“A tendência dele é renunciar”, diz Ciro sobre Jair Bolsonaro
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) avalia que o presidente Jair Bolsonaro
não irá concluir o mandato no comando do País. “Quando ele sentir o
‘fogão vindo no rabo’, a tendência dele é renunciar que nem o Jânio
Quadros”, disparou o pedetista que, ficou em terceiro lugar na disputa
presidencial de 2018.
Para Ciro, a escolha por Bolsonaro foi resultado de um sentimento
anti-PT. “Com todo respeito ao eleitorado, foi uma histeria coletiva. O
antipetismo foi tão violento que as pessoas fecharam os olhos. Tirando
as caricaturas, como Cabo Daciolo, a maioria do povo brasileiro escolheu
o pior candidato. É o menos preparado, menos treinado, mais analfabeto,
reacionário, grosseiro”, ressaltou. As declarações foram feitas, ontem,
durante entrevista à rádio Tribuna BandNews FM.
Em novembro de 2014, em entrevista à editora de política do jornal O
Estado, Ciro previu que o então “poderoso” deputado federal Eduardo
Cunha (PMDB) seria preso e que a então presidente Dilma Rousseff (PT)
não terminaria o mandato. A petista foi retirada do cargo, através de
impeachment, em 31 de agosto de 2016. Já Cunha foi preso em outubro do
mesmo ano.
Ontem, durante entrevista, Ciro voltou a atacar o vice-presidente
Hamilton Mourão. “Ele é tão pouco respeitável que está flagrante e
precocemente escalando o golpe contra o Bolsonaro”, afirmou. “Ele está
vendo a deterioração acelerada do Governo Bolsonaro e está querendo se
legitimar como alternativa. Há 50 dias, isso é falta de lealdade”,
acrescentou.
Previdência
Ciro Gomes também falou sobre a proposta de Bolsonaro para a reforma da
Previdência em tramitação na Câmara dos Deputados. O pedetista criticou a
manutenção de “privilégios” e dos “grandes salários”; a falta de
alteração na previdência de militares; e a não consideração das
diferenças entre regiões e profissões.
Para Ciro, o Governo enviou uma “proposta selvagem” para ter margem
para negociar. “Os militares, Exército, Marinha e Aeronáutica, são uma
atividade peculiar, mas, ainda que seja diferente, a previdência social
dos militares arrecada 3 bilhões de reais por ano e gasta 47 bilhões.
Tem 44 bilhões de reais de buraco, esse é o maior buraco da previdência
social”, criticou Ciro.
Ciro Gomes também ressaltou que o atual ministro da Fazenda, Paulo
Guedes, chegou a chamar seu principal assessor econômico, o deputado
federal e economista Mauro Filho, para conhecer detalhes da proposta
traçada durante a campanha presidencial do ano passado. No entanto,
segundo reclama Ciro, nenhuma medida foi absorvida. “Como eu vou pedir
para cortar a pensão ou o benefício de prestação continuada de um pobre,
idoso, doente, de um salário mínimo para 400 reais, deixando de mexer
nesses privilégios? O povo não entende isso e tem razão de não
entender”, ressaltou Ciro.
Ele ainda criticou o governo por divulgar informações “erradas” sobre
o rombo na previdência. “(A dívida) agora está grande porque o Governo,
que tem problemas em outras áreas, principalmente no excesso de dívida
pública, inventou o DRU, uma lei que desvincula as receitas da união.
Dessa montanha de dinheiro criada por lei para financiar a previdência,
estão ‘capando’ 1/3 e jogando no buraco sem fundo da DRU para pagar a
dívida pública”, acusa Ciro.
Polêmica
Ciro também disse que espera o governo completar 100 dias para entregar
ao ministro da Justiça, Sérgio Moro, um pedido de providências para
esclarecer o envolvimento do presidente Jair Bolsonaro(PSL) e da
primeira-dama Michele Bolsonaro em operações financeiras suspeitas do
ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (PSL), Fabrício Queiroz.
O pedetista criticou o ministro por “estar calado” e cobrou uma outra
postura de Moro, a quem se referiu como “chibata moral da nação”, sob
pena de prevaricação.
Sobre o assunto, Ciro também fez críticas a Bolsonaro e ao vice,
General Mourão. “Estão flagrantemente tentando abafar (o caso Queiroz),
aproveitando um ciclo errado da grande mídia que não consegue sustentar
criticamente um assunto relevante. Brumadinho aconteceu em um momento
grave, em que você tinha o filho do presidente da República indiciado –
ou pelo menos claramente envolvido – com milícias e com apropriação
indébita de dinheiro e fortuna acima das suas posses”, disse Ciro.
O ex-assessor e ex-motorista do senador Flávio Bolsonaro (PSL),
Fabrício Queiroz, movimentou R$ 1,2 milhão em sua conta de maneira
considerada “atípica”, segundo relatório do Conselho de Atividades
Financeiras (Coaf).
O assunto chegou ao Ministério Público do Rio de Janeiro que abriu
procedimento para apurar o caso. As investigações, no entanto, foram
suspensas por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido do
filho do presidente da República.
“Cadê a TED desse empréstimo? Cadê o contrato? Cadê o DOC da
transferência? Cadê o cheque? Qual é a origem do dinheiro para emprestar
50 mil reais para um homem que ganha 20 mil por mês. É um assunto que
envolve um presidente da República que estabeleceu a decência, o
moralismo, o enfrentamento à ladroeira como sua razão de ser eleito”,
ressaltou Ciro na entrevista.
E ainda
Durante a entrevista, Ciro elogiou o avanço do Governo do Ceará sobre as
facções criminosas, falou sobre a divisão de presidiários por facção
durante a gestão de seu irmão Cid Gomes (PDT), disse que vai recorrer da
decisão judicial a favor do vereador paulista Fernando Holiday, a quem
chamou “capitãozinho do mato”, e tratou sobre seu futuro político.