O escândalo envolvendo a empresa Delta Construções e o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, abalou o Ceará, precisamente a região do Cariri. Há três anos, a empresa iniciou as obras de Transposição do Rio São Francisco, em Mauriti, e passou a dar ritmo as atividades comerciais e ações políticas da cidade.
Entretanto, quando o escândalo veio à tona, no início de abril passado, a construtora demitiu 80% dos operários no município e rompeu contratos com empresas terceirizadas, que saíram da cidade e deixaram um rombo no comércio local.
O prefeito Isaac Gomes (PT), nos últimos dias, tem mobilizado outros gestores municipais da região leste do Ceará para cobrar da gerência do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) informações sobre as obras do canal do São Francisco. Ele ainda buscará dados junto ao Ministério do Planejamento.
“Precisamos de respostas mais concretas para tranquilizar as pessoas”, disse.
Gomes disse ainda que, desde abril, a Prefeitura tem virado centro de peregrinação. Todos os dias, segundo ele, trabalhadores procuram a sede municipal para pedir passagem de volta a seus Estados de origem, bilhetes para São Paulo, cestas básicas e remédios. “O impacto é grande não apenas para economia, mas, especialmente, na área social”, pontuou, acrescentando não ter “otimismo” para resolver o problema das pessoas sem o retorno das obras.
CALOTE
O calote atinge farmácias, mercearias e o setor mecânico. Venda para diretores das empresas, só à vista. Na Autopeças Mauriti, o dono proibiu a entrada dos homens do consórcio. Ericon Gomes de Lima, o proprietário, diz que sofreu um calote de R$ 27,6 mil, o que o teria obrigado a demitir um dos quatro funcionários.
“Não foi uma surpresa ver a Delta envolvida nessa história na TV. Eu já tinha recebido cano no ano passado. Voltei a dar bobeira e negociar. Agora, o consórcio me deu um calote de R$ 27 mil”, relata Lima. “Todas as agregadas chegavam para comprar em nome da Delta, que se nega a nos ajudar a receber. É um absurdo porque foi a Delta que trouxe para cá esse comboio de ladrões”, diz. “Se meu funcionário rouba, eu sou o culpado.”
Antes, o mecânico João Alberto Rodrigues Silva, o Dedé do Crente, e o filho João relembram que viviam do conserto das máquinas da Prefeitura e dos fazendeiros da região. Nos últimos anos, pai e filho passaram a consertar 35 tratores por mês. A oficina São José se estendeu para a rua, para atender à nova demanda. Contudo, desde a interrupção da obra, o serviço reduziu. A oficina amarga um prejuízo de R$ 10,3 mil, segundo os donos.
João afirma que, na cidade, logo que o escândalo estourou, ninguém lamentou pela Delta. “Pela construtora, a gente não está achando ruim, não. A nossa vontade é que uma outra empresa venha tocar a obra”, ressalta.
À VISTA
Há um mês, um diretor do consórcio pediu a João e a Dedé para intermediar o aluguel de cinco casas na cidade. Pai e filho bateram nas portas dos vizinhos, mas, diferentemente de anos anteriores, os moradores só aceitaram contratos com pagamento à vista e de curta temporada. “Eu respondi para os diretores da Delta que a empresa não tem mais nome limpo e só terá aluguel com dinheiro na mão”, conta Dedé.
Com a previsão de chuvas no início deste ano, o consórcio interrompeu os trabalhos nos canteiros. A gerência da Delta em Mauriti limita-se a dizer que a paralisação ocorre pelo problema das chuvas - que não molham o sertão desde dezembro. (com informações da Agência Estado)
SAIBA MAIS
O canteiro da empresa Delta Construtora, em Mauriti, ainda não é alvo de investigação. O Ministério Público no Ceará avalia possíveis irregularidades nas obras de recuperação das BRs 020, 222 e 116, além das construções das pontes sobre os rios Jaguaribe e Cocó. Dados preliminares apontam, pelo menos, prejuízo de R$ 5 milhões apenas nas licitações das rodovias federais que cortam o Estado.
Sem dinheiro, alguns trabalhadores estão se aventurando em ônibus clandestinos rumo aos canaviais dos estados de São Paulo e Minas Gerais, que tinham diminuído desde o início das obras, em 2009.
Empresa é responsável pelas obras de mobilidade
Em Fortaleza, a empresa Delta Construções, ligada ao esquema de corrupção comandada pelo contraventor Carlinhos Cachoeira, é responsável pelas obras de mobilidade para Copa do Mundo de 2014, que somam R$ 261,5 milhões. Embora os pedidos de fiscalização de alguns parlamentares, a Prefeitura de Fortaleza, recentemente, informou ao jornal O Estado que os contratos são legais e a empresa vem cumprindo o cronograma de execução das obras.
O coordenador de projetos especiais do Município, Geraldo Accioly, explicou que não cabe à Prefeitura questionar o contrato com a empresa por conta de problemas em outros Estados. Isso, segundo ele, cabe somente aos órgãos de controle. Em outras palavras, Accioly afirmou que os casos ocorridos em outros estados não significa que haverá nas obras de Fortaleza.
Quatro contratos, pelo menos, a Prefeitura firmou com a empresa Delta para execução das obras na Capital. Apontam-se as intervenções nas avenidas Alberto
Craveiro, Dedé Brasil, Raul Barbosa e Paulino Rocha, algumas inclusive iniciadas com atraso.