O ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho afirmou em seu
acordo de delação premiada
que a construtora pagou R$ 7 milhões a parlamentares de destaque no
Senado e na Câmara para garantir a aprovação de uma medida provisória de
interesse da companhia no Congresso.
Os recursos, segundo o executivo, foram destinados aos senadores Romero
Jucá (PMDB-RR), Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, Eunício
Oliveira (PMDB-CE), favorito para suceder Renan na presidência da Casa
em 2017, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, e Lúcio Vieira
Lima (PMDB-BA).
De acordo com delator, Jucá, Renan e Eunício formam o que ele classifica
de "grupo dominante do PMDB no Senado". "Esse fato dá a esse núcleo
grande poder de barganha, pois possui a capacidade de praticamente ditar
os rumos que algumas matérias serão conduzidas dentro do Senado",
afirmou Melo Filho.
Diversos pagamentos feitos a Jucá, segundo Melo, tinham relação com
assuntos de interesse da companhia no Congresso. Ele definiu Jucá como
"Resolvedor da República no Congresso", a quem recorria constantemente
para conseguir emendas e aprovações de leis e projetos.
Um dos episódios diz respeito à Medida Provisória 613/2013, que culminou
no projeto de lei de conversão 20/2013 e permitiu a concessão de
incentivos tributários aos produtores de etanol e à indústria química
por meio de crédito presumido e da redução das alíquotas do PIS/Pasep e
da Cofins. O principal resultado da medida provisória foi fazer com que a
Odebrecht conseguisse economizar mais em impostos.
Em abril daquele ano, Melo, que vivia em Brasília, disse ter sido
procurado por uma pessoa da Odebrecht para que atuasse com "objetivo de
garantir a aprovação do texto vindo do Executivo".
Nesse momento, disse o delator, "solicitou apoio financeiro atrelado à
aprovação do texto que interessava à companhia". "No meu entendimento,
através de, também estava sendo remunerado para atender aos interesses
da companhia", afirmou.
Foi fechado um acordo de R$ 7 milhões em torno da MP. Nesse acerto,
sempre segundo o delator, R$ 2,1 milhões foram para Eunício e R$ 4
milhões para Jucá e Renan.
A parte destinada a Eunício, apelidado de "índio" pela empreiteira, foi
recebida por um homem identificado como "Ricardo Augusto", um "preposto
do senador", segundo o delator. O senador tem um sobrinho com este nome e
que administrava empresas de terceirização da qual o peemedebista foi
sócio no passado.
Ricardo, diz o relato do ex-diretor, foi ao escritório da Odebrecht para
entregar "a senha e o local onde os pagamentos seriam realizados". O
valor foi pago em duas parcelas, uma em Brasília e outra em São Paulo,
nos dias 24 de outubro de 2013 e 27 de janeiro de 2014.
Para receber sua parte, Jucá indicou Milton Lira, um empresário que já é
investigado pela PGR e pela Polícia Federal em outros inquéritos, em
desdobramentos da Operação Lava Jato.
Segundo o delator, Jucá, hoje líder do governo de Michel Temer no
Congresso, pode ser considerado o "homem de frente" nas tratativas
diretas com agentes particulares.
O ex-diretor da Odebrecht diz que, nos últimos anos, repassou mais de R$ 22 milhões para Jucá redistribuir dentro do PMDB.
Melo disse que diretamente Renan não recebeu valores, mas ressaltou que
"sempre viu" em Jucá "a presença intrínseca da figura do senador Renan".
"Isso significa que eu sabia que os pleitos que eu levava ao senador
Jucá também seriam transmitidos ao senador Renan e por ele defendidos",
disse Melo.
Quando da tramitação de outra MP, a de número 677/15, o delator disse
que ouviu pessoalmente de Renan um pedido de financiamento para a
campanha eleitoral de seu filho ao governo de Alagoas. O delator
entendeu que a ajuda eleitoral estava vinculada ao sucesso da MP.
"Em todas essas ocasiões que envolveram a atuação de em defesa de
pleitos da empresa, o senador também atuou no mesmo sentido", disse
Melo.
No caso da MP 613, além dos três senadores do PMDB, disse o delator,
dois deputados "solicitaram pagamentos decorrentes do mesmo contexto". O
deputado Lúcio Vieira Lima, irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima,
que atuava na Comissão Mista que analisou a matéria em agosto de 2013.
Lúcio Lima recebeu "entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão", segundo o
delator. O segundo deputado beneficiado foi o atual presidente da
Câmara, (DEM-RJ), com R$ 100 mil.
"Durante a fase final da aprovação da MP 613, o deputado, a quem eu pedi
apoio para acompanhar a tramitação, aproveitou a oportunidade e alegou
que ainda havia pendências da campanha de prefeito do Rio em 2012". O
valor "foi pago no início de outubro de 2013", disse.
O delator disse que mais pagamentos foram vinculados à tramitação de
outras MPs, como a de número 627/2013, que tratava de mudanças no regime
de tributação do lucro auferido no exterior. Entre abril e junho de
2014, Melo disse ter recebido "pedido do senador Jucá de pagamento em
contrapartida à conversão em lei da MP 627".
"Sei que o pagamento foi no valor R$ 5 milhões, na forma determinada
pelo setor de operações estruturadas [da Odebrecht]", disse Melo, em
referência a um setor da Odebrecht definido pelos investigadores da Lava
Jato como um departamento específico para pagamento de propinas.
OUTRO LADO
A assessoria do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse
que o senador jamais credenciou, autorizou ou consentiu que "terceiros
falassem em seu nome".
"Reitera ainda que a chance de se encontrar irregularidades em suas contas pessoais ou eleitorais é zero."
Em nota, a assessoria do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ),
afirma que todas as doações eleitorais recebidas foram legais e
devidamente declaradas ao TSE. "O deputado nega com veemência a acusação
de ter participado de qualquer tipo de negociação com a Odebrecht para
aprovação de medida provisória ou de outra proposta legislativa. Ele
afirma que as declarações veiculadas pela imprensa são absurdas e que
nunca recebeu nenhuma vantagem indevida para votar qualquer matéria."
O senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse desconhecer a delação e nega ter
recebido recursos para o PMDB. Jucá também diz que todos os recursos da
empresa ao partido foram legais e que ele, na condição de líder do
governo, sempre tratou com várias empresas, mas em relação à articulação
de projetos que tramitavam na Casa.
Em nota, o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE) disse que "nunca autorizou
o uso de seu nome por terceiros e jamais recebeu recursos para a
aprovação de projetos ou apresentação de emendas legislativas". "A
contribuição da Odebrecht, como as demais, fora recebidas e
contabilizadas de acordo com a lei. E as contas aprovadas."
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POLÍTICOS NA MIRA DA ODEBRECHT
Alguns dos citados em delação premiada de Cláudio Melo Filho, ex-executivo da empreiteira
- MICHEL TEMER Ex-executivo disse que parte de valor prometido
ao PMDB em 2014 foi entregue em dinheiro no escritório de José Yunes,
amigo do presidente
- RENAN CALHEIROS (PMDB-AL) O presidente do Senado recebeu o apelido de 'Justiça' na lista de codinomes da empreiteira
- RODRIGO MAIA (DEM-RJ) Presidente da Câmara dos Deputados teria recebido R$ 100 mil; seu codinome era 'Botafogo'
- ELISEU PADILHA (PMDB-RS) O ministro-chefe da Casa Civil de Michel Temer seria o 'Primo' na lista da empreiteira baiana
- MOREIRA FRANCO (PMDB-RJ) Secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, seria o 'Angorá' das planilhas
- ROMERO JUCÁ (PMDB-RR) Senador e ex-ministro, seria o 'Caju'
- EUNÍCIO OLIVEIRA (PMDB-CE) Senador, apelidado de 'Índio'
- GEDDEL VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Ex-ministro da Secretaria de Governo, apelidado de 'Babel'
- EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ) Ex-presidente da Câmara e ex-deputado, seria 'Caranguejo'
- JAQUES WAGNER (PT-BA) Ex-ministro-chefe da Casa Civil de Dilma, seria o 'Polo'*
- DELCÍDIO DO AMARAL (ex-PT-MS) O ex-senador aparecia nas planilhas como 'Ferrari'
- INALDO LEITÃO (PB) Ex-deputado, o 'Todo Feio' teria recebido R$ 100 mil
- AGRIPINO MAIA (DEM-RN) Empresa teria destinado ao senador R$ 1 milhão
- DUARTE NOGUEIRA (PSDB-SP) 'Corredor' aparece como beneficiário de R$ 350 mil
- LÚCIO VIEIRA LIMA (PMDB-BA) Deputado, seria o 'Bitelo'
- FRANCISCO DORNELLES (PP-RJ) Vice-governador do Rio, seria o 'Velhinho' nas planilhas
- ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB) Prefeito de Manaus teria recebido R$ 300 mil
- CIRO NOGUEIRA (PP-PI) Senador seria o 'Cerrado'
- HERÁCLITO FORTES (PSB-PI) Deputado, seria o 'Boca Mole' e teria recebido R$ 200 mil
- GIM ARGELLO (DF) Ex-senador é o 'Campari'; teria faturado R$ 1,5 mi
- PAES LANDIM (PTB-PI) Deputado, seria o 'Decrépito', teria levado R$ 100 mil
- ANDERSON DORNELLES Ex-braço direito de Dilma, seria o 'Las Vegas'
- LÍDICE DA MATA (PSB-BA) Senadora, seria a 'Feia'; teria recebido R$ 200 mil
- JOSÉ CARLOS ALELUIA (DEM-BA) Deputado teria recebido R$ 300 mil e seria o 'Missa'