Nem sempre a mentira tem pernas curtas

Mentir é preciso, pois nem sempre as pessoas querem ouvir a verdade

Catarina Arimatéia
Do UOL, em São Paulo
  • Getty Images
    Há diferentes tipos de mentira, entre elas, as inocentes, que todos contamos no dia a dia Há diferentes tipos de mentira, entre elas, as inocentes, que todos contamos no dia a dia
Mesmo o mais sincero dos mortais se depara com situações do dia a dia que põem à prova sua honestidade. Por exemplo, depois de uma longa e sofrida dieta, a amiga perdeu menos de dois quilos, mas faz questão de perguntar: "Você acha que já emagreci o suficiente?". Ou, então, a colega de trabalho adota um corte de cabelo que não combina nem um pouco com ela, mas insiste em ter a aprovação de todos: "Ficou mais bonito"?

As mentirinhas leves não prejudicam as pessoas e são uma maneira delicada  (ou pelo menos educada) de lidar com perguntas constrangedoras. Mas será que é mesmo preciso mentir, dependendo das circunstâncias? Para a psicóloga Izete Ricelli, mestre pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo),  todos nós mentimos de alguma forma em determinados momentos. "E aceitar esse fato não significa que somos moral ou eticamente incorretos. Apenas temos de diferenciar a mentira social, demagógica –aquela que evita conflitos e ofensas– das mentiras nocivas e patológicas", diz ela.

As mentiras inofensivas são utilizadas por todas as pessoas no dia a dia, segundo a psicóloga, e sempre com a finalidade de melhorar os relacionamentos. "Além de não prejudicarem ninguém, ainda ajudam na integração social. Funcionam como as 'desculpas esfarrapadas', aquelas que damos a alguém e a pessoa finge que acreditou, sem maiores consequências", acrescenta.

No trabalho, não é diferente. O coach Alexandre Prates, especialista em liderança, desenvolvimento humano e performance organizacional, é enfático em dizer que "sim, mentir é preciso". De acordo com ele, as pessoas não suportam a verdade nua e crua. E se alguém lhe perguntar "você acha que essa roupa me engordou?", sinceramente ela não quer ouvir "engordou muito, ficou horrível". Por mais que alguém esteja pensando justamente isso, terá de encontrar uma forma mais sutil de falar.

"Se você disser sempre a verdade, sem levar em consideração os sentimentos alheios, afastará muitas pessoas de seu convívio. Precisamos ter esse cuidado inclusive no trabalho. Um colega lhe apresenta um relatório que exigiu grande esforço e dedicação e o submete à sua avaliação. Nesse momento, todo cuidado é pouco para não ofender e gerar um grande desconforto. No caso, a mentira serve para amenizar e possibilitar uma conversa agradável, pois fazer uma crítica pesada cria bloqueios", afirma o especialista, também autor do livro "A Reinvenção do Profissional – Tendências Comportamentais do Profissional do Futuro" (Novo Século).

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Políticos, esportistas, celebridades e anônimos volta e meia soltam alguma inverdade pelos mais diversos motivos.

Portanto, mentiras são necessárias. Desde que não prejudiquem ninguém. E aí entra outro aspecto: enganar também não seria uma maneira de prejudicar o outro? "Sim. Você pode mentir por não expressar sua opinião como gostaria, mas enganar não é preciso. Dizer 'essa roupa ficou ótima', sendo que está péssima, é enganar. Mas falar 'essa blusa marcou um pouco, acredito que outra opção ficaria melhor' pode não ser exatamente a opinião que você gostaria de externar, mas é melhor do que falar 'ficou horrível'. Uma opinião verdadeira, mas desnecessária", fala o especialista.
Mas mentir para poupar alguém a quem amamos nem sempre é a melhor opção. A psicóloga Izete Ricelli cita o caso de pais de crianças adotivas que, para poupá-las, evitam contar que não são os pais verdadeiros. "Isso traz grave consequência ao desenvolvimento do filho adotivo, às vezes com danos irreversíveis. Entretanto, se a sua melhor amiga pergunta se você viu o ex-namorado dela com outra em uma festa e você diz que não para poupá-la, não é nada tão grave... ela sempre poderá descobrir sozinha ou então deixar de se preocupar com o 'ex'", comenta Izete.

Mentiras e mentiras

Há pessoas que tendem a mentir nas mais variadas circunstâncias, mesmo as mais triviais, nas quais falar a verdade não magoaria ninguém. Nesse caso, essas pequenas mentiras não estão incluídas entre as mentirinhas inofensivas.
"Há diversos tipos de mentiras e mentirosos", diz a psicóloga Marina Vasconcellos, psicodramatista e terapeuta familiar e de casal. "Há aquelas com o claro objetivo de provocar intrigas e discórdias, por inveja ou ciúme. E existem também pessoas que têm a necessidade de criar uma fantasia, uma imagem falsa sobre elas mesmas. O mitômano, por exemplo, acredita na mentira que diz. É uma doença. O psicopata também mente muito, mas com a intenção de manipular o outro. E há quem minta por medo, por sentir insegurança ou não saber como reagir diante de uma determinada situação", fala a psicóloga.
Seja na vida pessoal ou no trabalho, se as pessoas jamais mentissem, isso poderia causar mais confusões do que bem-estar. Para Alexandre Prates, "Existem pessoas que se orgulham por ser extremamente sinceras, o que é louvável. Mas, certamente, elas deixaram bons relacionamentos para trás", fala o coach.

Comunicado

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Turismo em alta

Aldo Rebelo festeja lucros com turistas estrangeiros na Copa
Gastos já chegaram a US$ 365 milhões, 24% mais que no mesmo período de 2013

Aldo Rebelo Jerome Valcke
Aldo comemorou o resultado que computa menos de uma semana de Copa
Os turistas estrangeiros que vieram ao País este ano já gastaram US$ 365 milhões até o dia 18 de junho, um número 24% superior ao registrado no mesmo período do ano passado. Ao mesmo tempo, os gastos de brasileiros no exterior caíram 11%. Os números foram anunciados pelo ministro do Esporte, Aldo Rebelo, na manhã desta sexta-feira, um dia depois do término da primeira fase da Copa do Mundo.
“A Copa gerou para o Brasil um duplo efeito benéfico: aumentou os gastos de estrangeiros e diminuiu nossos gastos no exterior,o que ajuda a equilibrar as contas públicas”, afirmou Rebelo.
O incremento na receita, de acordo com o ministro, está diretamente relacionado à Copa do Mundo, definida pelo ministro como “um sucesso”, dada a cooperação entre as três esferas de Governo. Ainda segundo Rebelo, o Mundial foi responsável pela criação de quase um milhão de empregos diretos e indiretos.
Ainda segundo Rebelo, até o momento os governos federal, estadual e as prefeituras das cidades-sede já realizaram 185 reuniões operacionais, que envolveram 29 órgãos do governo federal e 90 de prefeituras e governos estaduais. Ao todo, 2.200 gestores atuaram no planejamento da Copa. (Jamil Chade e Marcio Dolzan/Estadão Conteúdo)

Chantagem

Os chantagistas, são ladrões ou picaretas?

A Copa serve, tambem, pra isso aí...

A Polícia Federal (PF) prendeu ontem (26) o argentino David Julio Ricardo Gil (48) em sua casa na ilha de Itaparica, Bahia. Gil é procurado pela Interpol por ser suspeito de tráfico internacional de drogas e estava foragido da polícia argentina desde 2010, quando as autoridade encontraram um laboratório de refino de drogas em sua casa, na província de Córdoba.
A prisão de Gil se deu por meio de um mandado de prisão preventiva para extradição e foi informada ao Consulado Argentino em Salvador, mas os policiais não encontraram nenhum entorpecente ou dinheiro durante a ação. O argentino foi encaminhado para a Superintendência da PF na capital baiana e vai aguardar a decisão da Justiça.
A prisão foi uma operação coordenada pelo Centro de Cooperação Policial Internacional, em Brasília, que reúne mais de 200 policiais de diversas partes do mundo para a segurança na Copa 2014, com apoio da Superintendência Regional da Bahia, na parte operacional. O argentino foi preso depois do pedido de extradição do governo da Argentina e do rápido cumprimento do mandado de prisão cautelar, expedido pelo Supremo Tribunal Federal.  O preso aguardará o julgamento definitivo pelo STF do pedido de extradição argentino. Com informações da Comunicação Social da Polícia Federal no Distrito Federal.

São tantas emoções...

Ligação emocional de torcedores brasileiros com a Copa do Mundo
Pesquisa revela que otimismo dos torcedores está em alta e 82% creem no hexa

Fifa ingressos
A TNS Brasil apresentou os resultados da segunda etapa da pesquisa “Brasil além da bola” que leva em consideração a ligação emocional entre os torcedores e a Seleção, além de outras equipes presentes na Copa do Mundo do Brasil 2014.
De acordo com os resultados, 82% dos brasileiros acreditam que a Seleção vai ganhar a competição e se sagrar hexacampeã. Além disso, 62% disseram que não irão virar a casaca e torcer para outra equipe no caso de eliminação do Brasil. Com 13% de descendentes de portugueses, 11% de italianos, 6% de espanhóis e 5% de alemães, o otimismo deve ser ainda maior agora que apenas os alemães garantiram classificação para as oitavas de final.
O levantamento revela também como os brasileiros percebem as seleções:
Brasil: está posicionado no segmento emocionante e amigável. De acordo com os entrevistados, a personalidade da equipe é animada, divertida amorosa, apaixonada e intensa. Eles consideram a seleção “verde e amarela” como uma equipe que joga de maneira criativa, que tem jogadores de alta qualidade, tem torcedores que apoiam o time e um técnico bem preparado.
México: os brasileiros consideram os mexicanos um povo sociável e popular, mas também sentimental e protetor. Acreditam que, assim como o Brasil, possui jogadores de alta qualidade, mas acham que os mexicanos se diferenciam por ter um time bem integrado, com jogadores jovens e descontraídos.
França: é percebida pelos brasileiros como mais focada e disciplinada com jogadores respeitados, admirados, dedicadas e fiéis. A seleção francesa em geral é descrita como integrada e potente em campo.
Alemanha: é vista pelos brasileiros como inteligentes, analíticos e respeitados, focados e sérios. A seleção é percebida como integrado, forte defesa e com o melhor formato.

Sabe de nada, inocente

Albert Camus ficaria orgulhoso da seleção da Argélia

 
 
 Pedro Zambarda 
 
Camus
Camus
 
“O que finalmente eu mais sei sobre a moral e as obrigações do homem eu devo ao futebol”, dizia Camus. Argelino de Mondovi, atual Dréan, o menino franzino sempre gostou de bola e era goleiro. Escritor, dramaturgo e jornalista, Albert Camus certamente teria orgulho de assistir a Copa do Mundo 2014 no Brasil. Por quais motivos? Pela classificação inédita da seleção da Argélia nas oitavas de final — e pelo protesto do craque Karim Benzema ao não cantar o hino da França por ter raízes muçulmanas e argelinas, assim como Zinédine Zidane.

Albert Camus era o que os franceses chamavam de “pied-noir”, um “pé preto”. Essa expressão significava que ele era um filho de europeus que viviam na colônia francesa da Argélia. Pobre, e cercado pela cultura dos árabes mesclada à dos brancos, se dedicou cedo aos estudos, obtendo um diploma de filosofia em Argel. O ensino universitário e a militância comunista foram seus passaportes para o jornalismo.

Como tinha tuberculose, nunca conseguiu levar a sério sua paixão pelo futebol, jogando apenas como lazer.

Na imprensa, conheceu e se tornou amigo do francês Jean-Paul Sartre. Com a ajuda do filósofo existencialista, passou a viver em Paris durante a Segunda Guerra Mundial, fazendo jornalismo engajado contra a Alemanha nazista.

Albert Camus publicou o romance “O Estrangeiro”, em 1942, falando sobre o absurdo, pensamento de que seres humanos cometem atos imperdoáveis quando estão na liberdade absoluta, desligados da história e de um passado ou de um futuro. Levou suas teses para explicar a Segunda Guerra Mundial e as bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki.

O sucesso literário lhe rendeu um Nobel de Literatura em 1957 e desentendimentos filosóficos e ideológicos com Sartre nos jornais. Embora quem não conheça profundamente sua obra o considere um filósofo existencialista, Albert Camus dizia que não era um pensador, mas apenas um escritor da sua realidade de país pobre e, depois, sobre a França. Segundo ele, Jean-Paul Sartre era sim um filósofo por suas teorias originais sobre o ser. Mesmo dando créditos ao amigo, brigou quando Sartre apoiou a Revolução Chinesa, o stalinismo e Cuba.

Durante a Guerra de Independência da Argélia, Albert Camus não tomou partido da esquerda armada e das milícias que queriam a independência. Suas convicções pessoais, mais pacifistas, ficaram abaladas com os assassinatos sistemáticos de franceses e argelinos em sua terra natal. Foi criticado, duramente, por sua falta de ação na época. Os argelinos, embora tenham um Nobel na literatura, não reconhecem Camus por isso.

No entanto, foi venerado justamente por suas posturas originais dentro do pensamento de esquerda, sempre condenando as guerras e a violência promovidas pelo capitalismo, sobretudo na Alemanha nazista. Camus se transformou em um dos maiores nomes da intelectualidade do século 20, ao lado de seu ex-amigo Sartre. Morreu tragicamente em um acidente de carro em Villeblevin, perto de Paris, em 1960. Tinha 46 anos e optou pelo automóvel ao invés de tomar um trem. Uma decisão fatal.

Em 1949, Albert Camus viajou ao Brasil. Passou por Recife, pelo Rio de Janeiro e conheceu Manuel Bandeira, Otto Lara Resende, Otto Maria Carpeaux e Érico Veríssimo. Deu entrevista a Claudio Abramo no Estado de S. Paulo.

Registrou suas impressões em uma coletânea que foi lançada no Brasil com o nome “Diário de Viagem”. O que ele achou de nosso país? “O Brasil com sua fina armadura moderna, uma chapa metálica sobre esse imenso continente fervilhante de forças naturais e primitivas”.

As forças naturais e primitivas estão agora trabalhando pela seleção da Argélia.