas uma tragédia com mais significados do que os que aparecem. Representam graficamente, didaticamente, a desigualdade entre nações pobres e ricas, que seria apenas outro fatalismo irredimível se a desigualdade não fosse deliberada, cultivada por nações ricas que muitas vezes estão na origem histórica da miséria dos pobres. E tem este outro significado, o de cada refugiado da sua sina representar um indivíduo em revolta contra o acaso que determinou que vida ele teria. São pessoas de posse da sua própria biografia, desafiando a ideia de que o destino de cada um está preordenado, na geografia ou nos astros.
A maioria dos que desafiam a sorte e conseguem chegar onde queriam continua a padecer. Transformam-se em problemas sociais no país de destino, sofrem com a hostilidade e o racismo e a falta de oportunidades. Mas o importante é que passaram pelas barreiras: a da sua origem na miséria e a barreira maior que separa o mundo rico do mundo pobre. Mesmo os que não conseguiram ser mais do que vendedores de bolsas Vuitton falsificadas na calçada, são símbolos de uma vitória. Já se disse da mistura e da quantidade de raças que se vê na Inglaterra, por exemplo, que são os filhos bastardos do império inglês, na metrópole para reclamar sua parte da herança. O normal é que imigrantes legais ou ilegais, na Europa e nos Estados Unidos, continuem deserdados. Mas pelo menos não é mais uma sina.
Já se disse da mistura e da quantidade de raças que se vê na Inglaterra, por exemplo, que são os filhos bastardos do império inglês, na metrópole para reclamar sua parte da herança.
* Texto publicado no Globo de hoje
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Histórico
2014:Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2013:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2012:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2011:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2010:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2009:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2008:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2007:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2006:
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2005:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez
2004:
Jan | Fev | Mar | Abr | Mai | Jun | Jul | Ago | Set | Out | Nov | Dez