Começou
a fazer água a estratégia do Planalto de esvaziar a CPI mista da
Petrobras, empurrando sua instalação para uma data próxima do início da
Copa do Mundo. Para desassossego de Dilma Rousseff, a maioria dos
partidos governistas da Câmara apressou a escolha de seus representantes
na comissão. E o quórum mínimo para a abertura da investigação
parlamentar deve ser ultrapassado até a próxima quarta-feira (14),
quando o PMDB do Senado fará suas indicações.
Composta de
deputados e senadores, a CPI mista terá 32 membros. Para que seja
instalada, exige-se a indicação de pelo menos 17 parlamentares. O PT
informou que não indicará os seus nomes. E o governo esperava que seus
aliados imitassem o gesto. Porém, pesquisa feita pela assessoria do
deputado pernambucano Mendonça Filho, líder do DEM, constatou que os
partidos da Câmara já haviam formalizado 13 indicações até a tarde desta
sexta-feira (9). No Senado, os oposicionistas PSDB e DEM também já
indicaram os ocupantes das três cadeiras a que têm direito. Com isso, a
soma foi a 16 parlamantares. Falta um.
Ouvido pelo
blog,
o senador cearense Eunício Oliveira, líder do PMDB no Senado, declarou:
“Vou cumprir o meu papel regimental. Como líder, tenho a obrigação de
indicar cinco nomes. E vou indicar na próxima semana, não tenha dúvida
disso.” Questionado sobre o desejo do governo de adiar, Eunício soou
peremptório: “Eu apoio o governo, mas não sou servo do governo.
Escolherei pessoas responsáveis, que não façam exploração eleitoral na
CPI. Mas vou indicar.”
Eunício informou, de resto, que pretende
divulgar os nomes do PMDB até quarta-feira. Com isso, a CPI mista
atingirá a marca de 21 membros, quatro além do mínimo exigido para sua
instalação. Farejando a oportunidade, a oposição se equipa para
deflagrar a investigação imediatamente. Pelo regimento, cabe ao membro
mais velho da comissão comandar a sessão inaugural, coordenando a
eleição do presidente do colegiado.
Chama-se Garibaldi Alves
(PMDB-RN) o integrante mais velho do Senado. Pai do ministro da
Previdência, Garibaldi Alves Filho, ele tem 90 anos. Mas está doente e
tirou licença médica. José Sarney (PMDB-AP), 83, não cogita integrar a
CPI. João Alberto (PMDB-MA), 79, um fiel seguidor de Sarney, era o
presidente dos sonhos do Planalto para a outra CPI da Petrobras,
exclusiva de senadores. Foi refugado pelo líder Eunício, que preferiu
confiar a presidência da CPI do Senado ao colega Vital do Rêgo
(PMDB-PB). Por exclusão, chega-se ao senador Ruben Figueiró (PSDB-MS),
82.
Líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (SP) informou
ao blog que indicou Figueiró para integrar a CPI mista como suplente.
Mas pretende exercer sua prerrogativa de convertê-lo em membro titular
se isso for essencial para iniciar os trabalhos da comissão. Ou seja:
arma-se um cenário que conspurca os planos que o Planalto urdira em
parceria com o presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros
(PMDB-AL).
O governo pretendia apressar apenas a instalação da CPI
do Senado, na qual a maioria governista é acachapante: dos 13 membros,
dez virão do condomínio pró-Dilma. O prazo para as indicações dessa
comissão expirou na semana passada. A oposição, que já havia levado seus
nomes à mesa, retirou-os para se concentrar na CPI mista. Como prevê o
regimento, Renan fará as escolhas até quarta-feira, à revelia dos
líderes oposicionistas.
O problema é que, ao privilegiar a CPI só
de senadores, o governo deixou abespinhados os seus aliados da Câmara,
que resolveram pisar no acelerador, tornando irreversível também a
instalação da CPI mista, que os inclui. Todas as legendas governistas da
Câmara fizeram suas indicações, exceto duas: PT e Pros. Confirmando os
temores do Planalto, a lista dos nomes já remetidos à Mesa diretora do
Congresso inclui uma série de traições esperando para acontecer.
Por
exemplo: dono de dois assentos na CPI mista, o PMDB da Câmara será
representado na comissão pelo líder Eduardo Cunha (RJ), um desafeto de
Dilma, e pelo deputado Sandro Mabel (GO), um governista de resultados.
Entre os suplentes, o PMDB incluiu Lúcio Vieira Lima (BA), irmão de
Geddel Vieira Lima, que vai às urnas de 2014 como candidato ao Senado na
coligação demo-tucana encabeçada por Paulo Souto (DEM), que fornecerá
palanque ao presidenciável Aécio Neves na Bahia.
Outro exemplo:
responsável pela escolha de um membro da CPI mista, o líder do PR,
deputado Bernardo Vasconcellos (MG), se autonomeou. Como se recorda,
Vasconcelos é aquele parlamentar que pendurou um retrato de Lula na
parede do seu gabinete antes de informar à imprensa que sua bancada
decidira aderir ao movimento que pede a substituição da candidatura
presidencial de Dilma pela de Lula.
Tantas evidências confirmam os
receios do governo. Instala a CPI mista, não são negligenciáveis as
chances de deputados supostamente governistas se juntarem aos colegas da
oposição para compor maiorias eventuais capazes de arrancar a
investigação da Petrobras do cercadinho em que o Planalto tenta
acomodá-la.