Projeto otimiza percursos dos carros-pipa
Não são boas as lembranças de escandalos sobre carros-pipa no Ceará.
Um projeto desenvolvido pela Universidade de Brasília (UnB), a ser
implementado no Ceará nas próximas semanas, deverá gerar uma diminuição
de cerca de 6% nos custos de distribuição de água no Estado na Operação
Carro-Pipa. A redução será conseguida através de otimização no
deslocamento dos caminhões, através de software desenvolvido pela
universidade.
A operação dos carros-pipa, executada pelo governo federal através do
Exército, chegou a custar R$ 1 bilhão no ano de 2017, segundo
informações do Ministério da Defesa e da Agência Nacional de Águas
(ANA). Em 2016, o valor do repasse à execução da operação no Ceará foi
de R$ 21,5 milhões. Segundo os desenvolvedores do projeto, a expectativa
é de que esse valor possa ser subtraído em cerca de R$ 1,4 milhões.
O Projeto de Redução de Custos para Gerenciamento dos Carros-Pipa no
Nordeste Brasileiro é coordenado pelo professor Reinaldo Crispiniano
Garcia, do Departamento de Engenharia de Produção da UnB. Segundo ele, a
otimização é atingida ao calcular as rotas dos caminhões do modo que
seja percorrida a menor distância possível.
“Vamos supor que no dia-a-dia você tem que ir à padaria, à
lavanderia, e você já faz seu caminho mais curto, que demora menos
tempo. Agora, por exemplo, no Ceará, temos em torno de 4.600 lugares
necessitando de água, aí coloca, digamos, algo em torno de 200 pontos
que podem entregar água para esses lugares, aí realmente fica difícil
dizer de cabeça, pela intuição, quem tem que entregar para quem para
minimizar a quilometragem rodada, é quase impossível”, explica. “O
grande problema é que os custos não eram otimizados, tudo era resolvido
pela experiência e intuição das pessoas, sem aplicar ferramentas
computacionais de otimização, acarretando maiores custos logísticos”,
continua.
Assim, o programa leva em consideração diferentes variáveis para
calcular os percursos. Após cruzar as informações sobre as distâncias
entre as localidades e os pontos de abastecimento, além de considerar o
número de pipeiros e de caminhões disponíveis, o programa gera um mapa
com os deslocamentos ideais para os caminhões-pipa de forma que se
diminua a distância de distribuição e determine a logística mais
adequada. A ideia é que o software seja implantado em todo o Nordeste.
Além de começar a ser implantado no Ceará em breve, o projeto já é
executado no Piauí e na Bahia.
Segundo o coordenador, apesar da proximidade atestada para o início
da execução no Estado, ainda não há data definida. “Está sendo
discutido. Ainda tem que discutir com o Ministério, tem que discutir com
o quartel general responsável pelo Nordeste, os quartéis que
implementam esse tipo de solução, tem toda uma cadeia”, adianta.
O projeto está sendo desenvolvido desde junho de 2018, quando começou
a ser trabalhado o algoritmo usado para aplicar o software. “Não é uma
coisa muito simples, porque tem que entender que, fazendo escala para o
Nordeste inteiro, são 10 mil PAs (Prefeituras Administrativas)
precisando de água e 400 lugares para entregar. Não pode resolver em
três semanas”, explica.
Dificuldades
Um dos obstáculos que ainda precisa ser superado para que o projeto seja
implantado é a dificuldade em reunir todas as informações das cidades,
especialmente aquelas às quais o acesso é mais difícil. Muitas se
localizam nas fronteiras entre os estados, e algumas pequenas fazendas
ou localidades estão onde não existem estradas.
Outro desafio descrito por Reinaldo é o fato de motoristas dos
caminhões-pipa ganharem por quilômetro rodado, o que implica em gastos
com manutenção. Alguns acabam desistindo do trabalho, pois alegam que o
valor ganho pelas viagens é menor que os gastos com o veículo, já que
muitos trechos, mesmo que pequenos, possuem estradas ruins e
inacessíveis. Com a otimização, os ganhos deles deverão ser ainda
menores.
Ele acredita, no entanto, que esse problema não deverá ser impeditivo
para a execução do projeto. “No futuro, havendo algum problema, seria o
caso de botar no algoritmo mesmo alguma coisa assim: ‘fazer essas
entregas, no melhor percurso viável, e com o caminhoneiro ganhando no
mínimo tanto’, mas aí já é mais complicado. O que nós achamos é que não
haverá esse problema”, conta.